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Ventos favoráveis.

Quinta-feira, 27.09.12

 

Leio aqui que Passos Coelho resolveu citar Os Lusíadas numa sessão de homenagem a Adriano Moreira, dando razão à velha afirmação de que Portugal é um país de poetas. A estrofe 66 do canto V justifica no seu entender que, apesar da corrente que nos empurra para trás, há ventos favoráveis na economia. A estrofe é assim:

 

<Daqui fomos cortando muitos dias,
Entre tormentas tristes e bonanças,
No largo mar fazendo novas vias,
Só conduzidos de árduas esperanças.
Co mar um tempo andámos em porfias,
Que, como tudo nele são mudanças,
Corrente nele achámos tão possante,
Que passar não deixava por diante>.

 

Curiosamente vejo esta citação, pelo contrário, como um reconhecimento subliminar das dificuldades que Passos Coelho presentemente atravessa. Ele já tinha tido "entre tormentas tristes e bonanças" as "árduas esperanças" de transferir o pagamento da TSU dos empresários para os trabalhadores. Mas como encontrou na manifestação de 15 de Setembro uma "corrente", "tão possante que passar não deixava para diante", lá foi obrigado a arrepiar caminho e substituir essa medida por mais um aumento de impostos.

 

Vale a pena citar a estrofe seguinte que é assim:

 

<Era maior a força em demasia,
Segundo pera trás nos obrigava,
Do mar, que contra nós ali corria,
Que por nós a do vento que assoprava.
Injuriado Noto da porfia
Em que co mar (parece) tanto estava,
Os assopros esforça iradamente,
Com que nos fez vencer a grão corrente>.

 

Ou seja, Passos Coelho acha que, apesar da força da corrente que contra ele está, e apesar de "injuriado" continuamente, como se viu na própria sessão de homenagem, esforçando-se como o vento, através de "assopros", há-de conseguir "iradamente" fazer "vencer a grão corrente". O problema é a falta de fôlego, que há muito parece atingir o seu governo.

 

É talvez por isso que João Salgueiro veio agora dizer que Passos Coelho não estava preparado para tomar conta do poder. Eu confesso que percebi isso antes da eleições. E o que me fez perceber foi o mais inacreditável acordo alguma vez feito na política portuguesa: o acordo com Fernando Nobre, a quem foi prometida a presidência do Parlamento se concorresse nas listas do PSD. Passos Coelho não conseguiu cumprir a promessa, o que o levou Fernando Nobre a renunciar ao mandato. E agora, quando o governo decide fazer um corte de 30% nos subsídios pagos à Fundação a que preside, Fernando Nobre diz que só pode tratar-se de um mal-entendido. O actual estado do país só me faz lembrar a canção de Amália Rodrigues: "Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado".

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:50

Mais uma medida inconsequente.

Quarta-feira, 26.09.12

O Governo, com mais esta medida, continua a confirmar todos os dias a sua total incapacidade para reformar os gastos do Estado. Afinal, o ataque à despesa das fundações fica-se por extinguir uma meia dúzia  e nalguns casos recomendar apenas a sua extinção, recomendação que já se sabe não ir ser acatada. Algumas dezenas de fundações perdem 30% dos apoios, o que significa que continuam com 70%. As restantes ficam felizes, mantendo os mesmos 100% de apoios estatais.

 

O que o Governo deveria fazer era acabar com todo e qualquer apoio estatal às fundações. Uma fundação deve ter fundos, se não não é fundação. Fundações a viver do Orçamento do Estado, não obrigado. Os contribuintes não têm que pagar estes devaneios.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 09:04

O contador de fábulas.

