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Hoje a Grécia, amanhã Portugal.

Quarta-feira, 29.02.12
Torna-se evidente que neste momento a União Europeia não passa de uma extensão da Alemanha, como demonstra agora o Presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, ao vir defender, como os alemães, a nomeação de um comissário europeu para a Grécia. Só uma absoluta e total falta de senso e de um mínimo de conhecimentos históricos é que pode explicar o surgimento deste tipo de propostas. Imagine-se o que será para os gregos em pleno séc. XXI ser governados por um qualquer Gauleiter germânico a pretexto do que eles próprios não se sabem governar sozinhos. Recordo-me o que Ghandi respondeu aos ingleses quando lhe disseram que os britânicos governavam melhor a Índia do que alguma vez os indianos fariam: "Não há nenhum povo que não prefira o seu próprio mau governo ao bom governo dos outros". Está-se mesmo a ver onde isto vai conduzir.

 

E infelizmente também se está a ver que Portugal vai pelo mesmo caminho. Apesar de a comunicação social ontem ter propagandeado que a troika estaria muito satisfeita com Portugal, qualquer observador minimamente atento repararia nos sinais que foram transmitidos. Hoje, como eu já esperava, veio o comissário europeu para os assuntos económicos, Oli Rehn, exigir a Portugal que redobre os esforços que está a fazer, o que obviamente significa que não estão a ser considerados suficientes.

 

Quanto a Passos Coelho, limita-se a justificar a situação com a herança do anterior Governo. É evidente que o anterior Governo tem muitas culpas no cartório, mas já era mais que altura de abandonar este discurso. Há uma velha anedota referindo que um Primeiro-Ministro, antes de tomar posse, pediu ao seu antecessor que lhe explicasse como deveria agir nos períodos de maior crise. Ele responde-lhe: "Não se preocupe. Deixei na sua secretária duas cartas em envelopes fechados que só deve abrir nas alturas de maior aflição". Num desses períodos ele abre a primeira carta que diz apenas: "Culpe o governo anterior". Ele assim faz e consegue elidir a contestação que estava a sofrer. Passado algum tempo volta a passar por um período de aflição e abre a segunda carta. Esta diz apenas: "Escreva duas cartas iguais a estas".

 

Começo a recear que em breve a União Europeia esteja a propor também um comissário europeu para Portugal.

 

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publicado por Luís Menezes Leitão às 10:27

O Tratado Orçamental.

Terça-feira, 28.02.12

 

Não era possível haver nada mais espantoso neste quadro de subjugação total dos países da União Europeia aos ditames do eixo franco-alemão que a apresentação por estes de um tratado orçamental que todos os outros Estados deveriam assinar. O tratado orçamental, ao reforçar a componente intergovernamental, viola claramente os tratados da União Europeia, tirando completamente o tapete à comissão, enquanto guardiã desses mesmos tratados, assumindo o cariz de um Diktat alemão. Não espanta, por isso, que o Reino Unido tenha decidido desde o início ficar de fora, por muitas críticas que a atitude de Cameron tivesse merecido. Depois a República Checa, talvez recordando a submissão de Bénes aos acordos de Munique, também veio dizer que não aceitava esse tratado. Agora é a Irlanda, país submetido à "ajuda externa" mas que muito valoriza a sua independência, conquistada à custa de muitos sacrifícios, que vem sujeitar o tratado a referendo, onde obviamente não passará. Já a atitude de Portugal é elucidativa. Primeiro aboliu os feriados nacionais que comemoravam a independência do país e o regime republicano, para que ninguém continuasse a pensar que ainda vivia num país soberano. E agora vai dar o seu acordo de cruz a este tratado orçamental. A questão é que, como refere aqui Wolfgang Münchau, esse tratado na melhor das hipóteses é desnecessário e na pior é altamente perigoso e até pode levar a uma explosão da dívida na zona euro. A meu ver, o tratado ameaça mesmo destruir toda a estrutura laboriosamente construída que tem servido de base à União Europeia. Durante quanto tempo continurão os líderes europeus a brincar com o fogo?

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publicado por Luís Menezes Leitão às 17:06

Uma proposta que não pode ser recusada.

