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O zigue-zague.

Quarta-feira, 30.09.15

António Costa derrubou Seguro com o argumento de que ele não estava a respeitar o passado de Sócrates.

 

 

Logo a seguir, no entanto, largou Sócrates à sua sorte, só o indo visitar uma vez à prisão. 

 

Posteriormente, iniciou a campanha, propondo aumentos da despesa pública para estimular o consumo interno, incluindo até a delapidação de 10% do Fundo de Estabilização da Segurança Social. 

 

Agora demarca-se de Sócrates, garantindo que não vai apostar em grandes obras públicas nem aumentar a despesa pública. 

 

António José Seguro tem andado de forma inteligente em silêncio perante tanto disparate junto. Mas António Costa lá conseguiu que viesse um apoiante de Seguro, Carlos Zorrinho, a um comício seu. O que proclamou este, então? Que "Portugal precisa de António Costa primeiro-ministro na próxima década". Na próxima década? Só se for então a partr de 2020, que por enquanto ainda só vamos a meio desta década. De facto, a vingança serve-se fria.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 20:25

O escândalo Volkswagen.

Segunda-feira, 28.09.15

O escândalo Volkswagen constitui um exemplo típico da forma como as empresas podem usar os desenvolvimentos tecnológicos para a fraude e como tantos discursos sobre a corporate responsability afinal podem conduzir a isto.

 

software na indústria automóvel tem contribuído para tornar os automóveis mais seguros. Um dos exemplos é o ABS que permite perceber quando o carro está em derrapagem com uma roda a deslizar sem rodar, compensando a situação travando e libertando as rodas. A empresa lembrou-se de usar o mesmo princípio para detectar se o carro estava a ser usado não em estrada, mas num banco de ensaios, recolhendo como indícios só estarem a rodar as rodas da frente (as únicas com tracção) ou o volante estar fixo, ou o carro estar numa altura maior ou sem alterações na pressão atmosférica exterior. Nesses casos, o motor reduzia a emissão de gases poluentes, permitindo bons resultados nos testes.

 

Como aqui se explica, o assunto só foi descoberto porque na América surgiu uma associação privada, o International Council on Clean Transportation, que decidiu fazer testes às emissões dos carros na estrada, descobrindo que o VW Passat tinha emissões 5 a 20 vezes superiores aos resultados anunciados. Contactada a Volkswagen, esta respondeu que tinha sido um erro de medição nos testes feitos pelo ICCT. Este não ficou, porém, satisfeito, denunciando o assunto publicamente, desencadeando a intervenção da United States Environmental Protection Agency (EPA). Esta pressionou várias vezes a Volkswagen para explicar o que se estava a passar, mas esta limitava-se a dizer que se tratava de meras falhas técnicas. Até que a EPA informou a Volkswagen de que, se o assunto não fosse esclarecido, proibiria a comercialização dos carros nos Estados Unidos. Só com essa ameaça a Volkswagen confessou a criação do software. A EPA deu então uma resposta lapidar: o assunto deixa de ser da nossa competência e passa para a esfera do Departamento de Justiça. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos estão a ser preparadas inúmeras class actions contra a Volkswagen, com um exército de advogados americanos a querer representar os compradores de carros enganados.

 

A Volkswagen corre o risco assim de enfrentar inúmeros processos a nível mundial, que no limite podem pôr em causa a sua própria sobrevivência. É extraordinário que uma fábrica que sobreviveu à destruição total após a II Guerra Mundial e chegou a ser um ícone da cultura pop com modelos como o Carocha e o Pão de Forma, tenha agora a sua sobrevivência ameaçada por um escândalo desta proporção. E que sucedeu ao seu CEO Martin Winterkor, responsável por este escândalo? Foi para casa com uma indemnização de 28 milhões de dólares. Há algo de muito errado em tudo isto.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 11:34

O MRPP já não é o que era.

