Marcelo em campanha.

A campanha de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência de República vai de vento em popa. Como todos os votos contam, porque não ir tentar pescar até no eleitorado do Bloco de Esquerda? Perante isto, como pode Durão Barroso responder? Aparecer numa sessão do MRPP, a recordar os seus gloriosos tempos de luta popular? Isto está a ficar cada vez mais engraçado.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O tiro ao Barroso.
Marcelo Rebelo de Sousa já há dias tinha dado o seu tiro de partida como candidato presidencial. No seu comentário de ontem, a pretexto de criticar o que chamou de novo desporto nacional, o "tiro ao Cavaco", o que na verdade fez foi um verdadeiro tiro a Durão Barroso. Este, o "eterno candidato a candidato" não seria capaz de meter na ordem os seus correligionários que, ao atacarem Cavaco daquela maneira, estariam no fundo a pôr em causa o prestígio da função presidencial, prestígio esse que naturalmente Marcelo tanto preza. Na verdade, ele já se assume como sucessor de Cavaco, capitalizando a seu favor os inúmeros erros políticos que este cometeu. É Marcelo quem manda os cavaquistas anónimos "desampararem a loja". É Marcelo quem pede "compreensão" pelo facto de Cavaco "não estar preparado" para enfrentar uma manifestação hostil, enquanto Passos Coelho "teve tempo para se preparar". E é Marcelo quem finalmente dá recados a Durão Barroso que, embora "eterno candidato a candidato" também não domina as suas hostes. É evidente que, pela amostra, as missas dominicais dos próximos quatro anos vão se transformar num autêntico espaço de campanha eleitoral "Marcelo à Presidência".
Durão Barroso já tinha muitas dificuldades em ser candidato presidencial. Trocou a presidência do Governo pela da Comissão Europeia de uma forma precipitada, causando imensa desilusão aos portugueses, desilusão essa que se agravou com o colapso do Governo de Santana Lopes, escolha pessoal sua. Tendo conduzido bem o seu primeiro mandato na Comissão, foi apanhado na turbulência da crise financeira, tendo-se mostrado absolutamente incapaz de evitar o domínio da União pelo eixo franco-alemão. Assistiu nessa altura sem um protesto a um total apagamento da Comissão e por arrastamento ao surgir da possibilidade de ocorrer o fim do euro e da própria União Europeia. Se a crise continuar, é evidente que Durão Barroso não terá nenhumas hipóteses de ser eleito Presidente.
Durão Barroso está, porém, a tentar lançar a sua candidatura presidencial, tanto assim que apareceu há dias na Universidade Católica, dizendo que a Comissão está a fazer o seu trabalho, e que a Europa vai sair reforçada depois da crise, embora lamentando a situação de emergência social em Portugal. Foi isso e só isso que justificou o tiro de Marcelo. Assim, enquanto Cavaco acaba tristemente o seu mandato presidencial, nos próximos tempos vamos assistir a uma autêntica troca de galhardetes entre Marcelo e Barroso.
Quem se deve estar a rir com isto é Passos Coelho. Ontem em Gouveia aproveitou para dar mais uma ferroada em Cavaco. E vai assistir durante os próximos tempos a uma luta sem tréguas entre duas facções do PSD agrupadas em torno destes dois candidatos presidenciais assumidos, cabendo-lhe a ele arbitrar e decidir quem o partido apoiará. É difícil algum líder do PSD ter estado alguma vez em melhor situação política em relação a umas presidenciais.
Autoria e outros dados (tags, etc)
As contradições de Durão Barroso.

Uma das razões evidentes para estarmos a assistir ao descalabro da União Europeia reside no total apagamento da Comissão Europeia e do seu Presidente Durão Barroso. A Comissão deveria ser a guardiã dos Tratados, mas assiste passivamente à transferência do poder para um (formalmente dois) dos Estados-membros, que se permite até exigir um novo Tratado. Como aqui escrevi, um tratado imposto por um (vá lá, dois) dos Estados-Membros aos outros constitui na prática um Diktat, fazendo lembrar os acordos de Munique que resultaram no desmembramento do Estado checoslovaco. A União Europeia está assim a perder o seu cariz de União de Estados, passando a ser a imposição de sucessivos protectorados.