Domingo, 26.02.12

 

Uma das frases mais marcantes do cinema aparece no filme The Godfather (O Padrinho), de Francis Ford Coppola, dita por Marlon Brando, que interpreta o papel de um Capo da Mafia, Don Vito Corleone. A frase é "I'll make him an offer he can't refuse" (vou fazer-lhe uma proposta que ele não pode recusar). A explicação para a impossibilidade de recusar a proposta é-nos dada pelo facto de que os contratos eram celebrados com uma pistola apontada à cabeça, pelo que a recusa implicaria ter o cérebro perfurado por uma bala.

 

Foi deste filme que me lembrei quando vi as extraordinárias declarações do Ministro do Interior alemão a defender a saída da Grécia do euro. Ele explica que que não diz "excluir a Grécia" mas sim "criar incentivos para uma saída que não possam ser recusados". O problema neste momento entre a Grécia e a União Europeia é precisamente que a Grécia só tem vindo a receber propostas que não pode recusar, sendo que, quando aceita uma, passa-se logo para a seguinte, deixando o país completamente exangue. Isto será forma de relacionamento entre estados soberanos?

 

Depois da cada vez mais próxima bancarrota da Grécia, será seguramente Portugal o próximo país a ser alvo deste tipo de propostas irrecusáveis, quando em 2013 não conseguir regressar aos mercados, como se torna por demais evidente. O que me pergunto é por que razão o país tem que continuar a seguir este caminho que o exemplo grego já nos demonstrou aonde conduz. 

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publicado por Luís Menezes Leitão às 11:17

Não ao acordo ortográfico.

Quinta-feira, 23.02.12

 

Vasco Graça Moura dá aqui uma magnífica lição aos defensores do Acordo Ortográfico, que se têm multiplicado na praça pública a insistir na aplicação de um acordo internacional que não foi ratificado por todos os Estados de língua portuguesa e que por isso não tem a mínima hipótese de conseguir a unificação da ortografia do português, que era o seu objectivo. O resultado do acordo ortográfico será o absurdo de Portugal ir ficar com uma ortografia que mais nenhum país lusófono utiliza. Efectivamente palavras como "exceção", aceção", "conceção", podem surgir escritas em Portugal mas não surgirão no Brasil nem em Angola ou Moçambique. Pergunta-se então para quê um acordo ortográfico que só estimula a divergência de ortografias?

 

O que já se verificou é que, apesar da teimosia de alguns órgãos de comunicação social em implementar esta ortografia, a esmagadora maioria dos colunistas não a aplica. Isso não significará que esta nova ortografia não é desejada? A insistência em fazer aplicar o acordo à força parece corresponder à daqueles meninos cuja boa acção era ajudar a velhinha a atravessar a rua, mesmo quando ela não queria atravessar a rua.

 

Sem desprimor para os argumentos apresentados por José António Saraiva, Henrique Monteiro, e Jorge Bacelar Gouveia, acho que até agora a peça mais elucidativa produzida sobre o acordo ortográfico é este texto de Pedro Santana Lopes. O mesmo, um dos responsáveis pela aprovação do acordo, faz uma acalorada defesa do mesmo, ao mesmo tempo que confessa que não adopta a nova ortografia, porque ainda não o decidiu fazer. Ora, se ele próprio não adopta esta estranha ortografia, porque é que defende que os outros o façam? Suspenda-se mas é este disparate e já.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 10:17

O tiro ao Barroso.

Segunda-feira, 20.02.12

 