Quinta-feira, 24.09.15

É com tristeza que vejo o MRPP perder a veia revolucionária que sempre o caracterizou, para adoptar os cânones do politicamente correcto. Desde sempre que o MRPP albergou os políticos mais radicais que temos tido em Portugal, ainda que muitos deles com o tempo tenham adoptado uma atitude mais serena. É assim que Durão Barroso e Ana Gomes transitaram respectivamente para o PSD e para o PS, assumindo posições políticas importantes, procurando adoptar um discurso moderado, ainda que de vez em quando deixem escapar algum radicalismo, herdado seguramente da sua militância juvenil. Quando ouvi Durão Barroso a dizer que, ou Portugal fazia o que ele queria, ou estava o caldo entornado, logo me pareceu ouvir uma reminiscência dos seus tempos no MRPP.

 

Mas, se havia militantes que o abandonavam em busca de prados mais verdejantes, o MRPP permanecia idêntico ao que sempre foi. Sempre gostei por isso de ver as posições que assumiam, de um estalinismo e maoísmo convictos. Quando, por exemplo, os trotskistas sustentavam que a União Soviética se tinha desviado dos seus fins quando Estaline tomou o poder, o MRPP respondia, pelo contrário, que tal só tinha acontecido quando Estaline morreu.

 

É por isso que o MRPP era o único partido que nestas eleições assumia um discurso convicto, sem falinhas mansas. Enquanto os outros partidos titubeavam sobre a saída do euro, o MRPP proclamava convictamente "queremos o novo escudo", usando a denominação tradicional das moedas desvalorizadas. Quando os outros partidos iam debater na televisão com os seus inimigos de classe, o MRPP proclamava "morte aos traidores", fazendo-nos sentir que regressávamos a 1975, quando Otelo disse que ia pôr todos os fascistas no Campo Pequeno.

 

Mas agora tudo acabou. Bastou uma pequena sátira do Gato Fedorento, e logo o MRPP retira a frase da campanha. O MRPP rendeu-se agora ao politicamente correcto e passou a ser um partido como os outros. Bem pode Garcia Pereira dizer que a suspensão da frase não isenta os "traidores da morte certa que os espera". Nos velhos tempos o MRPP não suspenderia frase alguma. Proclamaria que ninguém iria calar a voz da classe operária e colocaria o Gato Fedorento na lista dos traidores a abater. Só podemos por isso concluir que o MRPP já não é o que era.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 16:22

A independência da Catalunha (2).

Quarta-feira, 23.09.15

Acho estranhíssimo que em Portugal não se apoie a independência da Catalunha, e se procure apostar no imobilismo, como se as fronteiras fossem imutáveis e os catalães tivessem necessariamente que ser espanhóis… à força.

 

Neste âmbito, não vale a pena agitar o fantasma da guerra civil de Espanha. Esta demonstrou precisamente a falta de unidade dos espanhóis, que Franco só conseguiu assegurar com mão de ferro. É isso que pretendemos para os povos da península nos dias de hoje? Esmagar as justas aspirações dos diversos povos que compõem a península, obrigando-os a uma vassalagem a uma monarquia ultrapassada, em que hoje cada vez menos se revêem?

 

Invoca-se para impedir a secessão da Catalunha a constituição espanhola. Se o argumento da constituição valesse alguma coisa, nunca teria havido descolonização em Portugal. Todas as colónias faziam parte do Estado Português, segundo a constituição de 1933, e não foi isso que impediu a independência dos países africanos. Uma constituição, para ser democrática, não pode assentar num paradigma imperial, que é a sujeição de um povo a outro, por muito maioritário que este seja. E não se venha falar que um referendo à constituição espanhola em 1978 proíbe que um país se declare independente 40 anos depois. A Ucrânia votou em referendo sucessivamente pela pertença à União Soviética e pouco tempo depois pela sua independência desta.

 

Falar da conferência da Ialta também não faz qualquer sentido. Ela foi em 1945 e estabeleceu fronteiras na Europa que hoje já não existem, passadas sete décadas. Depois de Ialta houve a reunificação da Alemanha, a dissolução da Jugoslávia, a dissolução da URSS, a dissolução da Checoslováquia e a dissolução da Sérvia. O que é que impede, por isso, que algo de semelhante se passe em Espanha?

 

Ao contrário do que se refere, é do interesse de Portugal a independência das comunidades espanholas. O país teria muito mais influência numa península atomizada do que numa península em que só tem como vizinho um Estado muito maior, que funciona como um dos grandes da Europa, relegando Portugal para a divisão dos pequenos países. 