Terça-feira, 25.09.12

 

Miguel Macedo já fez o favor de nos esclarecer sobre o que queria dizer com o seu discurso sobre cigarras e formigas. Tratava-se afinal de uma homenagem "aos trabalhadores por conta de outrem e aos pequenos e médios empresários, comerciantes e agricultores, que, pelo trabalho de formiga que todos os dias fazem, criam riqueza, mantêm empregos e criam postos de trabalho em Portugal". As cigarras desapareceram assim rapidamente da história, não fosse alguém identificar algumas no Governo. Agora Miguel Macedo limita-se a prometer que "em fase das dificuldades em que estamos - mas também porque é uma evidente necessidade do país - nós temos, em homenagem ao trabalho desses muitos portugueses, que fazer reformas que ajudem o país a criar bases sustentáveis de crescimento e enriquecimento futuro”. Mas, face a esta declaração, os portugueses podem perguntar, como a formiga da fábula, porque é que essas reformas ainda não foram feitas. Na verdade, o Governo, que falhou clamorosamente o défice para este ano, não fez uma única reforma do Estado e parece obcecado é em tributar tudo o que mexe. Em Portugal, a fábula da cigarra e da formiga acaba com a cigarra a lançar impostos sobre a formiga.

 

Confesso que quando ouvi esta homenagem de Miguel Macedo aos trabalhadores, empresários, agricultores e comerciantes deste país, só me lembrou foi outra fábula: a da raposa que se põe a gabar as lindas penas do corvo, na esperança de que ele deixe cair o queijo.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 06:55

O discurso do Ministro.

Segunda-feira, 24.09.12

 

Este discurso de Miguel Macedo mostra bem o estado em que o Governo se encontra. Mostrando estar totalmente alinhado com o Primeiro-Ministro, que tinha dito que os portugueses não poderiam ser piegas, Miguel Macedo vem dizer que não podem ser um país de muitas cigarras e poucas formigas. Quanto a isso posso tranquilizá-lo. As cigarras em Portugal são muito poucas. Provavelmente reduzir-se-ão àqueles que nesta época de crise vão para os concertos de Paulo de Carvalho trautear "a Nini e o Organdi". Já as formigas são imensas, procurando a todo o custo amealhar o mais possível perante os cortes e os impostos que o Governo todos os dias anuncia. Por isso é que o consumo em Portugal se evaporou e a receita fiscal diminuiu, ao contrário do que o Governo candidamente julgava que iria acontecer.

 

Mas o Ministro congratulou-se ainda perante os bombeiros com uma situação extremamente benéfica. É que finalmente começou a chover. As rezas no Ministério da Agricultura deram resultado efectivo. Só falta agora usar o mesmo método para obter o cumprimento do défice, a diminuição do desemprego, o aumento da produtividade, a complacência da troika, e a paciência dos portugueses. Que infelizmente é cada vez menor para tanto disparate.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:07

Um Governo que já não existe.

Quinta-feira, 20.09.12

 

Só os cegos poderão não ver o que esta notícia significa: este Governo já não existe e Passos Coelho já não é Primeiro-Ministro. Duvido, aliás, que alguma vez o tenha sido. Escolheu um governo com uma péssima estrutura, com escolhas de pessoas desastradas, sobre o qual nunca teve o mínimo controle. Os ministros mais contestados continuavam livremente, mesmo depois de a sua situação se ter tornado insustentável. O Primeiro-Ministro exibia constantemente no Parlamento uma confrangedora ignorância sobre os assuntos da governação, como se verificou no episódio do fecho da maternidade Alfredo da Costa. O seu papel resumiu-se por isso unicamente ao anúncio das medidas preparadas por Vítor Gaspar, que ele próprio era incapaz de explicar, como se viu na entrevista à RTP. Cavaco mostrou agora o que pensa de Passos Coelho como Primeiro-Ministro ao convocar Vítor Gaspar para o Conselho de Estado. O CDS pôs-se de fora do Governo ao dizer que não concordava com a TSU. E o próprio PSD, ao propor um renovar do acordo de coligação com o CDS, demonstra que Passos Coelho está acabado como Primeiro-Ministro. Na verdade, como explicar que dois partidos que estão no Governo se encontrem a nível das direcções partidárias para discutir a coligação governamental a não ser pelo reconhecimento que o Primeiro-Ministro não tem autoridade sobre o Governo?

