Não se brinca com o fogo.
Há dias escrevi aqui sobre o disparate que representa a União Europeia lançar um embargo petrolífero ao Irão quando os seus membros em situação mais complicada, como a Grécia, França e Itália, estão absolutamente dependentes do petróleo iraniano. Parece, no entanto, que a Baronesa Catherine Ashton que, por escolha não se sabe de quem, dirige brilhantemente a política externa europeia, achava que depois de anunciar o embargo o conseguia realizar a prazo ou às pinguinhas, sem que o Irão reagisse. Mas o Irão acaba de demonstrar que está disposto a subir a parada neste jogo de poker que lhe propõem e ameaça cortar o petróleo à Europa já na próxima semana. A União Europeia vai por isso confrontar-se de imediato com um choque petrolífero a somar aos inúmeros sarilhos em que está envolvida. Eu só me pergunto como é que é possível termos tanta incompetência e falta de sentido da realidade à frente dos destinos da União Europeia. Porque o que os líderes europeus andam presentemente a fazer chama-se brincar com o fogo.
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O protectorado.
Segundo se refere aqui, a Alemanha pretende que os gregos percam a sua soberania orçamental como contrapartida de receberem um novo resgate, passando as decisões orçamentais a ser tomados por uma espécie de comissário europeu para os países "resgatados". Isto nada mais representa que o fim total da soberania da Grécia. Há uma regra sagrada de que só os representantes de um povo podem autorizar o lançamento de impostos a esse povo: "no taxation withou representation", pelo que quando essa regra é sacrificada, estamos perante um povo subjugado. Com isto, a Grécia vai transformar-se num protectorado alemão e provavelmente Portugal terá já a seguir o mesmo destino. Nem de propósito o Governo anuncia de imediato a supressão dos feriados que festejam a restauração da independência do país e o regime republicano. De facto neste momento Portugal já não é um país independente e nem sequer merece o nome de república. Mas não deixa de ser estranho que o Governo do nosso país o assuma tão claramente.
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Uma ideia genial!
De facto, o que a União Europeia neste momento realmente precisava era de um embargo petrolífero ao Irão. No mesmo dia em que Christine Lagarde avisa a União Europeia para ter cuidado, pois a crise do euro pode significar uma nova Grande Depressão, nada melhor para apimentar ainda mais a coisa que criar um novo choque petrolífero, fazendo o preço dos combustíveis disparar ainda mais. E como a Espanha e a Itália estão em risco de precisar de uma ajuda externa que ninguém lhes pode dar, não há melhor que retirar-lhes desde já o acesso ao seu tradicional fornecedor de petróleo, forçando-as a procurar alternativas seguramente mais caras. Não sei quem foi o autor da ideia, mas ela merece desde já o prémio do disparate do ano ou, se calhar, do século.
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O perigo chinês.
O Governo desmentiu energicamente ter alguma coisa a ver com as nomeações para o Conselho Geral e de Supervisão da EDP. Já Miguel Sousa Tavares, no Expresso do passado fim-de-semana referiu não acreditar que tivessem sido os chineses a dizer que "pala o conselho de supelvisão da EDP, não vemos ninguém melhol do que o Catloga, o Blaga de Macedo e a Celeste Caldona”. Pois eu acredito piamente na versão do Governo. E digo mais. Começa a tornar-se claro para mim que, depois da aquisição de uma empresa estratégica portuguesa, a estratégia dos chineses passou por lançar a confusão total em Portugal através das nomeações para a EDP. Se não vejamos. Em primeiro lugar, Eduardo Catroga, que é suposto encabeçar uma lista para um órgão social da empresa, vem dizer que não sabe como é que certos membros aparecem na lista e até diz que nem é do PSD, apesar de ter sido Ministro das Finanças de Cavaco Silva e ter negociado em nome do partido com o Governo anterior. Já Celeste Cardona, que segundo a Wikipédia é uma "política portuguesa" que foi "Ministra da Justiça no XV Governo Constitucional", vem agora esclarecer quenão foi ministra nem está na política. Já sabemos que a Wikipédia também se engana, mas esta situação parece-me uma constrangedora falta de memória colectiva, a que provavelmente não serão estranhas as conhecidas técnicas chinesas de reeducação. Anteriores Ministros das Finanças e da Justiça em governos do PSD já viram apagados da sua memória esses cargos ministeriais. E ainda havia quem julgasse que não era perigoso os chineses tomarem conta da EDP?
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Na mouche.
Esta declaração da Standard & Poor's de que a resposta dos líderes europeus "não está à altura dos riscos" constitui a verdade nua e crua e deveria ser motivo para que os líderes europeus encarassem a sério este problema. Mas o mais provável é que a resposta não esteja à altura dos riscos precisamente porque a Europa não tem neste momento líderes à altura para enfrentar a maior crise de sempre na construção europeia. E não tem também instituições à altura para substituir os actuais líderes por outros que estejam à altura.
Em Portugal o Governo também não tem estado infelizmente à altura da crise. Desbaratou todo o seu capital político em nomeações controversas enquanto as reformas marcam passo. Ao mesmo tempo o Ministro das Finanças conseguiu o prodígio de já estar a falhar a meta do défice de 2012 em 0,9 % do PIB apenas duas semanas depois de o ano ter começado. Isto simplesmente porque se esqueceu de contabilizar os efeitos em 2012 da transferência dos fundos de pensões efectuada para salvar o défice de 2011. E depois disto ainda há quem ache "incompreensível" o corte. Pois eu compreendo-o muito bem.
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O ano começa bem
Grécia sairá do euro se não receber mais 130 000 milhões.
Juros de Portugal e Espanha sobem em todos os prazos.
Há mais cotadas portuguesas de malas feitas para a Holanda.
Metro de Lisboa poderá não pagar dívidas "se Governo não tomar medidas extraordinárias".
Perante estas notícias que constantemente surgem, os diversos governantes da Europa limitam-se a fazer discursos apelando à mobilização dos cidadãos. A mim lembram-me aqueles que continuaram a tocar violino enquanto o Titanic se afundava.
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O euro
Foi há dez anos, no início de 2002, que recebemos as primeiras notas e moedas de euros, embora o euro já existisse como moeda escritural desde 2000, funcionando as antigas moedas nacionais como suas divisões. Lembro-me perfeitamente da euforia com que os euros foram então recebidos pelos portugueses, que passariam a ter uma moeda aceite em toda a Europa. O problema foi o que veio a seguir. Os preços dos produtos dispararam, mas ninguém deu por isso, deslumbrado com o crédito fácil que a baixa das taxas de juro tinha proporcionado. As pessoas endividaram-se brutalmente, ficando completamente arruinadas. E o país teve uma década sem crescimento económico, que conduziu as contas públicas ao descalabro actual. E o pior de tudo isto é que o colapso do euro, ou o seu abandono por parte de Portugal, seria um cenário catastrófico, com consequências imprevisíveis. A posição de Portugal em relação ao euro neste momento lembra aquele célebre dito dos brasileiros: "Se fugir, o bicho pega. Se ficar, o bicho come". Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.