O pecador arrependido.
Mostrando que não tem vocação para imitar Durão Barroso, que chegou a ameaçar o seu próprio país de que estaria o caldo entornado se não fizessem o que a troika mandava, Jean-Claude Juncker assume o papel de pecador arrependido. Veio assim reconhecer que a Comissão Europeia pecou contra a dignidade de Portugal e Grécia. Só lhe faltou dizer as palavras sacramentais: "Confiteo Deo omnipotente, omnibus sanctis et vobis frates quia peccaui nimis cogitationes, verbo et opere, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa".
Perante esta confissão integral e sem reservas, só poderíamos esperar que a União Europeia viesse a responsabilizar-se formalmente, assumindo todas as culpas pelos pecados cometidos contra Portugal e Grécia. Efectivamente, os memorandos de entendimento celebrados com a troika foram um exercício de sadismo e punição, só comparáveis ao contrato de submissão das 50 Sombras de Grey. Não admira por isso que os gregos queiram fugir a correr desse contrato enquanto que Schauble grita furiosamente que o mesmo há-de ser cumprido até ao fim.
Já Portugal, que há poucas semanas era considerado como tendo perdido ímpeto (et pour cause!), agora passou a ser visto por Schauble como um exemplo a seguir. Comovido com o elogio, já veio o Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares considerar infelizes as declarações de Juncker já que a dignidade dos portugueses nunca foi beliscada. Beliscada de facto não foi. Chicoteada foi seguramente. Mas pelos vistos há quem ache, mesmo perante o arrependimento dos outros, que ainda não foi suficiente.