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O convite a Fernando Nobre.

Domingo, 10.04.11

Ao contrário de muitas opiniões já aqui expressas, acho uma péssima ideia o convite a Fernando Nobre para encabeçar a lista de deputados pelo círculo de Lisboa, no intuito já revelado de ser o futuro candidato a Presidente da Assembleia da República. A meu ver, esse convite é prejudicial tanto ao PSD como ao próprio Fernando Nobre. Vejamos por que razões.

 

Em primeiro lugar, não faz qualquer sentido um partido indicar aos eleitores que tem um candidato a Presidente do Parlamento. O Presidente do Parlamento é escolhido pelos deputados, dependendo da maioria existente no Parlamento. No caso de Fernando Nobre, a candidatura a Presidente do Parlamento aparecerá ao eleitorado como uma tentativa de alcançar o segundo cargo do Estado, depois de ter falhado o primeiro, sendo por isso visto mais como um projecto pessoal do que político. Tal só servirá para desbaratar o capital político acumulado nas presidenciais.

 

Em segundo lugar, o PSD em nada vai alargar o seu universo eleitoral com a candidatura de Fernando Nobre e até o poderá reduzir. Passos Coelho está a cair no mesmo erro de Manuela Ferreira Leite quando candidatou nas últimas eleições Maria José Nogueira Pinto a deputada pelo círculo de Lisboa, julgando que assim retirava votos ao CDS. Ora, o CDS teve nas últimas eleições uma votação esmagadora, ultrapassando pela primeira vez em muitos anos os dois dígitos. Na verdade, está demonstrado que em Portugal chamar candidatos de outras áreas políticas não compensa e até penaliza. Ora, o currículo de Fernando Nobre, com a sua proximidade ao Bloco de Esquerda, e depois o facto de ter sido candidato  da linha soarista do PS contra Manuel Alegre tornam-no adequado para tudo menos para ser candidato pelo PSD. Há muitos eleitores do PSD que não se vão rever minimamente nesta candidatura.

 

Em terceiro lugar, Fernando Nobre defrontou há dois meses Cavaco Silva nas eleições presidenciais, tendo Cavaco Silva sido apoiado pelo PSD. Não se compreende por isso que o PSD agora o venha apresentar como candidato a deputado nas suas listas, depois de ter estado há pouco tempo contra a sua candidatura a Presidente. Com isto, transmite-se uma imagem de que não é o candidato Fernando Nobre que é desejado, mas antes os votos que ele obteve nas presidenciais. Ora, é manifesto que esses votos não são transferíveis para o PSD. Se alguém tinha dúvidas sobre isso leia os comentários que estão a ser feitos na página de Fernando Nobre no Facebook.

 

Há apenas um enquadramento em que a candidatura de Fernando Nobre faz todo o sentido. Perante a verdadeira catástrofe humanitária que vai ser a entrada do FMI em Portugal já na próxima terça-feira, é melhor de facto chamarmos desde já a AMI. Pode ser que Fernando Nobre, com a sua experiência em ajudar as pessoas atingidas por catástrofes, possa dar algum contributo neste quadro trágico em que Portugal caiu. 

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publicado por Luís Menezes Leitão às 22:45


111 comentários

De Rodrigo Castro a 11.04.2011 às 22:29

Caro Francisco, estou inteiramente de acordo consigo. Gostaria de acrescentar que no cerne da crise aguda de credibilidade do nosso sistema politico está a trapaça que foi a revisão constitucional de 1982.Por duas razões: 1-
Descaracterizou o regime semipresidencial, transformando-o efectivamente num regime parlamentar com poderes de última instância e por isso de rara expressão para o presidente, que se vê assim transformado numa figura decorativa e que apenas pode marcar o calendário das consultas eleitorais. Tendo o governo e o 1º ministro deixado de ser responsáveis politicamente perante o PR, o sistema desiquilibrou-se inexorávelmente. Convém lembrar que esta reforma foi feita por Soares e Balsemão contra um homem, o General Ramalho Eanes;
2- Se bem que o Conselho da Revolução tenha sido extinto como aliás estava previsto no próprio texto constitucional, as reformas ao nível da liberalização económica e outras ficaram coxas e até houve pudor em tocar no liguarajar marxista que ainda existe hoje na constituição.
Sendo assim, não há pertinência constitucional em qualquer intervenção do Presidente, independentemente de quem seja.
Por isso o que nos resta é esperar que o bom senso regresse aos dois lideres que até agora se têm mostrado com posições irredutíveis e por isso duma flagrante falta de patriotismo e duma confrangedora irresponsabilidade....
Quanto à novela FN, ela é de uma enorme caricatura. Desde logo a incrivel designação por um lider partidário do próximo presidente da AR, segunda figura do Estado, ultrassando tudo que é admissivel em termos de decoro democrático, e depois, esta cambalhota oportunistica de FN que realmente não o abona a nenhum titulo.Cumprimentos.

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