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O candidato.

Sábado, 11.04.15

Já tinha tido ocasião de escrever aqui que, com o seu apoio a Sampaio da Nóvoa, António Costa tinha decidido suicidar-se politicamente, arrastando todo o PS com ele. Sabe-se agora que o fez completamente sozinho, sem avisar o seu partido, parecendo assim Andreas Lubitz, que se fechou no cockpit, e resolveu atirar o avião contra a montanha. Como bem se salienta aqui, imagine-se o que não se diria de António José Seguro se tivesse feito alguma vez algo semelhante.

 

Apesar de as legislativas serem muito mais importantes do que as presidenciais, são estas eleições as que despertam maior interesse pela fulanização que originam, pelo que a identificação antecipada do principal partido da oposição com um candidato presidencial é altamente redutora para esse partido, especialmente se o candidato vai ser igualmente apoiado por uma frente de partidos de esquerda, na qual o PS se dissolverá, afastando o eleitorado do centro, que é onde se ganham as eleições.

 

Mas o problema principal do apoio a esta candidatura é que se trata de um candidato absolutamente vazio, sem qualquer passado político, que esconde a vacuidade das suas propostas através de um discurso gongórico. Já imagino o seu discurso de apresentação da candidatura:

 

«Chegou de novo o dia em que temos de pensar mais nos outros do que em nós, em que temos de nos virar para o país, procurar sentidos, construir sentidos, uma vida digna de ser vivida (…).

Sei que tenho a obrigação de dizer palavras de futuro, e não as encontro. Não sei onde é que estão. Não sei para onde foram». (…) 

«É viver no presente mas para além das fronteiras do presente. Por isso, é nosso dever, é nossa obrigação, ir à procura da esperança, de uma esperança que é mudança. E se não a encontrarmos à primeira, então que façamos dela luta, resistência, união em torno de causas maiores que recusem as políticas menores que nos asfixiam. (…)».

É tempo de dizer não! (…). Não a um país sem futuro. “Perdoai-lhes Senhor, porque eles sabem o que fazem!” (Sophia de Mello Breyner).”»(…)

«O que mais nos surpreende, e nos indigna, é a fragilidade deste país. Parece que tudo abana à mais leve rajada de vento. Abanam as convicções, as pessoas, as instituições.

É por isso que temos de ser impacientes.

Não há nada mais urgente do que uma ideia de futuro, do que uma visão de longo prazo. Porque é ela que nos permite dar o primeiro passo. E nele vai já o caminho todo, toda a energia do percurso que temos de fazer» (…).

«Não queremos uma pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões (Almada Negreiros). Precisamos de uma coerência que está inscrita na história que fizemos depois de Abril. Não voltaremos atrás. (…)»

«Portugueses somos, como escreve Joel Serrão, que cito, para concluir:

“Nem a chuva amainou ainda, nem o sudoeste deixou de soprar em rajadas fortes, nem é menor o frio que há pouco sentia. Porém, ao olhar pela vidraça, como quem espairece o ânimo alquebrado por um momento de desânimo ou talvez de cansaço, que vejo? Que esperança é esta que sinto correr com o meu sangue?

Desculpai a confidência: à chuva, ao vento, as roseiras que podei em Dezembro rebentam já, e um cacho de glicínias – um só cacho ainda – antecipa-se em promessa do que será, em breve, um lençol lilás… Portugueses somos, amigos. É bom sabê-lo – e assumi-lo.”»

 

Precisamente em virtude da sua absoluta falta de passado político, a única coisa que se arranjou para se apontar ao candidato foi ter presidido ao júri de professores da minha Faculdade que reprovou Saldanha Sanches na agregação. Eu tinha uma profunda admiração por Saldanha Sanches e senti uma enorme tristeza com a sua morte prematura, como na altura tive ocasião de escrever. É, no entanto, evidente que Sampaio da Nóvoa não tem qualquer responsabilidade na decisão de um júri de uma Faculdade de que não faz parte, e em cujas deliberações nem sequer vota, sendo a sua presidência enquanto Reitor meramente protocolar. Apesar de muito bem escrito, este texto não tem por isso o mínimo fundamento, sendo a acusação final absolutamente ridícula.

 

Mas curiosamente, apesar de a acusação ser ridícula, a mesma desencadeou um coro de ataques ao articulista, que não me lembro de alguma vez ter ocorrido com artigos de opinião. Desde Augusto Santos Silva, passando por Isabel Moreira, e acabando em Arnaldo Matos, toda a esquerda se uniu no ataque a quem se atreveu a apontar uma única nódoa que fosse ao branquíssimo candidato, por mais insignificante — e neste caso inexistente — que fosse essa nódoa.

 

A única conclusão que se pode retirar de tudo isto é que afinal não é apenas António Costa mas a esquerda em geral que está a levar este candidato a sério. Só me apetece citar alguém — não foi Sophia de Mello Breyner — que disse: "Perdoai-lhes, senhor, porque eles não sabem o que fazem!" (Lc. 23,24).

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publicado por Luís Menezes Leitão às 09:44


2 comentários

De Makiavel a 11.04.2015 às 12:52

Registo que tem saudades de António José Seguro a liderar o PS. Como eu o percebo.
Qualquer candidato que seja apoiado por António Costa será zurzido impiedosamente. Ou por ser um suposto desconhecido, sem "passado" político, ou por pertencer ao aparelho partidário, o candidato apoiado por António Costa será sempre um candidato a abater. Começaram por o apelidar de demasiado radical, agora não tem passado político, o que se seguirá?

De Sara Lizba a 29.12.2015 às 00:08

Como,pode,por,viddeos?

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