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A prova do Crato.

Sexta-feira, 22.11.13

 

Confesso que inicialmente vi com bons olhos a escolha de Nuno Crato para Ministro da Educação. Era um crítico do tradicional eduquês que tem vindo a destruir o nosso sistema de ensino, pelo que admiti que pudesse instituir um modelo de ensino em que os cidadãos pudessem confiar os seus filhos à escola pública. Infelizmente, no entanto, o seu mandato tem-se revelado um desastre total. Começou logo pessimamente com a retirada aos alunos de um prémio que lhes sido atribuído, a 48 horas da cerimónia de entrega, dando a esses alunos um excelente exemplo do Estado como respeitador dos seus compromissos, conforme tive oportunidade de criticar aqui.

 

Depois aproveitou para criar mais um instituto público completamente inútil, o IAVE - Instituto da Avaliação Educativa, I.P., que resultou da transformação do Gabinete da Avaliação Educativa do seu Ministério, demonstrando como na nossa administração pública os institutos públicos crescem como cogumelos. Não é por isso de estranhar que o défice das contas públicas continue incontrolável.

 

Segundo este elucidativo site "o IAVE, I.P., sucedeu nas atribuições do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), em 2013. Sucedeu igualmente nas competências do Grupo de projeto para acompanhamento da avaliação internacional de alunos, designado por ProjAVI. Tem por missão o planeamento, a conceção e validação dos instrumentos de avaliação externa de conhecimentos e capacidades dos alunos dos ensinos básico e secundário, o tratamento e a divulgação de informação relevante para a tomada de decisões que concorram para incrementar a qualidade, eficácia e eficiência do sistema educativo nacional, assegurar a coordenação da participação nacional em estudos internacionais de avaliação externa de alunos, bem como a elaboração de provas de certificação de conhecimentos e capacidades específicas para outros fins e outros graus de ensino, quando solicitado. Pode recorrer aos demais serviços e organismos do Ministério da Educação e Ciência (MEC), mediante solicitação enviada ao respetivo dirigente máximo, nas matérias necessárias ao desempenho das suas atribuições, devendo estes prestar a colaboração solicitada. Os serviços competentes do MEC disponibilizam ao IAVE, I.P., a informação relativa aos resultados de avaliação externa, produzida e gerida pelos respetivos serviços e organismos, após a sua divulgação pública. O IAVE, I.P., deve promover a cooperação com outras instituições públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, nacionais ou estrangeiras, designadamente, nos domínios da construção de instrumentos de avaliação, da análise dos resultados da avaliação externa e da investigação". De todo estre arrazoado resulta apenas uma conclusão. Para que serve este IAVE provavelmente só Iavé (Deus) sabe. Não admira, por isso, que se tenha feito um recrutamento por e-mail em ordem a constituir o Conselho Directivo deste instituto público.

 

Mas o IAVE já conseguiu produzir um resultado extraordinário. Elaborou uma absurda prova de avaliação a que os professores sem vínculo à função pública vão ter que se sujeitar, depois de pagarem a módica quantia de 20 euros, que provavelmente se destina a financiar este instituto inútil. Esta prova é um exemplo altamente demonstrativo de como o facilitismo e a burocracia continuam a proliferar no Ministério da Educação. Professores licenciados são sujeitos a um exame disparatado com perguntas de escolha múltipla, onde se avalia a aritmética, a ortografia e a sintaxe, aproveitando de caminho para os obrigar a seguir o horrível acordo ortográfico. Quando li este exame, lembrei-me de ter sido em tempos sujeito a um exame semelhante, só que mais difícil, porque tinha perguntas de escolha única e não de escolha múltipla. Chamava-se exame da quarta classe. 

