Aplauso e reconhecimento.
Quero aqui manifestar o meu aplauso e o meu profundo reconhecimento a José Ribeiro e Castro por ter votado coerentemente na defesa de Portugal, ao rejeitar uma inenarrável proposta de abolição do feriado do 1º de Dezembro. Nasci com esse feriado a ser comemorado, aprendi na escola primária o heroísmo dos conjurados que acabaram com a submissão de Portugal a um rei estrangeiro, e desejo morrer com esse dia a continuar a ser feriado em Portugal. Se há deputados que aceitam colocar o Parlamento que integram — e que é o representante da soberania do país — a praticar tão escandalosa afronta aos valores nacionais é um problema deles. Mas para a História ficará que nestes tempos difíceis de falência e submissão ao estrangeiro houve pelo menos um deputado a declarar no parlamento que para ele a comemoração da independência de Portugal não é uma celebração vã. Neste triste dia, em que os deputados decidiram pôr a independência de Portugal entre parênteses, só a posição coerente e corajosa de Ribeiro e Castro merece aplauso.
Autoria e outros dados (tags, etc)
A imagem que mil palavras não apagam.
É curioso que a língua inglesa utilize para designar a fotografia a expressão "snapshot", que nos dá a sensação simultânea de um tiro e de uma captura. Porque de facto quem tirou esta fotografia deu um tiro certeiro na imagem de Portugal em todo o mundo. Bem pode o Governo protestar que nada tem a ver com a Grécia, que a greve geral não conseguiu os objectivos visados, e que o povo apoia na sua esmagadora maioria o programa de ajustamento. Toda esta argumentação, por muito certa que esteja, se evapora perante uma imagem com esta brutalidade. O que aqui se vê é uma mulher indefesa, além do mais jornalista, a ser barbaramente agredida sem qualquer necessidade. E embora a imagem represente apenas um segundo de um dia que teve vinte e quatro horas, é esse instante que vai perdurar na memória desse dia, estragando completamente a imagem de Portugal no mundo.
Parece que a PSP fez um comunicado em que, para além das habituais "averiguações" pede aos jornalistas que estejam correctamente identificados e se coloquem devidamente no terreno. E que tal propor também aos agentes um curso sobre direitos humanos? É que mais uma meia dúzia de imagens destas e bem podem os nossos governantes andar pelo mundo todo a dizer que Portugal não é a Grécia. Provavelmente responder-lhe-ão: pois não, é o Chile de Pinochet.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Em busca do tempo perdido.
Estas declarações de Otelo enquadram-se no seu percurso de incessante busca pelo tempo perdido, por parte de um velho líder revolucionário que viveu um período eufórico nos idos de 1974/1975, onde julgava poder transformar-se no Fidel Castro da Europa, mas depois nunca foi capaz de se adaptar ao regime democrático. As declarações e conferências de Otelo a reclamar um novo golpe de Estado não representam qualquer perigo para o regime, mas não deixam de ser um curioso sinal dos tempos. Há muito tempo que Otelo tinha deixado de fazer este tipo de declarações. O facto de agora as repetir constantemente significa que acha estarmos em período em que elas poderão surtir algum efeito. É por isso preocupante a instabilidade financeira, a perda de soberania e o descrédito do regime a que temos vindo a assistir nos últimos tempos. O risco, no entanto, ao contrário do que julga Otelo, não é que isto conduza a um novo 25 de Abril: é que conduza a um novo 28 de Maio.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O vídeo da "União" Europeia.
Não sei o que é mais disparatado nesta história do vídeo da União Europeia. Em primeiro lugar, o vídeo é de um primarismo absoluto, carregado de estereótipos sobre os naturais dos outros continentes, pelo que não consegue convencer ninguém sobre as vantagens do alargamento da União, especialmente se esse alargamento abranger a Turquia. Em segundo lugar, o pedido de desculpas posterior (a quem?) só demonstra uma absoluta má consciência. Mas, ao contrário do que se julga, a imagem que o vídeo transmite não é de uma união, mas antes de uma divisão da Europa que, no quadro actual, bem pode revelar-se profética. Tudo isto só demonstra é que a Europa anda presentemente à deriva.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Marcelo em campanha.
A campanha de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência de República vai de vento em popa. Como todos os votos contam, porque não ir tentar pescar até no eleitorado do Bloco de Esquerda? Perante isto, como pode Durão Barroso responder? Aparecer numa sessão do MRPP, a recordar os seus gloriosos tempos de luta popular? Isto está a ficar cada vez mais engraçado.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O sucesso dos porgramas de ajustamento.
Quem anda tão convencido que os programas de ajustamento impostos pela troika aos países "ajudados" vão conduzir ao milagre do retorno aos mercados deve atentar nesta notícia. No seu relatório sobre a Grécia, a própria troika reconhece que em caso algum a Grécia regressará aos mercados em 2015 e que por isso nesse ano irá precisar de mais 50.000 milhões de euros. Isto depois de um programa que obriga a Grécia a despedir 150.000 funcionários em três anos, dos quais 15.000 já em 2012, reduzir o salário mínimo e o subsídio de desemprego em 20% e cortar as pensões em 15%.
É evidente que com estas medidas nem em 2015 nem sequer em 2115 a Grécia irá conseguir regressar aos mercados, pelo que o seu destino é ir de programa de ajustamento em programa de ajustamento até atingir o colapso total, quando da troika lhe disserem: "Basta! Já não emprestamos mais nada".
E a Portugal vai suceder exactamente a mesma coisa, pois o regresso aos mercados em 2013 é outra miragem, com os valores já conhecidos de agravamento da recessão e do desemprego.
Por isso a sensação que tenho em relação a este programas de ajustamento é a de os políticos europeus estarem a representar uma peça teatral. Toda a gente sabe que não vão resultar, mas é preciso continuar a representar a peça na esperança de que os espectadores não se apercebam demasiado cedo de qual é o fim. Mas um dia a realidade impor-se-á à ficção e as pessoas perceberão a enorme tragédia para onde foram atiradas.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Alguém acredita nisto?
No mesmo dia em que os diversos países da União Europeia assinam à força o Diktat germânico que dá pelo nome de Tratado Orçamental, a Espanha acaba de revelar a sua "decisão soberana" de colocar uma nova meta do défice menos rigorosa. Está-se mesmo a ver a quantidade de "decisões soberanas" semelhantes que vão surgir durante a vigência deste tratado. E tudo isto evidentemente para nada. Só cá dentro é que se acha que Portugal é diferente da Grécia, pois qualquer analista prevê que nenhuma das dívidas vai ser paga. Neste enquadramento, tenho a sensação que estes programas de "ajuda" só servem para adiar o inevitável. E não é em benefício dos países "ajudados". Porque as ajudas não duram para sempre e o regresso aos mercados é um sonho delirante para estes países. Há muito que nos mercados se diz em relação à dívida grega e portuguesa: "Take the money and run". Basta olhar para aescalada permanente dos juros. E aí põe-se a pergunta inevitável a que ninguém responde: Estamos a fazer todos estes sacrifícios para quê?