 

A meu ver, o PSD tem rapidamente que reconhecer o fracasso de Passos Coelho como Primeiro-Ministro e promover a sua substituição por outra figura do partido. Não deve dar qualquer margem ao Presidente para condicionar o novo Governo, e muito menos alinhar no disparate de um Governo de iniciativa presidencial. E não me venham falar da legitimidade eleitoral de Passos Coelho por ter ganho as eleições. Quem ganhou as eleições foi o PSD e a última coisa que o partido pode fazer é aceitar a continuação do desastre que tem sido este Governo. O país não é um laboratório para ser sujeito a experiências de um qualquer cientista louco, como o é claramente este disparate da TSU. Aliás, a resposta clara está a ser dada pelos empresários que já dizem que devolverão aos trabalhadores o dinheiro destes que o Governo lhes quer atribuir. Essa é a saudável resposta que as verdadeiras empresas dão a estes teóricos de modelos em Excel, que não fazem a mínima ideia do que é a realidade empresarial.

 

Claro que o PSD pode também não querer ver isto e continuar a ir atrás de Passos Coelho. Este é o resultado ao fim de um ano. Vão ver o que será ao fim de quatro.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 10:02

O Costa do Marquês.

Terça-feira, 18.09.12

 

Já se sabia perfeitamente que António Costa pode ter vocação para muita coisa, mas não tem seguramente para ser Presidente da Câmara de Lisboa. A gestão corrente da Câmara está nas mãos de Manuel Salgado e António Costa praticamente só aparece em cerimónias protocolares ou em aparições mediáticas sem conteúdo, como quando transferiu o seu gabinete para o Intendente. O que é, no entanto, mais grave é que António Costa tem um sonho para Lisboa, que é transformá-la numa cidade de província, com poucos habitantes, onde os carros não circulem e os cidadãos andem a passear de bicicleta. Precisamente por isso o seu principal objectivo é tornar impossível a circulação automóvel em Lisboa. Já foi assim no Terreiro do Paço e agora é assim no Marquês. Ao contrário do que se julga, António Costa fica extremamente feliz quando cria o caos no trânsito em Lisboa. Para ele, os bandidos dos automobilistas deveriam era aprender a andar de bicicleta, pedalando furiosamente a subir a Avenida da Liberdade antes de ir para o emprego.

 

Por mim, há muito que acho que António Costa escolheu erradamente ser Presidente da Câmara de Lisboa. Deveria ter optado era por uma qualquer câmara da Beira Alta ou do Alentejo. Uma cidade pequena, com pouco mais de 1000 habitantes, seria o local ideal para impedir a circulação automóvel e pôr os cidadãos todos a passear a pé ou a andar de bicicleta. Na capital do país dispensamos estes laivos de romantismo.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 09:36

O CDS/PP.

Segunda-feira, 17.09.12

 

 

Prossigamos a nossa análise ao estado dos diversos partidos políticos, fazendo referência agora ao caso do CDS/PP, que tem estado na berlinda nos últimos dias. Trata-se talvez do partido ideologicamente mais complexo que existe em Portugal, o que explica grande parte das reviravoltas em que tem estado envolvido.

 

Podem encontrar-se no CDS três linhas políticas diferentes. A primeira é uma linha democrata-cristã, de catolicismo social, inicialmente representada por Freitas do Amaral e Amaro da Costa, e hoje claramente protagonizada por Assunção Cristas. A segunda é uma linha de liberalismo económico, inicialmente defendida por Lucas Pires, e hoje protagonizada por Pires de Lima. A terceira é uma linha nacionalista e conservadora, representada inicialmente por Adriano Moreira e Manuel Monteiro, e hoje protagonizada por Ribeiro e Castro. Este conflito torna o CDS um partido ubíquo, já que a primeira linha situa-o entre o PS e o PSD e as outras duas linhas à direita do PSD. Por isso os objectivos políticos do partido também variam de acordo com as suas linhas. A primeira linha pretendia que fosse um partido charneira, semelhante aos liberais na Alemanha, fazendo e desfazendo coligações. As outras linhas aspiravam a torná-lo uma grande partido de direita, semelhante ao PP espanhol.

