Sem rasgo de nobreza.
A insistente defesa do absurdo convite a Fernando Nobre, como fazendo parte de um projecto político coerente, de abertura à sociedade civil e à cidadania, não convence ninguém. O que até agora nos foi revelado é muito pouco edificante e só contribui para descredibilizar ainda mais os políticos. O que foi revelado é que Fernando Nobre, depois de ter dito que não concorreria por nenhum partido, afinal acabou por se deixar disputar por vários partidos, tendo ganho o leilão aquele que lhe ofereceu a melhor proposta: o cargo de Presidente da Assembleia da República. Ora, eu entendo que o cargo de Presidente da Assembleia da República, que é a segunda figura do Estado Português, não pode ser oferecido no quadro da formação de listas partidárias a qualquer independente que aceite integrar essas listas. Neste caso ainda é mais grave porque, como bem disse Morais Sarmento, Nobre não tem o mínimo perfil para esse cargo.
A demonstração dessa absoluta falta de perfil está bem patente no comportamento de Nobre após a designação. Como bem se escreve hoje no Editorial do Público, "Nobre, mal se apanhou de novo como candidato, deixou vir ao de cima os seus piores defeitos, começou a traçar programas para um cargo que não admite programa algum e, à falta de bons argumentos para discutir com os seus próprios apoiantes, preferiu calar o Facebook onde eles o criticavam. Resultado: um fim político sem um rasgo de nobreza". O PSD está portanto condenado a apresentar como cabeça de lista do maior círculo eleitoral do país um candidato que já muitos dão como acabado politicamente e em que a maior parte dos eleitores do PSD não se vai rever. Para estratégia eleitoral não está mal.
Há, porém, quem esteja satisfeito, e até ache que Nobre será uma mais-valia para estas eleições. Eu penso o contrário e faço desde já uma sugestão. Que se consagre na lei eleitoral a solução que existe noutros países de os eleitores poderem rejeitar certos candidatos que integram as listas ou alterar a ordem pela qual eles aparecem nessas mesmas listas. Pelo menos, os eleitores teriam a capacidade de decidir por si quem é que de facto entendem que deve ser eleito deputado na lista que lhes é apresentada. Isso sim, seria uma verdadeira abertura à cidadania e à sociedade civil e evitaria situações como aquela a que assistimos agora.