Marcelo Rebelo de Sousa já há dias tinha dado o seu tiro de partida como candidato presidencial. No seu comentário de ontem, a pretexto de criticar o que chamou de novo desporto nacional, o "tiro ao Cavaco", o que na verdade fez foi um verdadeiro tiro a Durão Barroso. Este, o "eterno candidato a candidato" não seria capaz de meter na ordem os seus correligionários que, ao atacarem Cavaco daquela maneira, estariam no fundo a pôr em causa o prestígio da função presidencial, prestígio esse que naturalmente Marcelo tanto preza. Na verdade, ele já se assume como sucessor de Cavaco, capitalizando a seu favor os inúmeros erros políticos que este cometeu. É Marcelo quem manda os cavaquistas anónimos "desampararem a loja". É Marcelo quem pede "compreensão" pelo facto de Cavaco "não estar preparado" para enfrentar uma manifestação hostil, enquanto Passos Coelho "teve tempo para se preparar". E é Marcelo quem finalmente dá recados a Durão Barroso que, embora "eterno candidato a candidato" também não domina as suas hostes. É evidente que, pela amostra, as missas dominicais dos próximos quatro anos vão se transformar num autêntico espaço de campanha eleitoral "Marcelo à Presidência".

 

Durão Barroso já tinha muitas dificuldades em ser candidato presidencial. Trocou a presidência do Governo pela da Comissão Europeia de uma forma precipitada, causando imensa desilusão aos portugueses, desilusão essa que se agravou com o colapso do Governo de Santana Lopes, escolha pessoal sua. Tendo conduzido bem o seu primeiro mandato na Comissão, foi apanhado na turbulência da crise financeira, tendo-se mostrado absolutamente incapaz de evitar o domínio da União pelo eixo franco-alemão. Assistiu nessa altura sem um protesto a um total apagamento da Comissão e por arrastamento ao surgir da possibilidade de ocorrer o fim do euro e da própria União Europeia. Se a crise continuar, é evidente que Durão Barroso não terá nenhumas hipóteses de ser eleito Presidente.

 

Durão Barroso está, porém, a tentar lançar a sua candidatura presidencial, tanto assim que apareceu há dias na Universidade Católica, dizendo que a Comissão está a fazer o seu trabalho, e que a Europa vai sair reforçada depois da crise, embora lamentando a situação de emergência social em Portugal. Foi isso e só isso que justificou o tiro de Marcelo. Assim, enquanto Cavaco acaba tristemente o seu mandato presidencial, nos próximos tempos vamos assistir a uma autêntica troca de galhardetes entre Marcelo e Barroso.

 

Quem se deve estar a rir com isto é Passos Coelho. Ontem em Gouveia aproveitou para dar mais uma ferroada em Cavaco. E vai assistir durante os próximos tempos a uma luta sem tréguas entre duas facções do PSD agrupadas em torno destes dois candidatos presidenciais assumidos, cabendo-lhe a ele arbitrar e decidir quem o partido apoiará. É difícil algum líder do PSD ter estado alguma vez em melhor situação política em relação a umas presidenciais.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 18:13

A recandidatura de Sarkozy.

Quinta-feira, 16.02.12

 

A recandidatura de Sarkozy ameaça ser um fracasso total para a direita francesa, que há muito vê Hollande tomar a dianteira nas sondagens. O mandato de Sarkozy foi um desastre absoluto para a França, praticamente a transformando num joguete da Alemanha na esfera internacional. E em termos nacionais a situação não está melhor, com a crise económica a agravar-se e a França em risco permanente de perder o triplo A nos ratings da dívida, sendo posta no mesmo saco que os países do Sul. Tudo isto tem deixado os franceses extraordinariamente insatisfeitos com o seu Governo. O facto de Merkel ir fazer campanha a França só pode prejudicar ainda mais a candidatura do elo mais fraco do duo Merkozy. É por isso evidente que Sarkozy tem tantas hipóteses de ser reeleito como a Torre Eiffel tem de dançar o samba. Ameaça repetir-se agora do lado da direita o que se passou nas últimas eleições em que Chirac concorreu: a divisão do eleitorado de esquerda permitiu a passagem de Le Pen à segunda volta. Marine Le Pen é muito mais perigosa do que o seu pai e pode perfeitamente fazer a surpresa, sabendo-se que os votos na Frente Nacional são sempre muito superiores ao que as sondagens revelam. É por isso possível a existência de uma segunda volta entre Hollande e Marine Le Pen. E isso seria um cenário absolutamente catastrófico para a direita francesa.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:13

A tragédia grega e a sua sequela.

