A explicação.
Vejo muita gente à esquerda altamente preocupada com a suposta hesitação de Cavaco em dar posse ao magnífico Governo, que tão laboriosamente António Costa construiu em três "acordos" com os partidos à sua esquerda. Não compreendem as audições que o Presidente está a realizar e especialmente não conseguem compreender por que razão foi agora o Presidente à Madeira.
A explicação é simples: Cavaco foi à Madeira recordar as técnicas de anilhar cagarras. E quando voltar, explicará calmamente a António Costa que, ou ele anilha o BE, o PCP e o PEV num acordo de governo a sério, ou que se prepare para ser ele o anilhado, mantendo-se fora do governo até às próximas eleições.
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Freedom is not free.
Hoje a França bombardeou territórios do Estado Islâmico, dando assim uma resposta militar ao que foi um verdadeiro acto de guerra contra civis inocentes. Essa resposta só faz, no entanto, sentido se for para preparar uma invasão terrestre. Por muito que evolua a tecnologia, uma guerra só se ganha colocando tropas no terreno e ocupando o território do inimigo.
Neste momento, a guerra é de facto a única defesa possível, perante uma horda de bárbaros, que atacou brutalmente o coração da Europa. E não vale a pena sonhar com uma resposta política ou lamentar estarmos a perder tudo o que tínhamos garantido na Europa. Não é a política que vai paralisar os futuros ataques, a não ser que essa política seja a rendição pura e simples, caso em que, aí sim, perderíamos de facto tudo o que temos. E só temos garantido aquilo que estamos dispostos a defender, por muito que isso nos custe.
Há muito que os americanos sabem isso, que exprimem numa frase que diz tudo: "Freedom is not free". É bom que os europeus também o aprendam.
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We will always have Paris.
Se há cidade que simboliza a civilização europeia e o seu espírito de liberdade, essa cidade é precisamente Paris, a Cidade-Luz. Há muito que é uma cidade que está no coração de todos os europeus e por ela muitos combateram, até com sacrifício da própria vida.
Nas guerras religiosas francesas, Henrique IV, enquanto chefe protestante, conquistou quase todo o território francês, mas foi-lhe recusada a entrada em Paris, que permanecia como bastião do catolicismo. Para ter Paris, não hesitou em converter-se à religião católica, tendo então pronunciado a célebre frase: "Paris vale bem uma missa" (Paris vaut bien une messe).
Na II Guerra Mundial, a principal humilhação que os alemães causaram aos franceses foi precisamente a conquista de Paris, não hesitando em desfilar junto ao Arco do Triunfo, ultrage supremo desse símbolo da glória francesa. Quando o exército alemão começou a ser derrotado, Hitler quis destruir Paris, mas o governador alemão, Dietrich von Choltitz não lhe obedeceu, também fascinado pela beleza de cidade. A famosa pergunta de Hitler: "Paris já está a arder?" (Ist Paris verbrannt?) não teve a resposta que ele desejaria.
Há muito que acho que o Estado Islâmico está a desafiar todos os fundamentos da civilização europeia, numa barbárie sem precedentes, de que a destruição de Palmira é um triste símbolo. Quando se verifica, porém, um ataque no coração do continente europeu, mesmo na sua mais bela cidade, a resposta só pode ser uma: a guerra. E a mesma é inevitável, já que nenhuma contemporização se admite num caso destes. Como disse Churchill, a propósito da contemporização do governo de Chamberlain com Hitler: "Podiam ter escolhido entre a guerra e a vergonha. Escolheram a vergonha e terão a guerra".
Neste momento, os mortos e feridos de Paris exigem que se termine de uma vez por todas com esta situação na Síria, que já causou um número excessivo de mortos e refugiados, e, quer se queira, quer não, para isso são precisos exércitos no terreno. Mas é a civilização europeia que neste momento corre perigo, podendo ter o mesmo destino da civilização romana, caída às mãos de um grupo de bárbaros. E, por muito dura que uma guerra seja, pelo menos que no âmbito dela continue a ser possível a um casal de apaixonados dizer: "We will always have Paris".
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O voto do PAN.
Se há coisa que não consigo perceber, é porque é que António Costa, no seu afã de arranjar acordos com todos os partidos à esquerda, incluindo com o PEV, não fez acordo com o PAN. Só precisava de mais um acto de assinatura à hora do almoço, que não deveria custar muito e tinha assegurado mais um ingrediente imprescindível para esta salada russa que apresentou aos portugueses.
