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Uma condecoração merecida.

Domingo, 28.01.18

Há muito tempo que acho que estas convulsões em torno da Catalunha, que não há meio de cessarem, demonstram a profunda crise que atinge a monarquia espanhola. Na verdade, é paradoxal que um chefe de Estado vitalício e não eleito venha discursar a dar lições de democracia ao povo catalão, quando o Estado espanhol obriga à prisão ou ao exílio aqueles que o povo elegeu, nem sequer permitindo que um parlamento democrático eleja quem entende para governar o povo que representa.
 
Deparei, porém, agora com esta notícia de que Filipe VI vai impor a mais alta condecoração da Coroa Espanhola à sua própria filha, que a recebeu com apenas 10 anos de idade. Que há a dizer de um país em que o chefe de Estado condecora a sua filha, ainda uma criança, com uma alta condecoração do Estado, enquanto que os representantes do povo catalão estão na prisão e no exílio por delitos políticos? Depois disto não me admira nada que os catalães queiram ser republicanos.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 14:29

A queda de um anjo.

Quinta-feira, 25.01.18

Lula é, pelo menos desde 1989, a figura central da política brasileira. Lembro-me de o ter visto pela primeira vez nesse ano num debate com Collor de Mello, de que a televisão portuguesa passou trechos. Logo na altura me impressionou a enorme capacidade de debate político que demonstrava, nada usual para alguém com uma simples formação de operário metalúrgico. Mas também calculei que a sua imagem radical teria dificuldade em passar no eleitorado moderado, que é quem decide as eleições. Curiosamente na altura a TV Globo, apoiante de Collor, apareceu com uma telenovela chamada Sassá Mutema, o Salvador da Pátria, que contava a história de um trabalhador braçal simpático, mas que quando era eleito prefeito, se deixava imediatamente cair no abuso de poder e na corrupção. A televisão explorava assim os receios do eleitorado, avisando dos riscos da eleição de Lula.

 

Lula lá perdeu as eleições por escassa margem, mas viu-se que Collor, o "caçador de marajás", era afinal alguém tão pouco recomendável que foi poucos anos depois objecto de "impeachment". Mas Lula, embora derrotado, soube conservar a liderança do PT, e percebeu-se logo que iria ser sempre candidato nas eleições seguintes até vencer. A sua permanente popularidade levava a que os seus adversários discutissem sempre qual a pessoa mais capaz de o derrotar, o chamado candidato anti-Lula. Em 1994 e 1998 Lula ainda foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso, um grande presidente do Brasil, mas a crise económica no último mandato deu logo a entender que ninguém conseguiria bater Lula nas eleições seguintes. E, de facto, em 2002 Lula esmagou José Serra, obtendo a maior votação alguma vez tida por um candidato presidencial. Para isso muito contribuiu uma total mudança de imagem, para um tom mais clássico, assim como um discurso menos radical.

 

Na presidência Lula teve um sucesso colossal, resolvendo a crise dos Sem Terra, e criando programas como o Fome Zero ou o Bolsa Família, que tiraram milhões de pessoas da miséria. Facilmente reeleito em 2006, Lula praticamente saiu da presidência em apoteose em 2010, conseguindo por isso facilmente transmitir o seu poder à sua sucessora Dilma Rousseff. Mas já nessa altura se falava dos escândalos de corrupção que ensombravam o seu mandato, que descredibilizaram o PT e viriam a atingir com toda a força Dilma Rousseff, também ela objecto de "impeachment". Lula pretendeu por isso regressar em 2018 e provavelmente iria consegui-lo, mas foi ontem travado pela decisão dos tribunais que o condenaram a 12 anos de prisão, inviabilizando a sua candidatura.

 

É triste que um presidente que poderia ter deixado o seu nome inscrito com chave de ouro na História do Brasil saia assim tantos anos depois pela porta baixa.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:41

Democracia espanhola.

