Um bom negócio!
Deixem-me ver se eu percebi bem:
1) Vendemos 75% do Novo Banco a troco de nada.
2) Ficamos ainda com 25% do mesmo mas está estipulado que não podemos exercer os direitos correspondentes a esse capital.
3) Os 4.900 milhões que foram metidos no Novo Banco estão irremediavelmente perdidos.
4) Acessoriamente ainda damos ao comprador uma garantia de 4.000 milhões.
É assim, não é? Indubitavelmente um bom negócio.
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Bem prega Frei Tomás!
Leio aqui que Marques Mendes considera desastrosa a forma como Passos Coelho geriu a escolha do candidato a Lisboa e que, se as coisas correrem mal, a culpa é do líder. Não poderia estar mais de acordo. Só estranho é que seja Marques Mendes a dizê-lo. Na verdade, se bem me lembro, em 2007 a Câmara de Lisboa estava nas mãos do PSD e só passou para o PS porque Marques Mendes quis demitir Carmona Rodrigues e, quando este recusou, obrigou todos os vereadores do PSD a se demitirem, fazendo cair a Câmara. A seguir lembrou-se de candidatar Fernando Negrão que fez uma campanha desastrosa, só obtendo 15% dos votos, e entregando a Câmara de bandeja a António Costa. Desde então que a Câmara de Lisboa está nas mãos do PS.
Por tudo isto me parece claro que Marques Mendes é a última pessoa que pode falar de estratégias desastrosas para Lisboa. Mas este exemplo também serve para questionar os nossos jornalistas. Será que nestes espaços de comentário político não há nenhum jornalista que faça lembrar ao comentador o seu próprio currículo no assunto que comenta?
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Marcelo, o ardina.
Marcelo Rebelo de Sousa tem um problema político sério. Desde muito novo se habituou a marcar a agenda política, especialmente através da sua célebre página 2 do Expresso onde todas as semanas inventava factos políticos como quem constrói castelos de cartas. Por isso, quando foi desafiado para concorrer à Câmara de Lisboa nos anos 80, Marcelo ficou convencido de que facilmente poderia ganhar a eleição. Nessa altura recebeu, porém, com grande surpresa a notícia de que era totalmente desconhecido do grande público. Desde então Marcelo passou de criador de factos políticos para criador de factos mediáticos, inventando sucessivos shows, apenas com o fim de se tornar conhecido, como mergulhar no Tejo ou conduzir um táxi em Lisboa. Não percebeu, no entanto, que esses shows eram fatais para a credibilidade da sua candidatura. Jorge Sampaio apresentou apenas um slogan: "a responsabilidade" e facilmente ganhou essa eleição.
Marcelo perdeu, mas não desistiu de até hoje manter uma presença constante nos media, julgando ser esse o caminho para atingir o poder. Inicialmente na TSF, e depois na TVI ou na RTP, Marcelo foi laboriosamente, ao longo de mais de duas décadas, construindo uma persona televisiva, julgando que o amplo reconhecimento do grande público seria suficiente para ganhar todas as eleições a que se apresentasse. Mas a verdade é que o mediatismo é insuficiente, e até permite expor muitas vezes a falta de conteúdo da mensagem política dos candidatos mediáticos. Ao contrário do que muitos julgam, Donald Trump não ganhou as eleições presidenciais americanas por ser uma estrela de reality shows, mas antes porque surgiu com um dicurso político que teve grande impacto nos estados decisivos. Ora, Marcelo nunca conseguiu ter qualquer discurso político consistente e daí o seu fracasso na liderança do PSD, perdendo a oportunidade de ser primeiro-ministro. É verdade que conseguiu ganhar as eleições presidenciais, apenas falando em afectos, mas isso aconteceu porque António Costa quis essa eleição, tendo por isso apresentado contra ele um candidato anódino, cujo discurso radical de esquerda afugentava o eleitorado de centro. Pode dizer-se que António Costa ofereceu a eleição presidencial numa bandeja a Marcelo Rebelo de Sousa, e ele não tem deixado de lhe retribuir o favor, apoiando o seu governo em tudo e mais alguma coisa, até nas críticas a um simples aviso de Teodora Cardoso.
A questão é que, da mesma forma que Donald Trump não consegue largar o twitter, Marcelo está absolutamente viciado na presença mediática e não perde uma oportunidade para surgir nos meios de comunicação social, enquanto que o cargo de Presidente exigiria antes recato e distanciamento. Parece que Marcelo não acredita que existe se não aparecer nos media. É assim que agora vai aparecer como ardina a vender a revista Cais nas ruas. Maurice Duverger disse uma vez que se virmos o Rei na rua, sempre que vamos ao quiosque comprar jornais, a Coroa deixa de inspirar respeito. Imagino o que ele diria se o Rei aparecesse nas filas de trânsito a vender uma revista aos automobilistas. As boas intenções, que o povo diz que enchem o inferno, não justificam tudo. E a dignidade do cargo de Chefe de Estado deve ser sempre preservada.