Quando eu ouvi, em pleno debate da moção de rejeição, o rapaz a questionar Passos Coelho sobre os transgénicos e os espectáculos tauromáticos, para depois votar a rejeição do governo, fiquei convencido de que estamos perante um autêntico génio político. E especialmente com a declaração de que não votou contra um governo de direita, mas contra um programa contrário aos princípios do seu partido. De facto, hoje o que se viu em São Bento foi uma verdadeira pega de caras.
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Felizmente há luar.
Nesta crónica, Mariana Mortágua utiliza a expressão "Felizmente há luar", para se referir ao derrube pelos partidos da esquerda do governo PSD/CDS. E diz: "É a esperança que renasce. Respeitá-la, fazê-la crescer e alimentar uma sociedade capaz de se mobilizar, de exigir e confrontar, é o maior dos desafios".
Era difícil ter usado uma analogia mais apropriada. A expressão "Felizmente há luar", que depois deu título a uma peça de Luís de Sttau Monteiro, remete-nos para um período negro da História de Portugal, mais precisamente o 18 de Outubro de 1817, em que, no lugar que é hoje o Campo dos Mártires da Pátria, foram enforcados onze companheiros de Gomes Freire de Andrade por se terem revoltado contra o General Beresford, que então governava Portugal. Essa expressão foi na altura utilizada porque D. Miguel Pereira Forjaz, quando deu a ordem de enforcamento ao intendente geral da polícia, referiu: "é verdade que a execução se prolongará durante a noite, mas felizmente há luar e parece-me tudo tão sossegado que espero não causar prejuízo algum".
Hoje vai igualmente escrever-se uma página negra, desta vez na história da democracia portuguesa, com todos os sacrifícios que foram realizados nos últimos anos a serem deitados fora, indo o país pagar a factura dessa irresponsabilidade. Espero, no entanto, que esse novo governo não nos chegue a atirar para uma situação semelhante à da frase que Mariana Mortágua cita.
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A entrevista de António Costa.
Da entrevista de António Costa de hoje retira-se o seguinte:
1- Ainda não conseguiu qualquer acordo com o PCP, esperando, no entanto, vir a consegui-lo no fim-de-semana.
2- Não haverá qualquer acordo único, mas antes três acordos, com o PCP, o BE, e o PEV.
3- Os partidos celebrantes desses acordos não irão para o governo, limitando-se a viabilizar o governo do PS:
4- Para as questões da NATO e do Tratado Orçamental, António Costa está à espera de acordos pontuais com a PàF.
Eu, se fizesse parte da Comissão Política do PS, perguntaria se o líder tinha enlouquecido. Não há memória em Portugal de um "acordo" destes, nem sequer quando o PS fez um governo com personalidades do CDS, em que ao menos havia algum envolvimento do parceiro no governo. O que António Costa propõe é apenas trocar um governo minoritário da coligação por um governo ultra-minoritário do PS, que obviamente se estampará na primeira curva, se Cavaco Silva alinhar nisso. Em qualquer caso hoje ficou muito claro o amadorismo político e a irresponsabilidade de António Costa. Mas como os partidos políticos estão cheios de seguidores acéfalos, calcula-se que o PS o acompanhe neste caminho até ao desastre total. Para mal de todos nós.
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Há quarenta anos.
Faz hoje quarenta anos que ocorreu o célebre debate Soares-Cunhal. O tema na altura, segundo os comunistas, também era saber se o PS se aliava às forças da esquerda revolucionária ou antes à direita reaccionária. Cunhal, durante o debate, bem apelou a Soares para formar governo com o PCP. Este respondeu que, se o fizesse, ganharia seguramente a medalha Lenine, mas o país entraria numa ditadura e de ditaduras já lhe chegava a de Salazar e Caetano. Haverá melhor dia para António Costa anunciar que obteve o acordo com o PCP? Medalha Lenine para António Costa e já.
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Como se forma um governo (2).
A formação do governo PS-PCP-BE é seguramente um case study de um governo formado com coerência política e estabilidade, logo desde o seu primeiro dia. Uma vez que parece que o PCP e o Bloco não se conseguem entender sobre coisa nenhuma, o PS resolve o problema celebrando um acordo individual com cada um. Teremos então dois governos num só: o governo PS-PCP às segundas, quartas e sextas e o governo PS-BE às terças, quintas e sábados. Como neste governo será impossível um conselho de ministros conjunto, haverá também conselhos de ministros separados todas as semanas. Mas este governo tem todas as condições para ter sucesso, especialmente se os ministros do PCP não souberem o que os do Bloco andam a fazer e vice-versa.
Quando, depois de tudo isto, António Costa anunciar com pompa e circunstância este novo governo, a resposta deveria ser a hilaridade geral. De facto, isto seria cómico se não fosse trágico. Especialmente porque sabe-se muito bem quem vai pagar a conta desta brincadeira.