A guerra contra o Estado islâmico.
Uma das análises mais correctas sobre o que se estava a passar no mundo resulta de um livro de Samuel P. Huntington, de 1996, intitulado The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order. Nesse livro demonstra claramente como se estava a formar uma nova ordem mundial para o séc. XXI e que nessa nova ordem um dos factores mais decisivos era o Ressurgimento Islâmico. A seu ver a civilização islâmica estava a tornar-se cada vez mais influente a nível mundial, não apenas pela sua maior capacidade de conversão de novos crentes, mas ainda pelo maior crescimento demográfico das suas populações.
Para Huntington a influência mundial da civilização islâmica só não era maior porque o islamismo radical não tinha um Estado religioso forte que pudesse servir de sustentáculo às suas pretensões. A esmagadora maioria dos Estados árabes não apoiava uma versão radical do islamismo, preferindo estar de bem com o Ocidente, e a única excepção, o Irão, baseava-se na corrente xiita do Islão, minoritária em face dos sunitas, o que levava a que não fosse seguido pelos militantes islâmicos radicais.
Por isso o Ocidente ficou descansado com o aumento da influência islâmica no mundo, uma vez que as guerras eram travadas entre os próprios Estadoa arábes, ainda que o ataque ao Kuwait tenha pela primeira vez obrigado a uma intervenção, dado que pôs em causa os interesses ocidentais. Mas Bush pai teve a inteligência de deixar Saddam Hussein no poder, uma vez que bem sabia que o seu derrube só serviria para aumentar a influência do Irão e dos movimentos islâmicos radicais na região.
Bush filho, com uma inteligência rudimentar, e movido por uma questão pessoal, quis derrubar Saddam Hussein, seguindo a estratégia de iluminados como Wolfowitz que achava que o Iraque tinha que ser conquistado, uma vez que "nadava num mar de petróleo". Consta que terá respondido o seguinte a quem o interrogava como é que depois os americanos sairiam do Iraque: "É simples. Não saímos". Nessa estratégia teve o apoio ainda mais desastrado de Blair, Asnar e do nosso Durão Barroso, que juntos criaram um enorme sarilho.
Obama, que é inteligente e tinha a vantagem de se ter oposto desde o início a este disparate, não conseguiu, porém, ver que Wolfowitz tinha razão num ponto: é que depois de se ter entrado no Iraque já não era possível sair de lá. A saída dos EUA do Iraque, associada a um apoio às primaveras nos outros países arábes, foi um campo fértil para os militantes islâmicos radicais, que conseguiram nos territórios sírios e iraquianos aquilo que desde sempre ambicionavam: a reconstrução do califado. Ora, esse Estado islâmico vai ser seguido pelos militantes radicais de todo o mundo e pode ter um sucesso muito mais rápido que o califado original, cujos exércitos chegaram em 80 anos desde a península arábica em 632 até Poitiers em 711. E esse Estado todos os dias proclama o seu ódio aos ocidentais, como se vê pelas execuções que sistematicamente são exibidas.
É manifesto, por isso, que o Ocidente está a ser constantemente desafiado para a guerra, só que já não tem coragem de mandar tropas para o terreno e os ataques aéreos podem fazer mossa, mas não alterarão a situação. Quanto a Portugal, é o ridículo de sempre. Mal li aqui que o Ministro da Defesa afirmava que Portugal vai participar na coligação contra o Estado islâmico, julguei que se estava a planear uma cruzada, ao velho estilo do "Por El-Rey e São Jorge aos Mouros!". Mas afinal o Ministro explicou que "a seu momento se verá" de que forma Portugal participará, tendo em conta que a colaboração pode acontecer de várias formas, designadamente através "de treino, de inteligência, de formação" ou humanitária. Quanto a tropas no terreno, cruzes canhoto. Está visto assim que o Ocidente não vai ter a mínima hipótese de ganhar esta guerra.
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O senhor que se segue.
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As inundações em Lisboa.
