A guerra relevante.
Neste post, o Diogo sustenta que descrever a actual situação como uma guerra não só é irrelevante do ponto de vista operacional como oferece legitimação política às organizações que pretendemos eliminar. É o argumento típico dos políticos europeus, que persistem em negar a realidade em ordem a continuar a defender políticas inconsequentes. É assim que em toda a imprensa se insiste em falar no "auto-proclamado" Estado Islâmico, como se o mesmo não ocupasse territórios na Síria e no Iraque. Mas os sinais da guerra estão à vista de todos. Quando em França os líderes religiosos exigem protecção armada para os locais de culto ou quando na Baviera a própria população pede a colocação de militares na rua, é manifesto que passámos a fase da mera criminalidade, a que se pode reagir com a simples protecção e investigação policial. Neste momento a Europa está em guerra e a guerra combate-se com exércitos. Negar isso é negar a realidade e deixar a Europa continuar debaixo de fogo.
Quem se recusou a negar a realidade foi o Papa Francisco. Numa corajosa comunicação aos jornalistas, acaba de dizer que "a palavra que tem sido sucessivamente repetida é insegurança, mas verdadeira palavra é guerra. Vamos reconhecer a verdade: o mundo está num estado de guerra fragmentada. Agora existe uma guerra. É talvez uma guerra não orgânica, mas está organizada e é guerra. O mundo está em guerra porque perdeu a paz".
Sábias palavras de quem todos os dias assiste ao massacre dos seus fiéis por parte de combatentes fanáticos, sem que nada se faça para combater a ameaça. Após o 11 de Setembro, os Estados Unidos perceberam que tinham sido atacados e por isso tinham que travar uma guerra. A Europa, porém, parece que voltou a 1453, insistindo em discutir o sexo dos anjos enquanto os turcos atacam Constantinopla. Valha-nos o Papa que percebeu muito bem o que está em causa.
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Mais um atentado.
Hoje foi mais um atentado, agora em Rouen, em relação a um padre que rezava a missa, e que foi degolado por assaltantes pertencentes ao Estado Islâmico, em frente aos seus fiéis. Um acto de barbárie e ódio só comparável aos tempos do nazismo. Mas pelos vistos na Europa vai tudo continuar em estado de negação. Até quando os dirigentes europeus persistirão em ignorar que a Europa vive uma verdadeira guerra religiosa, declarada por fanáticos, que não hesitarão em combater até á morte contra os valores europeus? Ontem as pessoas em França tinham medo de ir a espectáculos públicos. Hoje passaram a ter medo de entrar numa igreja. Lentamente o Estado Islâmico vai destruindo a Europa, perante a complacência dos governantes europeus.
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O golpe na Turquia.
Visitei a Turquia no ano passado, mais precisamente Istambul e Trabzon. É impossível não ficar fascinado com esse país. Istambul, a antiga Constantinopla, capital do Império Bizantino, é uma cidade situada entre dois continentes, onde Santa Sofia, o Hipódromo e o Grande Bazar fazem as delícias dos turistas. Já Trabzon foi a capital do Império Grego de Trebizonda, possuindo ainda imensos marcos da presença bizantina, como a Igreja de Santa Sofia local e, a pouca distância, o Mosteiro de Sumela, quase inacessível, uma vez que fica na escarpa de uma montanha, sendo que no Inverno, altura em que fui, os caminhos ficam cobertos de neve e gelo.
A Turquia tem uma relação peculiar com a Europa. Os europeus aprendem nas escolas que a queda de Constantinopla marca o fim da Idade Média europeia e os turcos queixam-se em consequência de que mesmo depois de 500 anos na Europa ninguém esqueceu essa derrota. Os europeus vingaram-se quando partilharam o Império Otomano, após a derrota na Primeira Guerra Mundial. O Tratado de Sévres, assinado em 1920, reduzia a Turquia a um território minúsculo, tornando Constantinopla numa zona internacional, e sendo o restante território partilhado entre a Arménia, Grécia, França e Inglaterra, admitindo ainda a criação do Curdistão.
O tratado não foi para a frente porque Mustafa Kemal, depois chamado Ataturk (pai dos turcos), dando como perdido o Império Otomano, quis salvar a Turquia, criando um estado laico e europeu, cuja continuidade seria assegurada pelos militares e pelos juízes. Santa Sofia, então uma mesquita, foi laicizada e a Turquia surgiu como um Estado com pretensões à própria integração europeia.
