Dia das mentiras
Sendo hoje o dia das mentiras, talvez faça sentido enunciar a quantidade de mentiras que têm sido ditas nos últimos tempos:
1) Foi mentira o que foi dito aquando da nacionalização do BPN, que a medida não teria impacto significativo nas contas públicas. Curiosamente, essa mentira ainda era repetida até recentemente. O enorme impacto está à vista, com a revisão em alta do défice de 2010.
2) Foi mentira o aumento dos funcionários públicos em 2,9% em 2009. Tratou-se de uma medida claramente eleitoralista para angariar votos, tendo sido esse aumento totalmente retirado com os cortes de salários em 2011, que chegam a atingir os 10%. Hoje grande parte dos funcionários públicos ganha menos do que em 2008.
3) Foi mentira o cenário em que decorreram as eleições de 2009. Tratou-se de um cenário completamente virtual em que foram omitidas aos eleitores informações essenciais para a sua decisão.
4) Foi mentira o negócio de aprovação do PEC 3, sendo que não foram cumpridas grande parte das condições dele constantes, nem sequer se verificou que o mesmo tenha conduzido à redução do défice que foi propugnada.
5) Foi mentira a proposta de PEC 4. Verificou-se claramente que a intenção da mesma era apenas encostar a oposição às cordas e provocar eleições. Nesse aspecto, conseguiu-se o prodígio de enganar ao mesmo tempo os órgãos comunitários, que o davam como dado adquirido, e a oposição interna, para a qual foi apresentada como proposta a negociar.
6) Foi mentira esta declaração de Teixeira dos Santos de que agora só o Presidente da República é que pode assumir compromissos em nome do país. Nos termos constitucionais essa competência é do Governo e não parece que, quando o Governo entra em gestão, passe a competir ao Presidente da República assumir as suas funções. Nesse caso, caberia perguntar qual a razão da permanência em funções do Governo?
Por tudo isto, os portugueses já podem dizer que, à semelhança do Natal, que é quando um homem quiser, o dia 1 de Abril é quando o Governo quiser. E, depois de tantas mentiras, há quem estranhe a desconfiança dos mercados e o desânimo que atinge grande parte da população. Como se fosse possível um Governo, depois de tanta falta de verdade, conseguir alguma vez recuperar a confiança. Recorde-se o provérbio bíblico em Provérbios, 22, 1: "Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que prata e ouro". O principal défice do país é de credibilidade e para a recuperar é absolutamente necessária uma mudança de Governo.