 

As aspirações dos povos à independência são um assunto sério, não são uma brincadeira. Se houve uma vaga de independências africanas no séc. XX, pode perfeitamente ocorrer uma vaga de independências europeias no séc. XXI. Quando os ventos da História sopram, nada os pode parar. E muito menos o futebol.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 20:31

A independência da Catalunha.

Terça-feira, 22.09.15

Portugal tem uma dívida histórica para com a Catalunha. Se não tivesse sido a sua revolta contra Filipe IV na Guerra dos Segadores, entre 1640 e 1652, provavelmente este não teria tido qualquer dificuldade em esmagar a revolta portuguesa de 1640, que comemorávamos no feriado do 1º de Dezembro, que este governo vergonhosamente aboliu. Desde 11 de Setembro de 1714 que a Catalunha está totalmente incorporada no Estado espanhol, apesar de constituir claramente uma nação própria, com um povo e uma língua diferente. Não há por isso motivo nenhum para que não aspire a ser um Estado e, se as eleições do próximo domingo derem maioria aos independentistas, nada haverá que o possa impedir.

 

Já se sabe, no entanto, que nestas alturas surgem sempre os do costume, a invocar o discurso do medo e do terror, ameaçando com a expulsão da Catalunha de todos os organismos internacionais, como se um país que se tornasse independente se tornasse por causa disso um Estado pária. Afinal de contas se a Estónia, a Eslováquia e a Croácia se tornaram independentes, o que é que impede que a Catalunha o venha a ser? Ou a independência dos países está reservada aos que se situavam no antigo bloco de Leste, passando a ser anátema se ocorrer deste lado da antiga cortina de ferro?

 

Mas o argumento mais ridículo que até agora vi usar é a ameaça de expulsão do Barcelona da Liga Espanhola, caso a Catalunha ganhe a independência. Se julgam que este tipo de argumentos tem alguma influência nos eleitores catalães, estão muito enganados. Fartos de ligas espanholas andam eles.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 06:03

Um grande sarilho.

Sábado, 19.09.15

Ontem houve sondagens para todos os gostos. Pedro Magalhães fez aqui o favor de tirar a média do que tudo isto pode significar. O exercício é útil, mas não me parece totalmente decisivo, uma vez que houve uma claríssima inflexão nos últimos dias, em que António Costa passou num ápice de vencedor claro a derrotado colossal. Mas, mesmo partindo desse exercício, as perspectivas são sempre más para o PS e péssimas para o país.

 

A primeira análise a fazer é que o PS continua em queda, sem que no entanto a coligação suba. Isso só pode significar que está a haver uma sangria dos votos do PS para o Bloco de Esquerda, enquanto que a CDU se mantém estável. Devo dizer que é um resultado que não me espanta, depois da vitória clara de Catarina Martins no debate com António Costa. Se isso ocorrer, a estratégia do PS sai derrotada em toda a linha, uma vez que António Costa decidiu colocar o partido totalmente à esquerda, alinhando até num apoio frentista a Sampaio da Nóvoa, e alienando com isso o eleitorado do centro, para afinal não conseguir conquistar qualquer voto útil à esquerda. Parece-me, aliás, que António Costa já desistiu do eleitorado do centro, razão pela qual agora se concentra num discurso cada vez mais radical, a ver se consegue estancar essa fuga dos eleitores de esquerda. A inenarrável proposta de não viabilização do orçamento de Estado, impensável em qualquer candidato a primeiro-ministro com um mínimo de credibilidade, é bem o sintoma desse desespero.

 

A outra conclusão que todas as sondagens dão é que, mesmo que o PS tenha maior número de votos, a coligação vai ter mais deputados. Esse é um fenómeno resultante da distribuição do eleitorado pelos círculos, que provoca essas distorções. Muitas vezes a UDP elegeu um deputado, tendo menos votos do que o MRPP, ao contrário deste, porque ele dispersava os seus votos pelo país, enquanto que a UDP os concentrava em Lisboa. Cavaco diz que nesse caso convidará para formar governo quem tenha mais deputados, o que parece constitucionalmente correcto. Só que, se Costa não viabiliza o orçamento, também não viabiliza um governo minoritário da coligação, pelo que este não passará no parlamento, uma vez que tem garantido, não apenas o chumbo do PS, mas também da CDU e do BE. E também estaria excluído um governo de coligação PAF + PS, até porque neste caso seria Passos Coelho o primeiro-ministro, o que Costa nunca aceitaria.