Não tivesse Lisboa um presidente da câmara em tempo parcial, convencido de que os eleitores o escolhem para ele se dedicar a mais altos vôos, e a cidade preparar-se-ia adequadamente para a chegada das chuvas. Mas como o presidente da câmara de Lisboa tem sempre outras coisas a que se dedicar, a cidade transforma-se todos os anos num verdadeiro rio logo que chegam as primeiras chuvas. Nada que preocupe António Costa que amanhã trava um debate decisivo para ser o candidato do PS a Primeiro-Ministro e para quem isto é uma questão menor. Ainda havemos de ouvir dizer se tratou de uma manobra de São Pedro para interferir nas primárias do PS. Na verdade, São Pedro está a pôr a nu a tão afamada grande capacidade de gestão autárquica que a boa imprensa de Costa vê nele e que eu sinceramente nunca vi. Costa nem sequer pode proclamar: "Après moi, le déluge!". Em Lisboa o dilúvio surge sempre com ele.
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Outra explicação.
Também estranhei a influência que a discussão sobre as consequências económicas e os riscos financeiros tiveram no debate sobre a independência da Escócia. Do Kosovo a Timor-Leste, e passando por todas as ex-repúblicas soviéticas, nunca vi que a economia tivesse algum peso na decisão dos eleitores de uma nação em escolherem a sua independência. No caso da Escócia não foi, porém, isso o que se passou, sendo esse um dos pontos essenciais do debate. Mas há uma explicação simples. Afinal este personagem não era escocês?
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Um golpe baixo.
Já tinha aqui escrito que o Não iria ganhar o referendo, devido à artilharia pesada que utilizou e que assustou os escoceses. Nunca pensei é que chegassem ao ponto de recorrer a um golpe tão baixo como este.
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A independência da Escócia.
Não acredito na vitória do Sim no referendo de amanhã, em virtude da artilharia pesada utilizada nos últimos dias pelos defensores do Não, sendo que até a Rainha, quebrando a sua tradicional neutralidade, decidiu fazer campanha nesse sentido. Tal não significa, no entanto, que não tenha simpatia pela proposta de independência escocesa, até pelo paralelo com a independência portuguesa. Na verdade, Portugal nunca perdeu a independência, uma vez que houve apenas uma união pessoal, com o Rei de Espanha a ser a partir de 1580 também Rei de Portugal. Na mesma altura, Jaime VI, Rei da Escócia desde 1567 adquire a coroa inglesa em 1603, ocorrendo também uma união pessoal das duas coroas, mas com os reinos a manterem-se separados. A partir de 1707 Escócia e Inglaterra formaram o Reino da Grã-Bretanha, passando a união pessoal desses reinos a uma união real, com a formação do Reino Unido. É o que teria a sucedido a Portugal se em 1 de Dezembro de 1640 um grupo de patriotas não tivesse expulsado o monarca espanhol, data que este governo vergonhosamente proibiu que fosse celebrada. Se a Escócia se tornasse amanhã independente, só se estaria assim a corrigir uma injustiça histórica, que Portugal conseguiu a tempo evitar.
A Escócia tem todas as condições para ser independente. Tem recursos naturais, uma economia estável, um bom sistema de segurança social e uma população qualificada. A dissolução da Jugoslávia demonstra, por outro lado, que não são os opositores da independência que a conseguem travar quando os povos querem seguir o seu próprio destino. A Croácia e a Eslovénia foram envolvidas numa guerra civil e isso não foi motivo para prescindirem da sua independência. O argumento de que a União Europeia rejeitaria a entrada da Escócia é perfeitamente ridículo. A Escócia está na então CEE desde 1973 e é evidente que ninguém se atreverá a rejeitar a sua entrada quando se admitiu a Croácia e a Eslovénia. E mesmo que rejeitasse, só a União Europeia é que perderia com isso, dado que a Escócia ficaria em posição similar à da Noruega, que demonstrou que se pode viver perfeitamente fora da União.
É por isso que, embora me palpite que a artilharia dos últimos dias vai levar o Não a ganhar por larga margem, compreendo perfeitamente os apoiantes do Sim. Outro dia encontrei um escocês que me garantiu que ia votar Sim, pois achava que era uma oportunidade histórica, que só tinha surgido uma vez em 300 anos, e que por isso não poderia ser desperdiçada. Tive que concordar com ele.
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Rumo ao socialismo das pessoas.