Só que, de há uns anos para cá a influência islâmica tem crescido cada vez mais. O presidente Erdogan é claramente defensor da preponderância islâmica, fazendo a mulher questão de usar o véu islâmico. Por isso, em 2013 a igreja de Santa Sofia em Trabzon foi transformada numa mesquita e hoje os panos brancos cobrem praticamente tudo. Garantiram-me que a Igreja de Santa Sofia em Istambul iria cedo ou tarde ter o mesmo destino, uma vez que os islâmicos não aceitam a laicização de um lugar que já foi mesquita.
Durante imenso tempo os militares impediram as tentativas de abandonar a laicidade do Estado na Turquia. Hoje já não o podem fazer. O golpe surgido ontem foi um golpe de militares islâmicos que foram derrotados por um presidente também islâmico. O séc. XXI está a ser claramente o século do Islão e mesmo na própria Turquia a herança de Ataturk está em risco.
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O horror em Nice.
Há uma diferença muita clara entre os Estados Unidos e a Europa no que respeita aos atentados no seu território. Os Estados Unidos sempre entenderam que o ataque no 11 de Setembro foi um acto de guerra, a que teriam que responder pela mesma forma. E a verdade é que conseguiram controlar ataques posteriores no seu território. Já na Europa insiste-se em ver as situações como meros atentados terroristas, que por isso se vão sucessivamente repetindo.
Os ataques em Paris, Bruxelas e Nice são verdadeiros actos de guerra e é nesse sentido que têm de ser encarados. A escolha de Nice para ser alvo de um atentado no 14 de Julho não é inocente. Exprime o ódio dos autores do atentado à Nação Francesa e ao seu dia nacional. E escolhe para atacar não apenas uma zona turística importantíssima na Riviera Francesa, mas especialmente o território que mais recentemente pertence à França. Nice só é território francês desde 1860, sendo que antes era pertença do Reino da Sardenha. O ataque a Nice simboliza assim um ataque ao Estado francês e às suas fronteiras actuais.
Há muito que se sabe que esta gente quer destruir os Estados europeus, que consideram inimigos do Califado que pretendem instalar em território europeu. Mas a Europa não parece ter consciência do perigo que a ameaça. Ainda há dias Hollande falava em levantar o estado de emergência em França, que agora se viu forçado a prorrogar. Enquanto não se reagir militarmente contra estes fanáticos, terminando de vez com o Estado Islâmico, os atentados terroristas continuarão a multiplicar-se em solo europeu.
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Bons europeus!
É como devem ser qualificados os Ministros dos Negócios Estrangeiros da França e da Alemanha (sempre o eixo franco-alemão) depois destas declarações sobre o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico. Chama-se a isto sentido de Estado, diplomacia e respeito pelos assuntos internos dos outros países. Só os anti-europeístas primários é que não vêem isto.
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Uma democracia a sério.
Tudo o que se passou no Reino Unido em virtude do Brexit demonstra bem o que é uma democracia a sério. Em primeiro lugar, há que louvar a atitude de David Cameron que, confrontado com o crescimento das posições eurocépticas no seu país, resolveu a questão como se impunha: convocou um referendo e decidiu ouvir o povo. Nesse referendo, batalhou pela permanência, mas admitiu perfeitamente que membros do seu partido, e até do seu governo, estivessem do lado contrário. Que diferença para Portugal em que os partidos parecem unipessoais e não se conhecem posições divergentes nos governos sobre coisa nenhuma.
Confrontado com a derrota, David Cameron fez o que tinha a fazer: demitiu-se. É manifesto que não poderia ser ele a liderar o processo. Mais uma vez é abissal a diferença para com Portugal, em que os governantes não se demitem por razão nenhuma, agarrando-se ao poder como lapas. Guterres foi estrondosamente derrotado num referendo sobre a regionalização e limitou-se a dizer que afinal ia tratar da descentralização.
Saindo David Cameron da liderança, a regra no Reino Unido é que outro membro do partido deve assumir a chefia do governo. O chefe do governo é naturalmente escolhido pelos deputados, que livremente decidiram escolher Theresa May. Mais uma vez uma diferença colossal para Portugal, em que Durão Barroso, que entretanto se converteu de político em actual cherne-man da Goldman Sachs, saiu mas impôs ao país Santana Lopes, tendo todos os deputados apoiado pacificamente essa decisão. O resultado foi o que se sabe, abrindo as portas de par em par para o que se seguiu. No Reino Unido isso nunca sucederia, porque os deputados são eleitos em círculos uninominais, e prestam contas aos seus eleitores, não dependendo da inclusão de um nome pelo líder do partido em listas que os eleitores ignoram.
