O mundo e a realidade que se impõem.
Passos Coelho fez um bom discurso de abertura na rejeição da moção de censura do PCP. Tinha aliás escolhido um óptimo sound-byte: "A moção de censura é contra o mundo e a realidade". O problema é que enquanto durava esse debate, o mundo e a realidade impuseram-se. Quanto ao mundo, o Chipre pediu ajuda externa, o Ministro grego das Finanças fugiu a sete pés quando viu o que o esperava, e Angela Merkel rejeitou pela enésima vez as eurobonds. Quanto à realidade, o Governo é que acabou por fugir a ela, quando não revelou as medidas de austeridade que toda a gente já percebeu que vão ser imprescindíveis. A moção de censura do PCP era um exercício diletante, que acabou por ser facilmente ultrapassado pelos partidos da maioria. Mas há um novo dado político resultante do dia de hoje: Pedro Silva Pereira demonstrou estar muitos graus acima de Seguro e protagonizou uma espécie de regresso antecipado do socratismo ao PS. Se, como se afirmou, o que o PCP pretendia com a moção de censura era atacar a actual liderança do PS, acho que o resultado acabou por lhe servir de feição.