Há uma coisa que a campanha do PS tem de bom. É a capacidade de nos fazer rir até as lágrimas. É precisamente o que se passa com este vídeo "Rumo ao Socialismo das Pessoas", a fazer lembrar o velho slogan "Rumo ao Socialismo", que nos prometia os gloriosos amanhãs que cantam e afinal só oferecia miséria. Mas hoje este vídeo até poderia ser visto como uma metáfora contra o socialismo, representando um Estado que vem apropriar-se abusivamente dos ganhos que só o muito trabalho dos privados consegue produzir. Mas afinal o seu significado é mais prosaico. António José Seguro avisa-nos que foi ele que semeou e fez crescer o PS e agora António Costa o quer pôr à lapela. De facto temos que reconhecer que a perfidez de António Costa não tem limites. Como é possível querer cortar e pôr à lapela aquele cravo, que afinal estava a crescer tão viçoso? Devolva o cravo ao Seguro e já!
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Novo banco, história velha.
Tinha escrito aqui que a solução encontrada para o BES era um desastre, devido aos inúmeros litígios judiciais que iria causar, podendo estender o colapso a toda a Banca, e que no fim, tal como no BPN, seriam os contribuintes a pagar a factura. Na altura, a minha posição foi criticada por inúmeros comentadores, que louvavam esta medida. Agora o desastre da solução encontrada está à vista com a administração do Novo Banco em debandada. É evidente que o Novo Banco não vale o dinheiro que o Estado lá colocou e que, por muita publicidade que todos os dias faça, a sua marca não tem qualquer valor num sector altamente competitivo. Por isso, ninguém sabe o que fazer. Se o mesmo fosse vendido hoje, será por tuta e meia, ficando o Estado a arder com a maior parte do dinheiro que lá colocou. Se for vendido mais tarde, corre o risco de ainda valer menos, saltando o Estado de administração em administração, deixando arrastar as coisas numa penosa decadência. Em qualquer dos casos serão sempre os contribuintes a pagar a factura. Na verdade, a solução Banco Bom-Banco Mau vale tanto como a história do Lobo Mau e do Capuchinho Vermelho, só servindo para adormecer as criancinhas. O problema é que os investidores não são criancinhas para acreditar piamente na pureza do Bom, agora que o que era Mau foi expulso. Por isso os resultados estão à vista. Pena é que haja tanta gente que prefere continuar a acreditar em contos de fadas, em lugar de ver a dura realidade à sua frente.
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Empate técnico.
António Costa julgava que os seus debates com Seguro seriam um passeio, pelo que ontem entrou displicente, tendo saído completamente esmagado. Por esse motivo, hoje percebeu que tinha que entrar ao ataque e foi o que fez, mas nunca conseguiu encostar Seguro às cordas. Costa conseguiu marcar alguns pontos, especialmente quando desvalorizou as propostas de Seguro, mas este deu-lhe o golpe mais forte da noite, quando lhe disse que Costa estava à varanda do município, tendo este ficado sem palavra. Resultado final: um empate técnico, com uma vantagem quase imperceptível para Seguro.
Depois da derrota estrondosa no primeiro debate, Costa precisava de ganhar o segundo e não o conseguiu, reforçando a opinião que corre de que todos os dias perde terreno. Pessoalmente acho que Seguro se apresenta nos debates mais bem preparado, sendo confrangedor ver o vazio total do discurso de António Costa. Hoje acrescentou à sua "agenda para a década" a "fisioterapia". Mas penso que os apoios que António Costa tem na comunicação social vão-lhe permitir fazer a quadratura do círculo de ganhar estas primárias, mesmo perdendo todos os debates. O PS é que de debate em debate vai perdendo as próximas eleições. No fim disto, quem vai precisar de "fisioterapia" é o PS, quando António Costa lhe apresentar "uma agenda para a década" de oposição.
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Vitória de Seguro por K.O.
Com grande surpresa minha, António José Seguro esmagou completamente António Costa. Não apenas pôs a nu todas as suas contradições passadas como também demonstrou que ele não tem qualquer solução concreta para a actual crise no país. António Costa limita-se a papaguear que tem uma agenda para a década, mas não é sequer capaz de responder qual a política fiscal que defende, o que é confrangedor num candidato a primeiro-ministro. Pelo contrário, António José Seguro entrou a matar, acusando o seu adversário de traição, e mostrou-se muito mais bem preparado em todas as questões, encostando sempre o seu adversário às cordas. Acho que os debates não vão alterar a tendência existente a favor de Costa, mas é evidente que Seguro vai vender cara a derrota. Mas, ao contrário do que se pensava, o PSD até pode ficar com a vida mais facilitada com António Costa na liderança do PS do que com António José Seguro. Na verdade, se António Costa é esmagado desta forma por António José Seguro, imagine-se se o seu interlocutor no debate fosse Passos Coelho.