A nova primeira-ministra, Theresa May, tinha sido uma apoiante do Bremain, mas nem por um momento pôs em causa a escolha do seu povo. Tanto assim que já indicou Boris Johnson, principal figura do Brexit, para Ministro dos Negócios Estrangeiros, mandando iniciar o processo de saída. Que diferença para outros países, onde se repetem referendos até darem a reposta que os eurocratas de Bruxelas desejam. E noutros casos nem sequer se fazem referendos absolutamente nenhuns, como é o caso de Portugal, onde ninguém quer saber o que pensa o seu povo sobre os desmandos a que tem vindo a ser sujeito nesta União.
Os profetas da desgraça em torno da decisão soberana do Reino Unido vão ver todas as suas profecias cair como um castelo de cartas. Não vai haver nenhum colapso económico do Reino Unido, uma vez que se alguém está mal é precisamente o resto da Europa, onde até a banca italiana ameaça colapsar. O Reino Unido não se vai desfazer, porque a Escócia, depois da queda do preço do petróleo, não tem hoje quaisquer condições económicas para ser independente. E mesmo que as tivesse, nunca entraria na União Europeia, uma vez que a Espanha se oporia sempre, já tendo Rajoy declarado que, se o Reino Unido sai, a Escócia também sai. A saída do Reino Unido do desastre que é hoje a União Europeia, com os seus ridículos processos de decisão, incluindo sobre sanções, vai confrontar os restantes povos europeus com um povo que não se rende nem se submete. Desde Churchill que todos na Europa deveriam saber que do outro lado da Mancha é assim.
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Os cachecóis dos Ministros das Finanças.
Os Ministros das Finanças dos países com défice excessivo têm uma enorme vocação para a passagem de modelos de cachecóis, especialmente em reuniões internacionais destinadas a avaliar a situação dos seus países. Primeiro surgiu este:
E agora temos este:
Eu já não compreendo é como é que depois de fazerem figuras tão bonitas, e que provocam tantos sorrisos e boa disposição nos seus pares, o resultado que obtêm é sempre este.
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Em defesa de Durão Barroso.
Tenho visto com espanto uma série de críticas à ida de Durão Barroso para o Goldman Sachs. Acho-as completamente absurdas. Como bem justificou Eça de Queiroz na sua obra O Conde de Abranhos, perante a mudança de partido de Alípio Abranhos, só há traição quando se abandonam os ideais que se serviram e se passa sem razão, para o serviço de ideais que até aí se combatiam! Permito-me adaptar as suas lúcidas considerações a este caso:
Há entre a Comissão Europeia e o Goldman Sachs ideais opostos? Abandona Durão Barroso ideias queridas, para ir, por interesses grosseiros, defender ideias detestadas? Não.
As ideias que servia na Comissão Europeia, vai servi-las no Goldman Sachs.
Em Economia, o que é a Comissão Europeia? Capitalista, monetarista e defensora do mercado. E o Goldman Sachs? Idem.
Em Política, o que é a Comissão Europeia? Liberal e plutocrata. E o Goldman Sachs? Idem.
Não têm ambos o mesmo amor pelo euro? O mesmo.
Não são ambos sustentáculos dedicados da banca? Dedicadíssimos.
Não desejam ambos a estrita aplicação do Tratado Orçamental, só do Tratado Orçamental e de todo o Tratado Orçamental? Desejam-na ambos, ardentemente.
Não são ambos centralizadores? São.
Não estão ambos firmes na manutenção de um controlo financeiro permanente? Firmíssimos, ambos.
Não têm ambos um nobre rancor a ideias revolucionárias? Um rancor nobilíssimo.
E em questões de cultura, de comunicação social, de regulação financeira, não têm ambos as mesmas óptimas ideias? Absolutamente as mesmas.
Não são ambos europeístas? Fanaticamente!
Então? — Pode dizer-se que Durão Barroso, indo da Comissão Europeia para o Goldman Sachs, trai as suas ideias? Não, certamente não!
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A promoção.
Fiquei a saber que Durão Barroso vai ser o novo presidente da Goldman Sachs. Lembro-me que há uns anos houve um corretor que disse que não eram os governos que mandavam no mundo, mas antes a Goldman Sachs que o dominava. Só se pode então concluir que Durão Barroso passou de Presidente da Comissão Europeia para Presidente do verdadeiro governo do Mundo. Que outra coisa se pode dizer se não dar-lhe os parabéns pela promoção?