Terça-feira, 23.01.18

Agora vem o Ministro do Interior espanhol dizer que Espanha vai vigiar as fronteiras para assegurar que Puigdemont, já aceite pelo Parlament da Catalunha como candidato a Presidente da Generalitat, não possa entrar em Espanha nem na mala de um automóvel. Nunca se viu maior desrespeito pelo voto eleitoral e pela decisão soberana de um parlamento eleito, como o que agora está a acontecer em Espanha. Uns poderão virar a cara para o lado e outros até aplaudir. Para mim, é pura e simplesmente chocante que isto aconteça num país europeu.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 17:46

Três cartazes à beira da estrada.

Terça-feira, 23.01.18

É estranho que esteja a passar despercebido um dos melhores filmes que já vi nos últimos tempos: "Três cartazes à beira da estrada" (no original Three billboards ouside Ebbing, Missouri). O filme consta a história de uma mãe desesperada, perante a ausência de resposta da polícia local depois de uma brutal violação e assassínio da sua filha, e que resolve demonstrar o seu desespero, colocando uma simples mensagem publicitária numa estrada onde ninguém passa. A mensagem é simples, mas só o facto de ser colocada constitui um desafio à autoridade, que leva a que quase toda a gente em Ebbing, Missouri, passe a perseguir essa mãe, em lugar de perseguir os criminosos. Mas ela não desiste da sua obstinação, resistindo ao ódio da polícia, dos vizinhos e de todos os que lhe peçam que esqueça o assunto. Frances Mcdormand tem aqui a melhor interpretação da sua carreira, mostrando-nos uma mulher terna, mas ao mesmo com uma força extraordinária, que ninguém consegue submeter.

 

O filme poderia ser apenas mais um daqueles típicos filmes americanos, a apelar ao vigilantismo perante a ineficiência das autoridades. Mas é muito mais do que isso. É o retrato de uma América profunda onde ninguém é perfeito, nem sequer a heroína do filme, e onde se descobre que os membros de uma polícia violenta, racista e homofóbica são afinal apenas seres humanos, também com os seus dramas pessoais, e que são igualmente capazes de gestos sublimes. Mas também nos mostra como o drama de uma família, após um crime violento, é para o Estado burocrático apenas o dossier de um processo até aparecer um cartaz (neste caso três) que, só por fazer uma simples pergunta, vira toda uma comunidade do avesso. Neste ano em que em Portugal tivemos tantos mortos pelos incêndios, e também continuamos a ter tantos crimes de violência contra as mulheres, é bom que o nosso Estado saiba sempre dar às vítimas a adequada resposta.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 06:53

Dois pesos e duas medidas.

Segunda-feira, 22.01.18

O inenarrável comportamento do Estado espanhol na questão catalã está a atingir todos os limites. Primeiro, a tentativa de prisão de Puigdemont através de um mandato de detenção europeu foi abandonada logo que se percebeu que a justiça belga não o iria conceder. Isto diz muito sobre a separação dos poderes em Espanha, pois nunca se viu um magistrado prescindir de um pedido de detenção de um suspeito, apenas por recear os efeitos políticos de uma recusa.

 

Mas, depois de cancelado o mandado de detenção, o mesmo é reactivado logo que Puigdemont se desloca para a Dinamarca. Afinal não interessava o mandado de detenção europeu perante os tribunais belgas, mas já passa a interessar se o tribunal passar a ser dinamarquês? Isto é uma efectiva aplicação da justiça, ou uma perseguição por motivos políticos?

 

Nste artigo Jorge Almeida Fernandes discorre sobre o conflito entre a União Europeia e a Polónia. Parece-me evidente que a União Europeia está a demonstrar a sua tradicional política de dois pesos e duas medidas, considerando uns Estados mais iguais que outros. Acha normalíssimo ameaçar a Polónia com sanções, em virtude de considerar que a separação de poderes é ameaçada pelas medidas legislativas aprovadas pelo governo do partido Lei e Justiça, mas fica em silêncio absoluto perante o que se passa em Espanha, onde se quer impedir um governante ilegitimamente destituído de voltar a formar governo, mesmo depois de o eleitorado lhe ter devolvido a maioria na Câmara. E para evitar isso quer-se continuar a permitir ao PP governar a Catalunha, quando os eleitores desse partido na região ameaçam tornar-se tão raros como os linces ibéricos. Não será altura de acabar com este absurdo e deixar o povo catalão decidir livremente o seu destino através dos representantes que elegeu?