Quarta-feira, 15.02.12

 

O adiamento da reunião do Eurogrupo depois de a Grécia ter cumprido com todas as suas exigências, com inúmeros custos pessoais para os governantes e deputados gregos, já permitia antecipar esta notícia. Está à vista que a maior parte dos países europeus não está disposta a emprestar mais dinheiro à Grécia e prefere a sua bancarrota, seguindo-se naturalmente a expulsão do euro e da própria União Europeia. As declarações do Ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble de que hoje a zona euro está mais preparada para lidar com o incumprimento da Grécia do que há dois anos atrás mostra que o programa de ajuda não passou de um colossal embuste para ganhar tempo, uma vez que era evidente que não iria resolver o problema da Grécia, que só podia acabar em tragédia. Da mesma forma que não vai resolver o problema de Portugal, que vai ser a evidente sequela deste filme. Não haja ilusões de que, sendo o remédio aplicado à Grécia exactamente o mesmo que o aplicado a Portugal, os resultados serão absolutamente idênticos. Vozes como a de Wolfgang Münchnau que defendem a bancarrota da Grécia também defendem a de Portugal. E Nouriel Roubini, que previu a crise do subprime americano, assegura quetanto a Grécia como Portugal vão ter de deixar o euro. Assim, embora Schäuble tenha dito a Gaspar que a Alemanha terá atenção aos problemas portugueses quando for resolvida a questão grega, é bem de ver que quando no fim de 2013 pedirmos mais dinheiro vamos ter exactamente a mesma resposta que os gregos agora estão a ter. Por muito que o nosso Governo repita que Portugal não é a Grécia, para os países do Norte somos exactamente o mesmo tipo de país: com muita história, muito sol e muita praia e o desagradável hábito de pedir constantemente mais dinheiro aos outros. Como se diz na capa da revistaFocus na imagem, não passamos de impostores e caloteiros que se meteram indesejavelmente na ordeira família do euro.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 18:50

Isto começa a ser demais.

Quinta-feira, 09.02.12

 

Depois de Angela Merkel se ter atrevido a opinar publicamente sobre os investimentos que uma região autónoma de Portugal deve fazer, agora surge o alemão Martin Schulz, Presidente do Parlamento Europeu, a criticar Portugal por receber investimentos de Angola, considerando que assim o país caminha para o declínio. Confesso que cada vez tenho menos paciência para aturar esta arrogância teutónica. Que se saiba, quando elegemos governantes cabe-lhes a eles decidir a política económica do país, pela qual respondem perante o seu povo e não perante governantes estrangeiros. Não admira que a Grécia já prefira o desastre a continuar a ceder às exigências do duo Merkozy. Parece evidente o colapso do euro e da própria União Europeia. Mas grande parte da responsabilidade cabe às instituições da União que se apagaram completamente em benefício de dois Estados-Membros que até conseguiram impor aos outros um tratado intergovernamental, à margem dos tratados da União. Durão Barroso tem sérias culpas no que se está a passar. A Comissão Europeia a que preside deveria ser a guardiã dos tratados e parece disposta a assistir impávida e serena à sua detruição.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 06:59

A Dama de Ferro

Quarta-feira, 08.02.12
Agora que está demonstrado para todos a armadilha que foi o euro, convém recordar quem é que teve a inteligência de deixar o seu país fora dessa embrulhada. A senhora Thatcher bem sabia que o Parlamento não poderia entregar toda a sua política monetária a uma instituição externa, que obviamente não decidiria em favor dos interesses dos cidadãos britânicos. Como ela bem diz, a decisão de aderir à moeda única só pode ser tomada uma vez, e implica uma perda total de soberania, que os deputados ingleses não tinham o direito de fazer ao seu Parlamento, em prejuízo dos futuros eleitos. Passados todos estes anos, e perante o iminente colapso do euro, está à vista quem tinha razão. O que nos faltou em Portugal foi sempre políticos que não fossem atrás de qualquer imposição europeia e soubessem também dizer: "Não, não e não".

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:03

E já agora na Grécia.

Terça-feira, 07.02.12

 

 

"Não aguentamos mais" é o grito de protesto na Grécia. Aí estão mais uns que no entender de Passos Coelho também devem ser piegas.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 16:25


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