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A Europa em implosão.

Sexta-feira, 06.02.15

O que se vê desta conferência de imprensa conjunta de Schäuble e Varoufakis parece muito claro: a Alemanha pretende permanecer irredutível em relação à Grécia, que trata como um mero estado vassalo. Não deixo de achar significativo que durante toda a conferência Schäuble tenha falado sempre em alemão, língua que Varoufakis não domina. Acho que a resposta de Varoufakis deveria ter sido falar por sua vez em grego, o que teria sido divertido ver Schäuble tentar seguir.

 

A única vez que Schäuble falou em inglês foi para dizer uma frase corriqueira: "We agree to disagree". Mas nem essa frase Varoufakis deixou passar: "We didn´t reach an agreement, it was never on the cards that we would, we didn't even agree to disagree from where I am standing". É difícil ser mais claro no sentido da divergência total entre os dois Ministros das Finanças. A continuarmos neste registo, e sendo já assumido por todos os países na Europa que o euro é propriedade dos alemães, parece claro que a Grécia vai ser expulsa do euro por indecente e má figura a muito curto prazo. O que não parece perturbar muito os gregos, um povo orgulhoso, que está farto de ser tratado desta maneira.

 

O problema é as questões geoestratégicas que esta situação provoca e que me parece que não estão a ser equacionadas. Outro dia, na fantástica série dinamarquesa Borgen, que passa na RTP2, uma personagem comentava que toda a Europa do Sul estava na bancarrota e que, para elidir esse facto óbvio, as troikas tinham mandado os países vender as suas empresas públicas a pataco, que imediatamente tinham sido compradas por chineses, o que constituía um enorme risco geoestratégico. A personagem acrescentava que daí a pouco em toda a Europa do Sul só se falaria mandarim.

 

A mesma questão pode-se colocar em relação à Rússia, que no entanto neste momento é muito mais perigosa que a China. Depois da disparatada estratégia europeia de apoiar o derrube do governo ucraniano por uma manifestação numa praça, a situação na Ucrânia evoluiu para uma guerra civil séria, sem que no entanto o governo ucraniano se mostre minimamente capaz de controlar os rebeldes russos. Depois de uma série de derrotas militares, o presidente ucraniano Poroshenko recebeu uma carinhosa visita de apoio de Merkel e de Hollande, tendo este último ameaçado que se poderia entrar em guerra total. Putin não se ficou e antes mesmo de receber estes dois, formulou um convite a Tsipras para visitar a Rússia. A Europa pode implodir de um momento para o outro e, como em 1914, os seus governantes parecem sonâmbulos que não vêem o que estão a fazer.

 

 
 

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publicado por Luís Menezes Leitão às 08:11


4 comentários

De Makiavel a 06.02.2015 às 10:16

Parabéns! Análise na mouche.

De Tiago Sousa a 06.02.2015 às 18:21

A Grécia acabará por ceder, porque uma coisa é o discurso populista de quem quer chegar ao poder, outra coisa é o despertar para a realidade e o assumir responsabilidades. Ao contrário do que o nosso anterior primeiro ministro afirmou, os empréstimos são para se pagar (empréstimos que o gregos conseguiram em condições bem mais vantajosas que Portugal).
Se a Grécia continua numa péssima situação financeira, deve-o não à Alemanha ou ao FMI mas sim à sua própria incompetência. Incompetência que aliás não é novidade e ficou bem evidente na construção dum aeroporto (quando por toda a Europa se procedia apenas a expansões de aeroportos já existentes), e na organização dos Jogos Olímpicos. Subitamente um país que sempre se manteve na cauda do desenvolvimento europeu começou a gastar como se fosse rico. Nem estes anos de crise serviram para os gregos se aperceberem que nunca saíram da última linha europeia.
Quanto ao suposto apoio da Rússia, será no mínimo curioso. A Rússia está a atravessar a maior crise desde o colapso da União Soviética, o desemprego está a aumentar, o rublo está ridiculamente baixo, e as fragilidades duma economia baseada nos recursos energéticos estão bem evidentes.

De Anónimo a 07.02.2015 às 10:05

Uma análise séria e bem feita, pena é a existência de pouca comunicação entre os nossos políticos e os nossos líderes militares, pois saberiam como lidar com o mundo de hoje.

Apenas tenho a acrescentar que esta "guerra" declarada ao BRICS (aliados da Rússia), com a baixa do preço do petróleo (baixa causada pelos aliados americanos), pode levar a uma de duas situações, novas negociações geopolíticas, entre USA e Rússia, ou o inicio de confrontos militares mas desta vez declarados.

Quanto à situação financeira da Rússia e de esta poder estar fragilizada, desenganem-se a Rússia é auto-suficiente em quase tudo, militarmente é o país mais poderoso da actualidade, daí terem ganho aos USA o confronto na Síria (Armada Russa) e na Ucrânia.

Relativamente à Grécia, parte dos seus portos já foram tomados pela China (BRICS),mantendo-se a Rússia e a China à espreita de entrar na Grécia, e esta é a verdadeira moeda de chantagem dos Gregos com a Europa.

Não esquecer a Índia, não se fala neles mas estão lá também (BRICS).

Portugal continua a apostar no eixo dos americanos, quando podia estar muito bem caladinho e no seu canto, a ganhar com os dois eixos... Enfim!




De João Carlos Reis a 12.02.2015 às 07:47

Prezado Luís Menezes,
eu acho muito bem que o Schäuble tenha falado em alemão e o Varoufakis deveria ter falado em grego. É que o simples facto de falarmos num idioma que não é o nosso já é subserviência a estranhos... além disso, os tradutores também precisam de trabalho... Eu percebo um pouco de inglês, mas como não taduziu o que aqui pôs em inglês eu ainda não compreendi bem a última parte da segunda frase... é que os leitores não são obrigados a saber inglês...
Quanto ao resto, acho muito bem que os gregos peçam mais tempo para pagar a dívida... mas a par disso têm que gizar um plano de desenvolvimento económico do país para poderem pagar a dívida, caso contrário não adianta ter mais tempo para pagar a dívida, pois nunca se vão ter os recursos para tal... a bem deles eu espero que consigam ambas as coisas, pois se não conseguirem a segunda vai ser mais uma promessa eleitoral por cumprir...
Como gizar um planos destes dá trabalho, os nossos "queridos e amados" governantes (com a ajuda da maior parte dos nossos empresários e administradores) optaram pelo caminho mais fácil, mais subserviente e menos trabalhoso (para eles): ser mais "troikistas" que a "tróika" e pura e simplesmente aumentarem os impostos e reduzirem acriticamente as despesas...
Enquanto os nossos "queridos e amados" governantes (com a ajuda da maior parte dos nossos empresários e administradores) não gizarem um plano de desenvolvimento económico para o nosso Portugal de modo a podermos pagar a dívida, então bem nos podemos ir preparanto, pois na próxima década cá teremos a "tróika" de novo... ou algo idêntico....

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