 

 

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publicado por Luís Menezes Leitão às 12:28

Reavaliação do consenso fiscal.

Quarta-feira, 17.01.18

Lisboa nunca deve ter tido um presidente pior do que Fernando Medina, que coloca a cidade permanentemente em obras inúteis que, depois de realizadas, só complicam a vida aos lisboetas. Como se isso não bastasse, os lisboetas são constantemente esmifrados com impostos e falsas taxas, que só a muito custo conseguem eliminar, como se viu com a tardia declaração de inconstitucionalidade da taxa de protecção civil, que toda a gente sabia ser inconstitucional. Agora, com um rombo de 80 milhões em perspectiva, Medina diz que "quer reavaliar o consenso fiscal em Lisboa". E se ele reavaliasse antes a sua própria presidência da Câmara?

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:08

A vitória de Rui Rio.

Domingo, 14.01.18

O PSD profundo mostrou ontem a enorme capacidade que tem de se regenerar. Não alinhou em cantos de sereia de quem queria propor ao partido um passismo sem Passos, encabeçado por alguém de cuja experiência governativa os portugueses não têm boas recordações. Agora é altura de virar de vez a página e preparar rapidamente uma alternativa séria e consistente à actual maioria parlamentar. É hora de agir, de facto.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 19:31

Análise do debate.

Quinta-feira, 11.01.18

Não sei se o debate de ontem foi um nulo ou se teve algum vencedor. Depende muito dos conhecimentos que o público tenha em relação aos assuntos que estão em discussão. Lembro-me que um colega me dizia, em relação aos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa, que estava sempre de acordo com ele, excepto quando estava dentro dos assuntos. Para mim ouvir Santana Lopes a debater questões económicas é como ouvir um concerto para violino de Chopin.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:20

A não recondução da Procuradora-Geral da República.

Terça-feira, 09.01.18

Não se pense que foi uma trapalhada este anúncio da Ministra da Justiça de não recondução de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República, com posterior desmentido por António Costa, a dizer que a decisão ainda não estava tomada. O que houve foi um ensaio para testar antecipadamente a reacção pública à substituição da PGR, seguida provisoriamente de uma retirada estratégica, quando se viu qual era essa reacção. António Costa não é Santana Lopes e nunca correrá com a PGR de forma precipitada e com estrondo, como Santana Lopes fez com Marcelo Rebelo de Sousa. Irá preparando calmamente o terreno para o efeito, com sucessivos avanços e recuos, até chegar à machadada final. Não foi Lenine que disse que às vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois passos em frente?

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publicado por Luís Menezes Leitão às 17:42

Os resultados da medida de resolução do BES.

Segunda-feira, 08.01.18

Quando Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque anunciaram a medida de resolução do BES com um empréstimo de 4.900 milhões de euros ao Fundo de Resolução, eu escrevi logo aqui que a ideia de que o Estado recuperaria o dinheiro emprestado não passava de um sonho de uma noite de Verão. Mas só agora, passados quatro anos, o Estado reconhece ter perdido todo o capital que meteu irresponsavelmente nesta operação. Naturalmente que os responsáveis por essa decisão já não estão em funções e são os contribuintes que irão assumir uma perda, que lhes garantiram que nunca teriam.

 

Este é um bom aviso para aqueles que com tanta ligeireza quiseram pôr o dinheiro da Santa Casa a financiar o Montepio. Como bem se salientou no El País o dinheiro dos pobres não pode servir para salvar bancos. Houvesse respeito pelos dinheiros públicos, com a garantia de que nunca serviriam para socorrer negócios privados, e é seguro e certo que os privados teriam mais cuidado na gestão dos seus próprios negócios.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 13:28


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