Ucrânia: a história repete-se? (III)
Há exactamente 75 anos, nas fronteiras da Checoslováquia, proclamava-se: "Camaradas alemães dos sudetas: a hora da libertação chegou. As nossas tropas preparam-se para colocar a vossa região sob a égide do Reich". Para as pessoas de etnia alemã, era o tempo da alegria. Para os checos, o da tristeza e das lágrimas. Mas, ao contrário do que se esperava, Hitler não parou nos sudetas. Ocupou Praga e declarou a todo o mundo que a Checoslováquia tinha deixado de existir. Ninguém se atreveu, no entanto, a contestar o poderio alemão. Apenas Churchill tinha avisado: "A crença de que se consegue a paz na Europa lançando aos lobos um pequeno Estado é um erro fatal".
Hoje os russos da Crimeia festejam a sua primavera russa, há tanto aguardada, ansiando pelo regresso à Mãe-Pátria da qual tinham sido separados em 1954. E as tropas russas lá estão para garantir que ninguém se oporá a esse desejo. E efectivamente ninguém parece ter capacidade para se opor. A União Europeia não existe politicamente, e está dependente do fornecimento do gás russo. Quanto aos Estados Unidos, acham que é um problema europeu, e não estão dispostos a intervir no mesmo, por muito que isso lese a União Europeia. Como disse a assistente do Secretário de Estado, Victoria Nuland, ao embaixador dos EUA na Crimeia "fuck the European Union".
Putin tem assim o caminho aberto para a anexação da Crimeia. Resta saber se vai parar por aí. Hitler não parou. Pensou naturalmente que se tinha conseguido obter os territórios checos, apenas devido a uma população levemente maioritária de alemães nos sudetas, o que o impedia de reivindicar Danzig, que tinha em 1939 uma população de 95% de alemães? Putin pode perfeitamente pensar o mesmo. Afinal, a Transnístria não fica assim tão longe e a Moldávia é muito mais fácil de vergar que a Ucrânia. Aguarda-se pelas cenas dos próximos capítulos.