Ora, Durão Barroso deveria estar na primeira linha de combate contra esta situação. Infelizmente, no entanto, entra em sucessivas contradições, cedendo facilmente à mínima pressão alemã. Se não vejamos. Há uns tempos Durão Barroso anunciou que iria apresentar para breve propostas sobre eurobonds, tendo insistido nelas, e até se falou que haveria um braço-de-ferro entre ele e Angela Merkel. Se havia um braço-de-ferro ele perdeu-o, pois hoje já aparece alinhado com o discurso da chancelerina a dizer que "os eurobonds não são a resposta correcta para a crise" e que "só poderão existir a muito longo prazo". Só que, como diria Keynes, a longo prazo estaremos todos mortos.
Mas há que reconhecer que ainda antes de ter tido lugar, a cimeira europeia foi um êxito estrondoso. Já se conseguiu que os países europeus e as instituições da União Europeia falem todos a uma só voz: é a voz de Berlim.
Autoria e outros dados (tags, etc)
A recapitalização dos bancos.
Justificadamente zangado com o facto de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy terem proposto Herman Van Rompuy para liderar o governo económico europeu, Durão Barroso decidiu finalmente assumir as rédeas desse governo e avança agora para a solução da crise: uma acção coordenada de recapitalização dos bancos, que naturalmente terá que ser feita pelos Estados-Membros, ou seja, pelos contribuintes europeus. O objectivo é libertar os bancos dos activos tóxicos que estes lá foram metendo e que a todo o custo procuram esconder.
Portugal poderia explicar à Europa como se faz esta recapitalização dos bancos, pois tem uma magnífica experiência de uma recapitalização bancária de sucesso que foi o BPN. Os contribuintes portugueses recapitalizaram o referido banco em 6000 milhões de euros, tendo obtido um sucesso tão grande que já se conseguiu vender o banco pela extraordinária quantia de 40 milhões de euros, apenas com um pequeno encargo de lá colocar ainda uns adicionais 500 milhões de euros. Só se pode desejar que mil recapitalizações como esta floresçam por toda a Europa.
Alguém um dia há-de conseguir explicar porque é que os bancos são o único negócio que nunca pode falir. Se as empresas tomarem decisões de investimento erradas, vão implacavelmente à falência. Se forem os bancos, cá estarão os contribuintes para suportar os prejuízos. E toda a gente sabe o que isto significará no futuro para os contribuintes: aumentos de impostos, cortes de salários e perda de pensões. Até quando iremos continuar neste ciclo infernal?
Autoria e outros dados (tags, etc)
Durão Barroso à frente do FMI?
Esta notícia de que pode ser Durão Barroso o sucessor de Dominique Strauss-Kahn à frente do FMI é a pior notícia que a União Europeia poderia receber neste momento e, a confirmar-se, terá consequências dramáticas para a Europa pois não estou a ver quem tenha condições de o substituir e aguentar o barco nesta tempestade de crise da dívida soberana. Mas não é nada que os portugueses não tenham já experimentado, pois foi precisamente com a ida de Durão Barroso para Bruxelas que foi abandonado todo o esforço de consolidação orçamental que o seu Governo realizou, inclusivamente contra o próprio Presidente da República, que nos seus discursos não cessava de proclamar que "havia mais vida para além do Orçamento". Essa vida extra-orçamental é que nos levou precisamente ao estado em que estamos.
É por isso péssimo que neste momento se coloque sequer a hipótese de o Presidente da Comissão Europeia abandonar o seu cargo, por muito apelativo que seja o cargo de Presidente do FMI. Os mandatos devem ser cumpridos até ao fim, e a última coisa que neste momento a Europa precisa é de que a Comissão Europeia, como guardiã dos Tratados, fique acéfala no momento em que o projecto europeu atravessa a maior crise de todos os tempos. Sinceramente espero que esta hipótese não se concretize.