 

A linha democrata-cristã corresponde à matriz inicial do partido, na altura da sua fundação. Essa linha é claramente de esquerda, salvo em matéria de costumes, devido à ligação à Igreja Católica. Por esse motivo, defende uma forte intervenção social do Estado, não se importando de aumentar impostos para obter tal fim. As posições de Freitas do Amaral a defender o aumento da tributação dos mais ricos ou a de Cristas a querer taxar ferozmente as grandes superfícies são coerentes com esse propósito. 

 

A grande contradição do CDS começa precisamente no momento em que é criado. Sendo um partido colocado ao centro, devido à proibição pelo MFA dos partidos à sua direita (como o MIRN e o PDC) acaba por receber todo o eleitorado da direita do regime. Esse eleitorado apercebia-se, no entanto, de que havia algum problema com o partido, a quem acusava de ter complexos de esquerda. Curiosamente, a melhor votação do partido (quase 16%) foi logo a seguir a ter votado contra a constituição, a única vez em que esteve de acordo com o seu eleitorado.

 

Esse eleitorado viria, no entanto, a entrar em estado de choque quando o CDS se coliga com o PS no governo. Para a linha dirigente, a coligação fazia todo o sentido. Para o eleitorado dos dois partidos era um escândalo, já que os militantes jacobinos do PS dificilmente podiam aceitar estar juntos com os saudosistas do antigo regime. O CDS entra assim numa prática que depois se lhe tornou comum: desfazer coligações. Os ministros do CDS saem do Governo e Mário Soares é demitido por Eanes.

 

O CDS ensaia então pela primeira vez a aproximação ao PSD, aceitando o convite de Sá Carneiro para formar a AD. Na AD o partido fica claramente unido, uma vez que uma coligação de direita agrada ao seu eleitorado e às linhas liberal e nacionalista. Mas Freitas do Amaral ambiciona liderar a coligação, quase o conseguindo num momento fugaz, logo após a morte de Sá Carneiro, em que no PSD órfão se chegou a admitir que a AD pudesse ser liderada por Freitas. Eleito Balsemão, o seu governo soma desastres sucessivos, o que leva Freitas a tentar novamente a liderança na AD, quando após as eleições autárquicas, exige mudanças. O PSD responde com a demissão de Balsemão e Freitas, já a sonhar com Belém e achando o partido muito pequeno para o seu ego, demite-se de todos os cargos políticos. Nova destruição de uma coligação pelo CDS.

 

O CDS é então liderado por Lucas Pires que abandona a matriz democrata-cristã para o que na altura chamou de "nacionalismo liberal". Sendo a única oposição de direita ao Bloco Central, o CDS sonha destruir o PSD nas eleições subsequentes surgindo como o grande partido de Direita, à semelhança do que em Espanha o PP tinha feito à UCD. As sondagens davam na altura ao CDS valores colossais, o que, quando Cavaco Silva chega ao poder no PSD, leva Lucas Pires a afirmar que só haveria coligação com o PSD se houvesse paridade entre os dois partidos. O eleitorado de Direita cai, porém, nos braços de Cavaco Silva, Lucas Pires é substituído por Adriano Moreira, e o CDS fica reduzido ao partido do táxi. A oposição de Direita ao cavaquismo transfere-se para o jornal O Independente de Paulo Portas.

 

Paulo Portas foi claramente o novo fundador do CDS. Inicialmente decidiu tomar o partido por intermédio de Manuel Monteiro, o que representou um triunfo claro da linha nacionalista e eurocéptica do CDS que até levou Freitas do Amaral ao Parlamento para votar a favor de Maastricht. Toda a gente percebeu, no entanto, que Manuel Monteiro era uma criação de Paulo Portas, dizendo-se que enquanto outros partidos tinham jornais, no CDS um jornal tinha um partido. Quando Manuel Monteiro rompe com Paulo Portas, ficou claro que era Manuel Monteiro que acabaria por sair. Surge assim uma cisão oficial do CDS, com a Nova Democracia que, no entanto, não tem sucesso algum. Aliás, as cisões do CDS foram muito comuns, tendo Lucas Pires ido abraçar o PSD e o movimento Humanismo e Democracia saltado para os braços do PS.