 

Neste caso, excluindo do governo a coligação PAF, a sondagem do Expresso diz que só haveria maioria com um governo PS + CDU, o que nenhum dos dois partidos quer. Já um governo minoritário do PS, tendo a coligação mais deputados, só poderia passar no parlamento se fosse viabilizado pela própria CDU, o que o tornaria dependente do apoio de Jerónimo de Sousa para toda e qualquer medida, incluindo qualquer exigência de disciplina orçamental por parte da União Europeia. Jerónimo de Sousa bem pode dizer que nesse caso não teria o futuro do governo PS nas mãos, que eu digo que o teria totalmente no bolso.

 

Se o que as sondagens dizem estiver correcto, o país acordará no dia 5 de Outubro num cenário de verdadeira catástrofe. O parlamento não terá quaisquer perspectivas de gerar um governo estável, nem sequer de aprovar um orçamento, com a agravante de não poder ser dissolvido durante seis meses. O governo estará em funções de gestão, sendo substituído provavelmente por sucessivos governos à direita e à esquerda, que cairão no parlamento à primeira oportunidade. O presidente aguardará pelo fim do seu mandato sem nada poder fazer. Com um país ingovernável nestes termos, não me espantaria que um novo resgate surgisse ao virar da esquina.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 12:17

Derrotado em toda a linha.

Quinta-feira, 17.09.15

O debate de hoje teve um vencedor claro: Passos Coelho. Hoje apresentou-se pela primeira vez em forma, perante um António Costa que se manteve absolutamente igual ao debate anterior. Só que a prestação de António Costa, se lhe permitiu vencer um Passos Coelho apagado, já não lhe evitou uma derrota colossal com Catarina Martins. Era por isso evidente que bastaria Passos Coelho crescer um pouco para António Costa sair derrotado em toda a linha. Foi o que se passou.

 

Passos Coelho começou por corrigir os erros do anterior debate, ao não ter respondido à crítica disparatada do aumento da dívida e ao auto-elogio (falso) da sua redução em Lisboa. Desta vez fê-lo de forma esclarecedora, aproveitando ainda para chamar a atenção para as miríficas promessas que António Costa tinha feito aquando da sua campanha em Lisboa.

 

Passos Coelho percebeu ainda o que já era óbvio depois da entrevista com Vítor Gonçalves e do debate com Catarina Martins: António Costa passa a vida a dizer que tem compromissos escritos no programa, mas não percebe nada do que lá está. A Vítor Gonçalves nada respondeu, tendo tido a atitude ridícula de lhe entregar um resumo do programa e a Catarina Martins limitou-se a repetir as acusações ao corte de pensões da direita, sendo incapaz de explicar os números que constavam do seu programa. 

 

Hoje António Costa foi igualmente incapaz de dar explicações sobre o seu programa, dizendo apenas generalidades ou acusando o adversário. Até numa pergunta simples sobre o modelo de escalões que defende para o IRS nada disse, alegando que lhe faltava "informação fina". O quadro de receita fiscal constante do orçamento e os dados da sua execução são por acaso "informação grossa"?

 

Curiosamente a estocada decisiva em António Costa não foi dada por Passos Coelho, embora este a tenha imediatamente cavalgado, mas por Graça Franco. Esta perguntou a António Costa a que prestações da segurança social queria aplicar a condição de recurso, conforme tinha previsto no seu programa. António Costa foi incapaz de dar qualquer resposta e, apesar das insistências da jornalista e de Passos Coelho, limitou-se mais uma vez a papaguear generalidades. Provavelmente bem lhe apeteceria repetir o número que fez com Vítor Gonçalves, mas percebeu que não tinha condições para o fazer.