 

Se houvesse alguém com sentido prático à frente do Ministério da Educação não tinha criado um instituto público inútil, nem dado esta imagem de descalabro educativo, impondo a professores uma prova que nem aos alunos devia ser proposta. Não se encontrará no país ninguém que leve a educação a sério? Talvez se pudesse abrir também um recrutamento por e-mail.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 11:46


10 comentários

De MM a 20.12.2013 às 14:28

Bom dia,

Independentemente da razão que possa assistir a ambos os lados, há algo que é inaceitável. Em Democracia, o recurso à violência e falta de respeito pelos direitos dos outros não é aceitável! Pior, determina a "perda de razão" que quem protesta eventualmente possa ter.

Os indivíduos que se dizem "professores" e que tem comportamentos animalescos, piores do que aqueles que alguns alunos em escolas problemáticas manifestam, não são de fato "professores". Se a sua capacidade de argumentação é partir vidros, fazer barulho, arruaça e impedir que os outros colegas façam a prova, espero que nunca sejam professores dos meus filhos!

Se são tão competentes quanto dizem, porque tem um diploma universitário (se calhar igual ao do Sr. Sócrates ou Relvas?), ou se foram para o ensino porque não conseguiram emprego em mais nenhum lado, tal era a excelência da sua formação académica, porque tem "medo" de ser avaliados?

É triste que a comunicação social, em jeito tele-novelesco, apenas passe os desordeiros. Esta junta-se a esses indivíduos, que não sabem o que é cidadania e os princípios básicos de educação e respeito pelo próximo, a dar um péssimo exemplo da classe a que dizem pertencer. Como é que esses indivíduos, na sala de aula, resolvem o problema de indisciplina dos alunos, se estes se recusarem a ser avaliados? É com o exemplo que deram?

Estes sujeitos não são exemplos de uma classe que Ensina e também Educa!...
(Já agora, relembro a prova de acesso à advocacia imposta pela OA, ou as provas de especialidade pela OM; ou... E se toda a gente se recusasse a ter as suas competências profissionais certificadas por outra avaliação/estágio, etc... porque teve um diploma obtido em algum sitio?

Eu também sou Professor (Universitário). Conheço o meio secundário e universitário (fiz todas as provas necessárias para evoluir na carreira docente). Sou avaliado todos os dias, pelos alunos, pelos meus pares quando publico um artigo cientifico ou um livro, pela Agência de Acreditação do Ensino Superior (neste caso só de 3 em 3 anos) que decide se eu tenho ou não competências cientificas para leccionar em determinados graus de ensino.

E, não, não tenho a presunção de saber tudo, porque há 23 anos atrás uma universidade (publica) me deu um diploma de licenciatura, e há 20 anos atrás uma outra universidade (publica) me deu um diploma de mestrado, e há 17 anos atrás outra universidade (agora Americana e Publica) me deu um diploma de doutoramento.

E se eu avalio o alunos, porque não posso ser avaliado também?

Neste momento, o País precisa que todos façam e dêem o seu melhor. As condições não são as óptimas (eu uso o meu PC portátil para leccionar nas minhas aulas!...). Mas se os arruaceiros continuarem a partir vidros, e a evocar direitos adquiridos, os nosso filhos (que espero não tenham alguns destes sujeitos como "professores") terão um fardo bem mais pesado para carregar!... (ou emigrar: dentro de 50 anos, mais de metade do salário de um trabalhador no activo será para pagar as reformas dos pensionistas)...

É o bem dos nossos filhos que temos acautelar. É um país sustentável e governável que temos que lhes deixar. Só eles dão sentido e esperança ao futuro....

Façam lá p.f. um minuto de reflexão antes de resolver organizar-se em milícias de desordeiros que só denigrem o nome dos "Professores".

Como classe, somos competentes cientifica e pedagogicamente e não temos receio de o demonstrar! Aos desordeiros: vocês não são, nunca foram, e nunca saberão ser o que é "ensinar"... Mudem de profissão, se conseguirem :-)...

Boas festas para todos (sem exceção, desordeiros incluídos)!

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