A volta a Portugal de António Costa.
Leio aqui que António Costa vai dar a volta ao país, começando por Braga, Guimarães e Barcelos. E quem é que vai gerir a Câmara de Lisboa, que fica a cerca de 400km de distância, durante esse período? Ou será que Lisboa já não precisa para nada de um Presidente da Câmara?
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O PS seguidor do Syriza.
Bem pode o Bloco de Esquerda andar eufórico com o governo do Syriza na Grécia. Como bem se salientou aqui, a proximidade do Syriza é afinal com o PS, como se pode ver por este cartaz de propaganda de Alexis Tsipras em que, à boa maneira estalinista, João Semedo é apagado da fotografia para ficarem apenas Mário Soares e o próprio Tsipras. Precisamente por isso as propostas do Syriza já têm seguidores no PS. Depois de Varoufakis ter prometido que iria criar brigadas de turistas, domésticas e estudantes para fiscalizar as fugas ao fisco, agora a Câmara de Lisboa, liderada por António Costa, vai também criar uma brigada de voluntários para fiscalizar o lixo mal colocado nos contentores. Les beaux esprits se rencontrent.
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Um caso perdido.
Ao contrário do que sucedia no tempo de António José Seguro, em que era seguro que o PS iria ganhar as próximas eleições legislativas, hoje, com António Costa, todas as apostas são possíveis em relação ao próximo resultado eleitoral. A explicação para isso é simples. Seguro tinha tido o cuidado elementar de romper com o passado de Sócrates, enquanto que Costa assumiu, quando se candidatou, querer reabilitar esse passado. Foi esse o objectivo principal da sua candidatura, e daí o apoio total dos socráticos do PS, que Costa fez questão de voltar a chamar, mal assumiu o cargo. Hoje parece evidente que a candidatura de Costa no PS era especialmente uma forma de lançar Sócrates para Belém, o que os socráticos sabiam que com Seguro seria completamente impossível.
A prisão de Sócrates destruiu essa estratégia e António Costa, embora esteja rodeado de socráticos, fez questão de isolar o PS do processo em que Sócrates estava envolvido. Apesar de se ter declarado amigo de Sócrates, só foi a Évora no último dia do ano e ainda hoje não lá voltou, enquanto que Mário Soares tem lá ido constantemente. O problema é que se Costa não vai a Évora, Évora tem vindo constantemente ter com ele, com as sucessivas comunicações que Sócrates faz sair, uma delas um ataque pessoal duríssimo a Passos Coelho, e que eclipsam completamente as frouxas declarações políticas de Costa. Por outro lado, o facto de o processo de Sócrates estar a decorrer nesta altura e envolver situações relativas ao período em que Sócrates foi primeiro-ministro é completamente mortal para quem queira precisamente elogiar o governo anterior e criticar o governo que se lhe seguiu. Terá sempre a resposta que Passos insinuou quando foi criticado pelas suas falhas na relação com a segurança social.
A estratégia de Costa para resposta a este problema complexo foi totalmente infantil. Resolveu atrasar o relógio vinte anos para os eleitores se esquecerem do governo de Sócrates e pensarem que vamos voltar aos governos de Cavaco Silva. Só que Cavaco Silva saiu em 1995, e grande parte dos eleitores, ou não tinha nascido, ou não se lembra nada desse tempo. Por muito que António Costa queira, não é António Guterres a querer substituir Cavaco Silva. É António Costa a querer substituir Passos Coelho, que foi para o governo devido ao desastre que foi o governo de Sócrates, que António Costa defendeu até ao último minuto em que esteve no poder e que queria voltar a defender hoje.
A única hipótese de o PS ganhar as eleições era romper com o passado e apresentar um conjunto de rostos completamente desconhecidos do eleitorado. António Costa foi buscar velhos rostos e acha que está a regressar ao combate político de há vinte anos. António Costa é um caso perdido, e vai arrastar o PS com ele.
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A política pura e dura na televisão.
À semelhança da Teresa também eu estou a acompanhar com muito interesse Os Influentes, depois já ter feito o mesmo com a Borgen. Onde já não a acompanho é na relevância dada à actual House of Cards, a meu ver mais uma cópia americana de má qualidade de uma extraordinária série da BBC, a House of Cards, que passou em 1995. Bem podem ter as mesmas iniciais (FU), e Kevin Spacey ter o talento a que já nos habituou, mas a meu ver Frank Underwood nunca baterá Francis Urquhart
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O Varoufakis nunca leu o Tintin.
Se o tivesse feito, não precisava de se declarar agora arrependido da entrevista que deu. Há muito que saberia que não se pode dar entrevistas à Paris Flash, perdão Paris Match.
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A esquerda caviar.
Há muito tempo que a esquerda tem um problema complicado com a exibição pelos seus partidários de uma vida de luxo e glamour, ao mesmo tempo que defendem a igualdade e a distribuição da riqueza. Surge assim a expressão "esquerda caviar", para designar a hipocrisia dessas posições, normalmente aplicável especificamente à extrema-esquerda, uma vez que os comunistas são muito mais cautelosos em evitar fazer essas figuras. Álvaro Cunhal vivia uma vida de completo mistério e declarava sempre que era modestamente pago no partido. Lembro-me de, numa entrevista, ele ter declarado descontraidamente que ganhava vinte contos mensais (hoje 100 euros) apesar de ser visível que o fato que trazia vestido custava mais do que isso. Por esse motivo Veiga de Oliveira caiu em desgraça no PCP apenas por ter declarado numa entrevista que o prato de que mais gostava era a lagosta. Hoje Jerónimo de Sousa alinha pelo mesmo diapasão e os militantes comunistas continuam a fazer questão em não exibir luxos. Curiosamente esse mesmo padrão é observado pela direcção mais à esquerda que alguma vez existiu no partido trabalhista inglês, agora liderado por Ed Miliband, o Red Ed. É assim que o mesmo, que é dono de uma casa de três milhões de euros, até conseguiu esconder a cozinha numa entrevista que deu, tendo-se feito fotografar na sua segunda cozinha, em ordem a parecer que vivia num apartamento modesto.
