Grexit?
O grande problema da zona euro é a sua total falta de controlo democrático, o qual estaria necessariamente associado à criação de uma moeda sem Estado. Na verdade, nem sequer os órgãos da União Europeia, como o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia, estão minimamente vocacionados para gerir esta zona, até porque a sua legitimidade eleitoral abrange quer os países que estão na zona euro, quer os países que ainda não aderiram a esta moeda. Assim sendo, as decisões acabam de ser tomadas apenas por um país: a Alemanha.
Até agora o que permitiu salvar o euro foi Merkel ter dado a entender que nenhum Estado-Membro abandonaria a moeda única, o que eliminou alguma desconfiança dos mercados nesta moeda peculiar. Mas Merkel nunca disse a palavra decisiva que os mercados tanto querem ouvir: que a Alemanha assumirá a dívida dos outros Estados-Membros, seja qual for a forma que revista essa assunção de responsabilidades. Não o fez porque a nível interno as consequências de dizer algo semelhante seriam catastróficas para a popularidade do seu governo, uma vez que em termos económicos o euro está a ser um excelente negócio para a Alemanha, mesmo que esta tivesse que intervir em auxílio dos Estados do Sul. Já a imposição de uma austeridade extrema aos "preguiçosos do Sul" agrada aos alemães, que nunca viram com bons olhos a irresponsabilidade na gestão das contas públicas, de que o nosso disparatado investimento no TGV é um bom exemplo.
O problema deste raciocínio é que é necessário que os governos colaborem com a austeridade, o que até agora tem acontecido com os governos dos Estados do Sul a acatarem atentos, veneradores e obrigados, os ditames de Merkel. Mas, pelos vistos, depois de medidas de austeridade cada vez mais extremas, os gregos chegaram ao ponto em que já não aguentam e estão dispostos a levar o Syriza ao governo. Merkel já está absolutamente farta desta deriva grega e prepara-se por isso para não aceitar qualquer chantagem de Alexis Tsipras e indicar à Grécia a porta da saída do euro. A Comissão Europeia já apareceu a protestar e a proclamar irrevogável a presença no euro. Mas os portugueses já aprenderam o significado dessa palavra em política. E depois dos dez anos da presidência de Barroso, já todos sabem que a Comissão Europeia nada manda na Europa.
A questão é que a saída da Grécia, com a natural bancarrota associada, lançará um descrédito mortal sobre os outros países do Sul e sobre o euro em geral, podendo levar ao colapso definitivo da moeda. Não parece, porém, que neste momento Tsipras e Merkel se preocupem com as consequências. Cada um deles parece mais apostado em levar a água ao seu moinho. Parece que voltámos à velha política de Mao Tsé-Tung: "Há um caos total debaixo dos céus. A situação é excelente". Bom ano de 2015.