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O golpe na Turquia.

Sábado, 16.07.16

Visitei a Turquia no ano passado, mais precisamente Istambul e Trabzon. É impossível não ficar fascinado com esse país. Istambul, a antiga Constantinopla, capital do Império Bizantino, é uma cidade situada entre dois continentes, onde Santa Sofia, o Hipódromo e o Grande Bazar fazem as delícias dos turistas. Já Trabzon foi a capital do Império Grego de Trebizonda, possuindo ainda imensos marcos da presença bizantina, como a Igreja de Santa Sofia local e, a pouca distância, o Mosteiro de Sumela, quase inacessível, uma vez que fica na escarpa de uma montanha, sendo que no Inverno, altura em que fui, os caminhos ficam cobertos de neve e gelo.

 

 A Turquia tem uma relação peculiar com a Europa. Os europeus aprendem nas escolas que a queda de Constantinopla marca o fim da Idade Média europeia e os turcos queixam-se em consequência de que mesmo depois de 500 anos na Europa ninguém esqueceu essa derrota. Os europeus vingaram-se quando partilharam o Império Otomano, após a derrota na Primeira Guerra Mundial. O Tratado de Sévres, assinado em 1920, reduzia a Turquia a um território minúsculo, tornando Constantinopla numa zona internacional, e sendo o restante território partilhado entre a Arménia, Grécia, França e Inglaterra, admitindo ainda a criação do Curdistão.

O tratado não foi para a frente porque Mustafa Kemal, depois chamado Ataturk (pai dos turcos), dando como perdido o Império Otomano, quis salvar a Turquia, criando um estado laico e europeu, cuja continuidade seria assegurada pelos militares e pelos juízes. Santa Sofia, então uma mesquita, foi laicizada e a Turquia surgiu como um Estado com pretensões à própria integração europeia.

 

Só que, de há uns anos para cá a influência islâmica tem crescido cada vez mais. O presidente Erdogan é claramente defensor da preponderância islâmica, fazendo a mulher questão de usar o véu islâmico. Por isso, em 2013 a igreja de Santa Sofia em Trabzon foi transformada numa mesquita e hoje os panos brancos cobrem praticamente tudo. Garantiram-me que a Igreja de Santa Sofia em Istambul iria cedo ou tarde ter o mesmo destino, uma vez que os islâmicos não aceitam a laicização de um lugar que já foi mesquita.

 

Durante imenso tempo os militares impediram as tentativas de abandonar a laicidade do Estado na Turquia. Hoje já não o podem fazer. O golpe surgido ontem foi um golpe de militares islâmicos que foram derrotados por um presidente também islâmico. O séc. XXI está a ser claramente o século do Islão e mesmo na própria Turquia a herança de Ataturk está em risco.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 12:28





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