Pelo contrário, a extrema-esquerda não tem qualquer problema em ostentar os denominados "sinais exteriores de riqueza" e até faz gala em os exibir. É assim que Yanis Varoufakis, que já mostrava descaradamente o seu cachecol Burberry nas reuniões do Eurogrupo, faz-se agora fotografar para a Paris Match no seu magnífico apartamento em Atenas com vista para a Acrópole, degustando um opíparo jantar, bem regado a vinho branco, a que se seguiu uma sessão de piano.
Se me perguntarem qual das reacções prefiro, confesso que acho a atitude de Varoufakis bastante mais descontraída do que a de Miliband, até pela inveja que seguramente causa em meio mundo. O problema é que ninguém acredita na crise humanitária na Grécia e na necessidade de o Eurogrupo avançar rapidamente com dinheiro quando vê o estilo de vida adoptado pelo Ministro das Finanças grego. Tudo isto demonstra o amadorismo com que o novo governo grego está a trabalhar, não tendo sido sequer capaz de montar uma estratégia de comunicação que evitasse fazer estas figuras. É que por este andar a tragédia grega — que é verdadeira - corre o risco de parecer afinal uma comédia.
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De novo o eixo Espanha-Portugal.
Passos e Rajoy queixam-se de Tsipras à UE.
Juncker acusa Portugal e Espanha de terem sido muito exigentes com a Grécia.
É o que se chama ir buscar lã e sair tosquiado.
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Uma resposta brilhante.
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O eixo Espanha-Portugal.
Numa reunião do comité central do Syriza, o presidente desse partido Alexis Tsipras, afirmou o seguinte: "Descobrimos um eixo de poderes liderado pelos governos de Espanha e de Portugal que, por motivos políticos óbvios, tentou levar a Grécia para o lado, para o abismo durante todas as negociações". E acrescentou que "o plano deles era e é desgastar-nos, derrubar o nosso governo ou levar o nosso Executivo a uma rendição incondicional antes que o nosso trabalho comece a dar frutos e que o exemplo da Grécia afecte outros países, sobretudo antes das eleições em Espanha". Trata-se de liguagem tipicamente partidária, para consumo interno do Syriza, mas que não deixa de ter um fundo de verdade. Afinal de contas não foi a imprensa alemã que noticiou que Maria Luís Albuquerque tinha pedido a Schaeuble para ser duro em relação à Grécia?
Portugal e Espanha ficaram obviamente ofendidíssimos com as acusações de Alexis Tsipras. E para assegurar que não formam eixo nenhum, resolveram enviar um protesto conjunto em carta assinada por ambos — importam-se de repetir? — destinada aos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Conselho Europeu, Donald Tusk. Presumo assim que estejam cortadas as relações diplomáticas com a Grécia, pois caso contrário seria de esperar que o protesto fosse enviado por via diplomática a este país. Claro que é altamente original governos protestarem por declarações feitas num encontro partidário, mas a confusão é tanta que já ninguém conhece as regras.
Em qualquer caso, esta reacção conjunta demonstra claramente que afinal Tsipras estava cheio de razão. Há, de facto, presentemente um eixo Espanha-Portugal. O que demonstra a falta que estão a fazer as comemorações do 1º de Dezembro no nosso país.
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O novo olhar.
Uma das coisas claras que distinguiu António Costa de António José Seguro foi ter apoiado a reforma do mapa judiciário de Paula Teixeira da Cruz, uma das coisas mais desastrosas que se fez no sistema judicial. Nada que seja de estranhar pois António Costa como Ministro da Justiça também tem no seu currículo reformas absolutamente desastrosas, como a obrigação de os mandatários se notificarem uns aos outros, ou a preparação da reforma da acção executiva, depois executada por Celeste Cardona, que transformou o país num paraíso para os devedores. Não é por isso de admirar que logo que se apanhou secretário-geral do PS, António Costa tenha imediatamente abandonado a proposta de António José Seguro de reabertura dos tribunais.
Confrontado com o desastre que isto está a ser, António Costa propõe agora um novo olhar sobre o mapa judiciário que permita que "em todas as sedes dos concelhos se realizerm os julgamentos que digam respeito às gentes desses concelhos". Uma vez que o actual mapa judiciário deixou de referir a comarca ao concelho para esta passar a ter antes como referência o distrito, não vejo como se consegue que os tribunais voltem a funcionar ao nível do concelho sem uma alteração radical desta reforma. António Costa está convencido que consegue isto apenas com um novo olhar? Deve ter o mesmo efeito do que quando prometeu terminar com a austeridade com uma simples leitura inteligente do tratado orçamental.
Duvido por isso que António Costa chegue a algum lado com este "novo olhar". É que os eleitores não são cegos.