O descrédito das nossas "suaves" instituições.
Este caso Wikileaks pôs a nu o descrédito total das nossas "suaves" instituições. É absolutamente patético assistir a justificações disparatadas e a reacções inconsequentes perante notícias com esta gravidade.
O nosso "suave" Governo, que já vai na enésima versão sobre a história dos voos da CIA, pretende agora centrar toda a sua justificação no facto de o telegrama falar em voos "de" Guantanamo e não "para" Guantanamo. Parece que, quando está em causa a colocação de prisioneiros sem culpa formada numa prisão "off-shore", faz toda a diferença se o voo é de ida ou de volta, especialmente quando ainda ninguém esclareceu o destino dos prisioneiros. E tudo se resolve porque não houve "pedido formal", dizendo o Governo que não sabe se os referidos aviões sobrevoaram Portugal. Parece, portanto, que o espaço aéreo português não é objecto de controlo algum e é todos os dias sobrevoado por inúmeros aviões, de proveniência e destino desconhecidos.
Mas, caso se venha a descobrir que os referidos aviões sobrevoaram Portugal, já há uma "suave" solução para o problema: exigir um pedido de desculpas aos Estados Unidos. Imagino que seja qualquer coisa como o "suave" diálogo que se segue:
Governo Português: Estamos chocados com o facto de terem sobrevoado o nosso território sem terem pedido formalmente a competente autorização. Exigimos veementemente um pedido de desculpas.
Governo Americano: Desculpem qualquer coisinha...
Governo Português: Estão naturalmente desculpados, caríssimos amigos.
O nosso "suave" Parlamento naturalmente que não vai investigar novamente o caso perante estas novas revelações. Corria-se o risco de descobrir alguma coisa mais séria, o que punha em causa a "suavidade" parlamentar. Há coisas muito mais irrelevantes e inofensivas para os deputados estarem entretidos. Uma delas é discutir o preâmbulo da Constituição. Outra é aprovar pela nona vez um inquérito a Camarate, onde se discutirão questões que afligem imenso hoje os portugueses, como para que é andava a ser usado um Fundo para a Defesa do Ultramar que ainda existia em 1980. Questões altamente transcendentes e muito actuais, conforme se pode ver.
No meio de toda esta gente "suave", há no entanto alguém que se distingue por exercer as competências para que foi eleito: o eurodeputado do PSD Carlos Coelho solicitou no Parlamento Europeu um novo inquérito a esta história. Não deixa de me entristecer que tenha que ser levada ao Parlamento Europeu uma questão que deveria ser discutida pelos nossos órgãos de soberania. Mas congratulo-me por aparecer finalmente um eurodeputado português que não é um "Português Suave". Só por isso merece aplauso.