O dia seguinte.
O que se passou ontem foi uma hecatombe para os partidos do arco da governação. E se não arrepiarem caminho, poderemos assistir a uma "pasokização" geral dos partidos tradicionais, que revolucionará o nosso sistema político, levando partidos extremistas à vitória eleitoral, como se passou ontem na Grécia. PSD e CDS demonstraram que neste momento em coligação não valem sequer 30% dos votos. E o CDS irá provavelmente ter menos deputados europeus do que o MPT. Por muito menos que isto, já se desfizeram coligações à direita. Freitas do Amaral rompeu com a AD quando em 1982 esta teve 42% dos votos numas autárquicas. Mas agora, depois da sua birra de Julho passado, Portas tornou-se tão irrevogável que vai manter a coligação até ao fim, que será provavelmente também o do seu partido. Quanto ao PSD, entrou de tal forma num delírio pró-troika que Marques Mendes até já propôs Maria Luís Albuquerque como sucessora de Passos Coelho. Na verdade, os actuais dirigentes do PSD estão de tal forma deslumbrados com o reconhecimento que obtêm por parte dos nossos credores, que estão a encaminhar o PSD para o suicídio político. Não é com ratings e mercados que se ganham eleições, mas com os votos daqueles portugueses que todos os dias estão a sacrificar. E como eles não são masoquistas, não é provável que voltem a votar nesses partidos.
Quanto ao PS, está longe de poder cantar vitória. O discurso de vitória ensaiado por Seguro soou completamente a falso. Se o PS fosse inteligente, substituía-o imediatamente. Neste momento, também está demasiado comprometido com um discurso pró-troika para ser alternativa.
O grande vencedor de ontem foi Marinho e Pinto, que só não teve um resultado melhor, porque foi ignorado pela comunicação social e poucos conheciam o partido pelo qual concorria. Mas a partir de agora é preciso contar com ele. Acredito que vai marcar presença nas presidenciais. E se os candidatos forem tão insossos como Guterres e Marcelo, o seu discurso pode fazer muitos estragos. Aguardemos para ver.