 

No fim do debate, após um briefing com Mário Centeno, lá foi capaz de responder alguma coisa aos jornalistas. A meu ver, foi pior a emenda do que o soneto, pois a imagem que ficou foi a de um político impreparado, que se limita a debitar um programa elaborado por Mário Centeno, do qual nada percebe, a não ser que o mesmo Centeno lhe explique. António Costa bem pode protestar que isto é um "não caso", que a generalidade dos analistas vê nisto um caso muito sério.

 

Tem sido afirmado que os debates em nada influenciam o resultado eleitoral, a não ser que um dos candidatos cometa uma gaffe monumental. A meu ver foi o que se passou hoje. O que torna imprevisível quem vai vencer as eleições. A partir de agora all bets are over.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 17:04

A revelação da campanha.

Terça-feira, 15.09.15

 

Para mim, esta campanha tem sido absolutamente medíocre. Passos Coelho manifestamente não está em forma, obrigando Paulo Portas a assumir grande parte do esforço da campanha, o que tem feito de forma competente, mas sem rasgo. Já António Costa, depois de ter passado a pré-campanha a dar tiros no pé, conseguiu um suplemento de alma no debate com Passos Coelho, que desbaratou no dia seguinte na entrevista a Vítor Gonçalves, onde se demonstrou claramente, para grande irritação de Costa, que o PS pode ter feito as contas, mas as mesmas não batem certo. Já Jerónimo de Sousa é o que sempre foi, para o melhor e para o pior.

 

A grande surpresa desta campanha é, por isso, Catarina Martins. Concorde-se ou não com as suas propostas — e eu não concordo de todo — não há dúvida de que tem conseguido levar a água ao seu moinho, apresentando-se bem preparada, com um discurso coerente, tendo vencido todos os debates em que participou, com excepção daquele com Jerónimo de Sousa, onde intencionalmente jogou para o empate. Venceu Portas em toda a linha, venceu tangencialmente Passos Coelho, e arrasou António Costa no campo onde este se pretende agarrar a todo o custo: o seu próprio programa. Depois de António Costa acusar a direita de querer cortar 600 milhões nas pensões, ficará seguramente no ouvido dos pensionistas os 1600 milhões de perdas nas pensões, que Catarina Martins demonstrou estarem no programa do PS. 

 

O debate com António Costa era o mais importante para o Bloco de Esquerda, pois era aí que poderia estancar ou abrir a fuga dos  eleitores do Bloco para o voto útil no PS. A meu ver, Catarina Martins conseguiu estancar essa fuga, encostando Costa completamente à direita, quando ele é o líder mais à esquerda do PS desde sempre. Quer na segurança social, quer no despedimento conciliatório, Catarina Martins encostou António Costa às cordas da direita, terminando com uma estocada final decisiva, a perguntar se faria acordo com ela ou com Rui Rio ou Paulo Portas. Costa limitou-se em seguida a papaguear umas vaguidades, fugindo à questão, o que seguramente não será positivo para atrair o voto útil à esquerda.

 

Se se perguntasse qual era o líder partidário que tinha a situação mais difícil nestas eleições eu diria que era Catarina Martins. O Bloco tinha perdido o seu líder histórico, depois do abandono de Francisco Louçã, e a liderança bicéfala de João Semedo e Catarina Martins tinha sido um fracasso. O Bloco assistia a sucessivas cisões, que davam lugar a novos partidos, como o Livre, o MAS, ou o Agir, sendo que, mesmo dentro do próprio Bloco, a única forma de se porem de acordo foi atribuir a liderança a seis pessoas, ficando Catarina Martins como simples porta-voz. E o PS aproveitava esta divisão, chegando a convidar Rui Tavares, do Livre, para os seus congressos.

 

Hoje, os partidos que resultaram da cisão do Bloco estão reduzidos a fazer umas simples piruetas mediáticas, enquanto que o próprio Bloco, através de Catarina Martins, tem tido uma excelente prestação nesta campanha. Tenha o resultado eleitoral que tiver, a partir de agora o Bloco de Esquerda tem uma líder. O que, nos tempos que correm, não é coisa pequena.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 11:39

O radicalismo trabalhista.