 

Paulo Portas tem um extraordinário sentido político e soube dar todas as piruetas que eram precisas para tornar o CDS um partido de poder. Passou de eurocéptico a eurocalmo e, quando Marcelo Rebelo de Sousa o quis armadilhar, trucidou-o completamente numa entrevista televisiva. Conseguiu assim fazer o CDS voltar ao Governo, após o colapso de Guterres. Quando Durão Barroso entregou o Governo a Santana Lopes, Paulo Portas viu aí a oportunidade para atingir a estratégia há muito sonhada pelo CDS de destruir o PSD. O CDS ia-se distanciando dos disparates de Santana Lopes e quando o Governo caiu às mãos de Sampaio apareceu com cartazes a dizer que o CDS era o "voto útil" da direita. O eleitorado castigou, no entanto, os dois partidos igualmente e Paulo Portas achou por bem demitir-se. Falhou, no entanto, a sua estratégia de governar o partido por intermédio de Telmo Correia, pois o partido escolheu Ribeiro e Castro. Por isso, logo a seguir Paulo Portas regressou.

 

Com as novas eleições após o colapso de Sócrates, Paulo Portas consegue um enorme peso no Governo, em face da teimosia de Passos Coelho em querer manter o Governo reduzido, e apelar a uma série de independentes. Percebendo perfeitamente que o Governo iria ser queimado no lume brando do Memorando da troika, escolheu para si o cargo em que menos probabilidades tinha de ser chamuscado: o de Ministro dos Negócios Estrangeiros. E a estratégia continua a ser ir-se distanciando cada vez mais do Governo para permitir ao CDS conseguir finalmente atingir o objectivo de ser o grande partido da Direita, reduzindo o PSD à sua expressão mais simples. É por isso que o CDS, perante o disparate do século cometido por Passos Coelho, já ontem se veio demarcar claramente. O partido passará a dizer todos os dias que é contra as medidas delirantes que Gaspar inventa e que só o PSD é por elas responsável. Como, com a estratégia que está a seguir, o PSD arrisca claramente transformar-se no PASOK português, pode ser que o CDS, pela mão de Portas, venha desta vez a realizar o objectivo que desde sempre almejou.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 08:17

O suicídio político.

Domingo, 16.09.12

 

A comunicação ao país de Passos Coelho há uma semana constituiu o maior suicídio político que um Primeiro-Ministro praticou em Portugal. Conforme foi notório na entrevista que deu uns dias depois, Passos Coelho não faz a mínima ideia do significado e muito menos do impacto das medidas que anuncia. A única coisa que Passos Coelho faz é anunciar as medidas que são preparadas por Vítor Gaspar, achando que assim dá ideia aos eleitores que é ele que efectivamente manda no Governo, quando toda a gente já percebeu que é Vítor Gaspar. Por isso mesmo Cavaco Silva fez questão de exigir a presença de Gaspar no Conselho de Estado, reconhecendo assim formalmente que ele é o líder efectivo do Governo. Na verdade, se há coisa que os Conselheiros seguramente não quererão ouvir são explicações disparatadas como a que Passos Coelho deu aos entrevistadores da RTP.

 

A redução da TSU podia ser uma medida que passasse se fosse compensada pela subida do IVA. Sendo compensada por uma subida das taxas dos trabalhadores é pura loucura política. Tendo (alguma) consciência disso,  decidiu-se apresentá-la como sendo imposta pela decisão do Tribunal Constitucional, culpando-se os deputados do PS que a ele recorreram. Vários apoiantes do Governo apareceram na altura a dizê-lo ipsis verbis. Que julgassem que os cidadãos engoliam essa história da carochinha, diz bem do estado de negação política em que o PSD hoje vive. O maior exemplo desse estado foi hoje Carlos Abreu Amorim que apareceu na televisão a congratular-se com o civismo da manifestação no preciso momento em que só a polícia de choque impediu a invasão do Parlamento.

