Carlos, o Breve.

A monarquia inglesa só tem conseguido sobreviver, graças ao facto de os monarcas nunca se ingerirem em política, deixando a condução dos negócios do Estado ao governo eleito, e só intervindo quando este o solicita. Infelizmente, o Príncipe Carlos há muito que foge a esta regra, costumando exprimir desassombradamente as suas opiniões em público. No momento em que ele compara Putin a Hitler, corre um sério risco de atear uma fogueira mundial. O argumento de que ele é livre de falar como cidadão comum não faz qualquer sentido. O herdeiro do trono tem um manifesto dever de reserva relativamente a declarações que podem incendiar as relações entre o Reino Unido e a Rússia, o qual se estende a qualquer declaração que implique um envolvimento político da monarquia. Se quer falar como cidadão comum, tem que renunciar ao trono, mas aí ninguém mais o ouve.
Curiosamente esta situação já há muito que tinha sido prevista numa extraordinária série televisiva, House of Cards (a original inglesa e não este novo produto americano, muito inferior). Naquela série, o Rei — claramente o actual príncipe Carlos — decide apoiar a oposição contra o Primeiro-Ministro eleito. Este, após ser reeleito, obriga naturalmente o Rei a abdicar do trono. Neste extraordinário diálogo, faz-lhe ver quão fraca é a legitimidade de um monarca, a partir do momento em que este se envolve no combate político.
Prevejo por isso um tão curto reinado para o Príncipe Carlos, que será seguramente conhecido como Carlos, o Breve. Isto admitindo que consegue chegar ao trono, o que já é duvidoso.