Segunda-feira, 14.09.15

Depois do desastre que foi a liderança de Ed Miliband, o Red Ed, cuja viragem à esquerda conduziu os trabalhistas a uma derrota histórica, esperava-se que os militantes do partido trabalhista ganhassem algum juízo e escolhessem um líder credível que os conduzisse novamente à vitória eleitoral. Mas não. Foram escolher Jeremy Corbyn, defensor de uma esquerda ainda mais radical, que propõe estabelecer o desarmamento inglês, um aumento colossal de impostos, e sucessivas impressões de moeda. Se alguma vez fosse eleito, o Reino Unido voltaria num ápice aos desastrosos anos 70 do século passado. Como David Cameron acaba de escrever no twitter: "The Labour Party is now a threat to our national security, our economic security and your family's security". Está tudo dito.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:17

O debate.

Quinta-feira, 10.09.15

Passos Coelho pode orgulhar-se de ter dirigido o governo que conseguiu levar a bom porto o país, depois da situação mais complexa que qualquer governo teve em Portugal desde 1975, em grande parte por culpa do governo anterior. Como primeiro-ministro, revelou-se especialmente em dois momentos extremamente difíceis. O primeiro foi em Julho de 2013, quando segurou o governo, perante a demissão irrevogável do seu parceiro de coligação, Paulo Portas, evitando que a coligação se desfizesse, como sucedeu à AD em 1982 quando Freitas do Amaral tembém decidiu abandonar o barco. O segundo foi em Julho de 2014, quando recusou envolver o dinheiro dos contribuintes no colapso do BES, não repetindo assim o que Sócrates tinha feito com o BPN. Passos Coelho apresenta a seu crédito ter conseguido evitar novos resgates e ter colocado o país novamente a crescer. Por isso, como recentemente escreveu o insuspeito José Silva Pinto neste livro, mesmo que perca as eleições, sairá sempre do governo com a consciência tranquila.

 

O problema é que não se ganham eleições com base nos feitos do governo anterior, e muito menos a referir os deméritos do governo que tinham na altura substituído. Churchill também conseguiu no Reino Unido o enorme feito de vencer uma guerra que no início todos davam como perdida e nas eleições subsequentes foi esmagado pelos trabalhistas. Para ganhar eleições é preciso apresentar um projecto político consistente ao eleitorado e combater eficazmente por ele.

 

A coligação, pelo contrário, convenceu-se de que o balanço que poderia apresentar destes quatro anos chegaria para a vitória e que por isso bastaria aos seus líderes fazerem-se de mortos até às eleições. Diga-se de passagem que até ontem a estratégia parecia resultar, tantos eram os tiros que Costa estava a dar no seu próprio pé. Daí que os debates tenham sido menorizados, não se lhes tendo dado grande importância.

 

Só que a forma como Paulo Portas foi trucidado por Catarina Martins deveria ter feito soar as campainhas de alarme nos partidos da coligação, fazendo prever um combate muito duro com António Costa, no qual Passos Coelho teria que jogar ao ataque. No entanto, este apareceu à defesa, tendo tido muita dificuldade em aparar os golpes do adversário. Nem sequer respondeu a acusações que não tinham qualquer consistência, como a de ter aumentado a dívida. Como é que teria sido possível ela ter sido reduzida depois de o governo anterior ter pedido emprestado 88 mil milhões de euros e continuar todos os anos a existir défice no orçamento do Estado?

 

E deixou passar em claro a afirmação extraordinária de Costa de que tinha vendido terrenos da Câmara de Lisboa e decidido aplicar o montante no pagamento da dívida da autarquia. Como aqui se explica, Costa não vendeu terreno algum, já que eles tinha sido expropriados em 1942. Apenas se limitou a chegar a acordo numa acção que a Câmara tinha instaurado contra o Estado e que não tinha quaisquer garantias de vir a ganhar. E também não decidiu reduzir a dívida com o dinheiro recebido, pois não recebeu dinheiro algum. O acordo no processo foi que o Estado assumiria e passaria a pagar 43% da dívida da Câmara. É espantoso que surjam afirmações deste género num debate e que não surja por parte do adversário uma resposta à altura.

 

Ou os líderes da coligação deixam de fazer de mortos e se preparam a sério para este difícilimo combate ou serão apeados nas próximas eleições sem apelo nem agravo. E quem sofrerá com isso é o país, que passará se calhar a ter o único governo de frente popular da zona euro.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 12:38


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