 

Esta estratégia de Passos Coelho ditou o fim do seu Governo. Nenhum governo pode continuar como se nada se passasse depois de ver sair à rua contra ele quase todo o país. Em política o que tem que acontecer é bom que aconteça logo. Há uns dias Passos Coelho podia remodelar o Governo, fazendo sair os ministros mais contestados. Teimosamente insistiu em mantê-los. Hoje só lhe resta remodelar-se a si próprio. Nos próximos dias o PSD tem que apresentar ao país um novo Primeiro-Ministro. Isto claro, partindo do pressuposto que os partidos da maioria querem continuar a governar.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 00:03

A entrevista de Passos Coelho.

Quinta-feira, 13.09.12

 

Apesar da reverência com que os entrevistadores o trataram, Passos Coelho enterrou-se completamente na entrevista que deu. Não foi capaz de explicar minimamente o disparate da TSU. Disse que iria ter sucesso com essa medida, como se estivesse a proclamar um dogma de fé. Quando lhe disseram que até o Engº Belmiro de Azevedo estava contra, lembrou-se de lhe sugerir que baixasse os preços. Assumiu-se incapaz de renegociar as PPP, enquanto multiplica os cortes de salários. Respondeu ao argumento de que era forte com os fracos e fraco com os fortes dizendo que estava a poupar os funcionários e pensionistas de rendimentos mais baixos. Insiste que não estamos numa espiral recessiva, e quando lhe chamam a atenção para a quebra das receitas fiscais, disse que é porque se venderam menos carros, o que até é bom pois baixa as importações.

 

Já que falou de carros, a minha pergunta é apenas esta: alguém compraria um carro usado a alguém que viesse com uma conversa destas?

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publicado por Luís Menezes Leitão às 23:26

A entrevista de Manuela Ferreira Leite.

Quinta-feira, 13.09.12

 

Manuela Ferreira Leite, a meu ver, enterrou ontem definitivamente Vítor Gaspar, demonstrando em absoluto a sua total incompetência. O seu discurso foi o mais mortífero que alguma vez vi fazer para um  Ministro das Finanças, mas tudo o que disse constitui a verdade nua e crua. Efectivamente, um Ministro das Finanças não é um teórico que julgue que pode testar modelos abstractos, transformando o país em cobaia das suas experiências. É uma pessoa de bom senso que tem que conhecer profundamente a estrutura produtiva do país e o impacto que as suas medidas têm, ajustando as mesmas perante os efeitos que produzem nas pessoas. Afinal é para as pessoas que se governa. E nem na União Soviética se viu o Ministro das Finanças a gerir a tesouraria das empresas. Como ela bem disse, o Ministro das Finanças perante a contestação generalizada a uma medida, não pode julgar que é o único soldado com o passo certo no batalhão.

 

Passos Coelho julgava que tinha o partido na mão, convidando para o Governo Paulo Rangel (que não aceitou) e Aguiar-Branco, os seus opositores na última eleição. Deixou, porém, de fora Manuela Ferreira Leite, que teria tido um desempenho como Ministro das Finanças muito melhor do que Vítor Gaspar, como qualquer comparação demonstra, incluindo as duas entrevistas desta semana. Se Durão Barroso não tivesse decidido entregar o governo e o país a Santana Lopes nada do que se passou desde então teria ocorrido. Passos Coelho tem agora o rosto da oposição interna à sua frente a apelar aos deputados do partido para que não alinhem nesta aventura. 

 

É bom que os deputados do partido oiçam Manuela Ferreira Leite e terminem de vez com este disparate. Margaret Thatcher foi um dos melhores governantes que a Grã-Bretanha alguma vez já teve, mas o seu partido não hesitou em a derrubar quando ela teimou no disparate da "poll tax", que pôs o país a ferro e fogo e iria arrasar eleitoralmente o Partido Conservador. Efectivamente, um partido político tem que atender ao interesse nacional, não tendo que ir cegamente atrás dos governantes quando eles embarcam em aventuras disparatadas.

 

 

 

 

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:36


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