Em defesa de Durão Barroso.
Tenho visto com espanto uma série de críticas à ida de Durão Barroso para o Goldman Sachs. Acho-as completamente absurdas. Como bem justificou Eça de Queiroz na sua obra O Conde de Abranhos, perante a mudança de partido de Alípio Abranhos, só há traição quando se abandonam os ideais que se serviram e se passa sem razão, para o serviço de ideais que até aí se combatiam! Permito-me adaptar as suas lúcidas considerações a este caso:
Há entre a Comissão Europeia e o Goldman Sachs ideais opostos? Abandona Durão Barroso ideias queridas, para ir, por interesses grosseiros, defender ideias detestadas? Não.
As ideias que servia na Comissão Europeia, vai servi-las no Goldman Sachs.
Em Economia, o que é a Comissão Europeia? Capitalista, monetarista e defensora do mercado. E o Goldman Sachs? Idem.
Em Política, o que é a Comissão Europeia? Liberal e plutocrata. E o Goldman Sachs? Idem.
Não têm ambos o mesmo amor pelo euro? O mesmo.
Não são ambos sustentáculos dedicados da banca? Dedicadíssimos.
Não desejam ambos a estrita aplicação do Tratado Orçamental, só do Tratado Orçamental e de todo o Tratado Orçamental? Desejam-na ambos, ardentemente.
Não são ambos centralizadores? São.
Não estão ambos firmes na manutenção de um controlo financeiro permanente? Firmíssimos, ambos.
Não têm ambos um nobre rancor a ideias revolucionárias? Um rancor nobilíssimo.
E em questões de cultura, de comunicação social, de regulação financeira, não têm ambos as mesmas óptimas ideias? Absolutamente as mesmas.
Não são ambos europeístas? Fanaticamente!
Então? — Pode dizer-se que Durão Barroso, indo da Comissão Europeia para o Goldman Sachs, trai as suas ideias? Não, certamente não!