Sonhos de Verão.
O Governo estava a preparar-se para atirar para a troika as culpas pelo falhanço clamoroso do objectivo do défice para este ano (já vai em 6,9% só no primeiro semestre!), alegando que o programa de ajustamento estava mal concebido.
Para isso contava com o apoio expresso de Cavaco Silva que, num intervalo do golfe, lá veio dizer que não seria por causa de umas décimas (3, 4, ou 5) que se iria dizer que o Governo falhou a meta do défice, provavelmente apostando que a troika nos reconheceria algum handicap. Mas as décimas já vão em 24, o que é um desvio colossal em relação às expectativas do Presidente.
Apesar destes dados, no seu patético discurso num dos encontros partidários a que pomposamente se chama Universidades de Verão, Passos Coelho diz que "o défice está cair" e que "não há evidência de ciclo vicioso de recessão económica". Uma vez que na mesma Universidade de Verão, António Borges tinha dito que as coisas estavam a correr melhor que o que se esperava e Cândida Almeida também garantia que não havia corrupção em Portugal, parece que aquele encontro deveria chamar-se antes de sonhos de Verão.
Na sua crónica de ontem João Pereira Coutinho pôs o dedo na ferida: "O défice de 4,5% para 2012 converteu-se em anedota. Mas governantes e comentadeiros não estão horrorizados com este falhanço. Pelo contrário: ele é providencial e só mostra que o aluno é um bom aluno. O problema está na professora, que exagerou na matéria e vai agora conceder equivalências à malta, na melhor tradição nativa".
Estas declarações do responsável da Comissão Europeia mostra para quem tivesse dúvidas que é também um sonho de Verão o Governo contar com alguma compreensão da troika, devido à sua pretensa imagem de bom aluno. Os bons alunos não são aqueles que se esforçam arduamente sem conseguirem atingir os resultados propostos. São aqueles que atingem efectivamente esses resultados. Agora que é o tempo do regresso às aulas, era bom que o Governo se deixasse de sonhos de Verão e preparasse de vez o país para o pesadelo outonal que aí vem.