Belmiro de Azevedo (1938-2017).
Gostava especialmente de Belmiro de Azevedo. Era um grande empresário, que transformou uma empresa familiar num grande grupo económico, que aguentou contra ventos e marés, fazendo da vida empresarial praticamente um duelo. Curiosamente perdeu as duas maiores batalhas em que se envolveu: a oposição à OPA do BCP sobre o BPA, que perdeu, e a OPA da Sonaecom sobre a PT, que também perdeu. Mas, mesmo quando perdia, estava sempre pronto para a batalha seguinte, já que, como ele dizia, não há derrotas eternas, nem vitórias definitivas.
Mas o que gostava mais em Belmiro era o seu estilo truculento e a capacidade de impor os seus pontos de vista. Num país onde se considera que o respeitinho é muito bonito e em que a maior parte das pessoas só diz meias palavras, com receio das consequências, Belmiro dizia e fazia o que pensava, sem constrangimentos de qualquer ordem, sendo absolutamente demolidor quando era necessário. Recordo-me uma vez que o Parlamento o queria ouvir num inquérito, e ele disse que só estaria disponível às oito da manhã, pois tinha que apanhar o avião para o Porto. Pois não é que os deputados, que habitualmente só chegavam às 9h30m, foram abrir propositadamente o Parlamento às oito da manhã, com receio de serem chamados de preguiçosos por aquele homem que fazia do trabalho a sua divisa.
Ficou na história o conflito de Belmiro com Marcelo Rebelo de Sousa, quando ele era presidente do PSD, e criticou o facto de a Sonae estar a fazer investimentos no Brasil com apoio do Estado. Belmiro respondeu-lhe à letra, exigindo que tirassem Marcelo da presidência do PSD, e que ele fosse erradicado da sociedade portuguesa. Lembro-me de que o artigo que escreveu na altura terminava assim: "Aqui tem, professor Marcelo Rebelo de Sousa. Por mim, escusamos de ficar por aqui: não me calo nem que Cristo desça à terra. E desengane-se: dito por mim, isto quer dizer realmente isso mesmo". Cristo desceu efectivamente à terra e nem assim Belmiro se calou, só o tendo feito em definitivo ontem. E os poderes do Estado mostraram mais uma vez a sua verdadeira natureza. O Presidente fez uma declaração formal de condolências e, no Parlamento, que em tempos tinha aberto de propósito para o ouvir, houve deputados a abster-se ou mesmo a votar contra um simples voto de pesar. Só que Belmiro de Azevedo era muito superior a esse tipo de posições oficiais e só podemos imaginar o que diria sobre as mesmas. Ontem partiu um grande homem.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Duas perguntas em Aveiro.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Entrevista literária.
Pode ver-se aqui uma entrevista sobre os livros de um autor consagrado e que tem tido um enorme sucesso de vendas em Portugal. A não perder.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O prémio de consolação.
Aqui está o prémio de consolação pela iniciativa falhada de Rui Moreira. Já que o Porto não consegue ganhar a candidatura à Agência Europeia do Medicamento, dá-se-lhe desde já a Agência Portuguesa do Medicamento, ou seja, o Infarmed. Quanto às centenas de funcionários que o Infarmed tem, eles que se preparem para se mudar de armas e bagagens para o Porto ou fazer diariamente 300 km para ir para o trabalho.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O governo que temos.
Uma boa demonstração de como funciona este governo é este processo da candidatura à Agência Europeia do Medicamento. Por pressão do autarca do Porto, retira-se a candidatura de Lisboa, que tinha todas as hipóteses de ganhar, para lançar a do Porto, e depois fica-se contente por este ter ficado em sétimo lugar. A Agência Europeia do Medicamento estava em Londres, a capital do Reino Unido, não estava em Manchester, nem em Southampton. Era evidente que, a ir para Portugal, só podia ir para a sua capital. Por isso mesmo acabou por ir para Amesterdão. É por isso que no governo alguém devia assumir responsabilidade pela condução deste processo, que prejudicou seriamente o país. Mas já se sabe que tal nunca acontecerá.
Autoria e outros dados (tags, etc)
House of cards.
Depois de a Netflix ter aderido à turba contra Kevin Spacey e acabado liminarmente com a série House of Cards, a única coisa que resta aos apreciadores do género é acompanhar a situação no Zimbabwe. Devo dizer que não estou a achar o enredo muito diferente.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O grau zero do jornalismo.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Independência dos tribunais?
Confesso que tenho ficado absolutamente perplexo com a pressão que está a ser feita pelos governos da União Europeia para que o juiz belga se decida a extraditar Puigdemont a Espanha. Basta ver olhar para estas declarações absolutamente inaceitáveis de Manuel Valls, ex-Primeiro-Ministro e actual deputado francês, a declarar que não haverá espaço judicial europeu se Puigdemont não for extraditado para Espanha. Como é sequer imaginável que o ex-Primeiro-Ministro de um país estrangeiro se atreva a dizer o que é que um juíz belga deve fazer num processo que tem entre mãos? O que demonstra bem a anedota que constitui a União Europeia é os estados grandes acharem que podem fazer tudo em relação aos estados pequenos, inclusivamente dar ordens aos seus tribunais. Não haverá limites para esta absoluta falta de vergonha?
Autoria e outros dados (tags, etc)
Critérios de extradição.
Não deixa de ser curioso que, enquanto é pedida a extradição imediata de Puigdemont, Iñaki Urdangarin, "cunhadíssimo" do actual Rei de Espanha, condenado a seis anos e três meses de prisão por corrupção, continue a viver feliz e contente na Suíça, sem que nenhuma autoridade espanhola o incomode.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Apenas políticos presos?
Sobre os caminhos ínvios que tem seguido o processo aos independentistas catalães, convém ler esta muito pertinente análise de Correia Pinto.