O país a ir ao fundo, e se calhar sem o Fundo.
O que se tem passado nos últimos tempos em Portugal e na Europa, demonstra o acerto daquela frase clássica de Ovídio nas suas Lamentações (Tristia, Liv. I, 9, 5, 6): "Donec eris felix, multos numerabis amicos; tempora si fuerint nubila, solus eris" (enquanto fores afortunado terás muitos amigos; se os tempos ficarem nublados, ficarás só). Depois de termos comprometido a nossa soberania com o apelo ao FEEF e ao FMI, e aceite todas as humilhações dos órgãos comunitários, que nos últimos dias nem sequer pouparam o Chefe de Estado, temos agora a notícia de que se calhar nem sequer nos fornecem a ajuda financeira prometida. Ou seja, depois de na Europa terem dito vezes sem conta que a ajuda estava disponível, e que só era preciso Portugal pedi-la, surgem agora com um comportamento arrogante e que pode até passar pela rejeição da ajuda. Para isso muito podem contribuir as eleições na Finlândia, onde o Partido dos Verdadeiros Finlandeses (o nome é todo um programa!) tem feito campanha no sentido de ser rejeitada a ajuda a Portugal e que, se for Governo, não hesitará em vetar essa ajuda no Conselho Europeu. Aqui temos a demonstração de quão amigos são os nossos "parceiros europeus" e no verdadeiro disparate que foi a ajuda externa ter sido pedida por um Governo de gestão, cuja legitimidade está ferida de morte, estando os órgãos comunitários a exigir compromissos a partidos de um Parlamento já dissolvido e a quem falta ainda mais legitimidade para negociar o que quer que seja. É constrangedor o estado a que os nossos políticos deixaram chegar o país: o país está a ir ao fundo e se calhar até vai ficar sem o Fundo.