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O regresso da Rússia.

Terça-feira, 20.03.18

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Passei os últimos dias do ano passado em viagem pela Rússia, aproveitando para ler a magnífica obra de Montefiore sobre os Romanov, que recomendo vivamente. O contacto com a população local fez-me ficar convencido de que o Ocidente nada compreende sobre a Rússia. O povo russo vive pacificamente com temperaturas que chegam a atingir -40º no Inverno, enquanto na Europa fica tudo paralisado com qualquer frio de muito menor intensidade. Na Rússia está tudo preparado para qualquer ataque terrorista, sendo que Putin não deixa nada ao acaso. Em Moscovo, na noite de fim-de-ano, as ruas foram completamente ocupadas com bulldozers para evitar carros armadilhados e o exército controlou completamente os festejos. O povo russo compreende que está em guerra na Síria e não deixa nada ao acaso. Curiosamente a passagem do ano foi realizada com um discurso de Putin, que falou na televisão mesmo antes de soarem as doze badaladas. E a popularidade de Putin é enorme, sendo que a maior parte das pessoas não compreende as sanções que o Ocidente lhe dirige. Dizia-me o guia: "Estamos a ter menos turistas sem qualquer justificação. Isto é por causa da Crimeia? A Crimeia sempre foi russa. Podem lá ir e perguntar a quem quiserem!". E de facto estas eleições demonstraram-no, com Putin a atingir 90% dos votos na Crimeia, mais ainda do que os já impressionantes 70% que teve no resto do país. 

 

A obra de Montefiore demonstra em qualquer caso o enorme expansionismo da Rússia. Desde que chegaram ao trono em 1613, até à sua queda em 1917, os Romanov expandiram o território russo em 52000 km2 por ano, nada menos do que 142 km2 por dia. A influência da Rússia na Europa é convenientemente esquecida na versão ocidental da história, que praticamente omite as vitórias russas nas sucessivas guerras europeias. Toda a gente admira na Alemanha o Imperador Frederico II, o Grande, esquecendo que na guerra dos sete anos só não perdeu Berlim, ocupada pelas tropas russas, porque morreu a Czarina Isabel, e o seu sucessor, o Czar Pedro III, que o admirava, mandou retirar as tropas, atitude ainda hoje considerada na Rússia um acto de traição. Toda a gente refere que na campanha da Rússia Napoleão conquistou Moscovo, mas ninguém fala que depois disso o Czar Alexandre I entrou duas vezes em Paris.

 

Por isso, quando a Rússia perde território, tenta reconquistá-lo. Após a enorme cedência de território em Brest-Litovsk, a Rússia procedeu paulatinamente à sua recuperação, tendo conseguido o apogeu na Segunda Guerra Mundial, que a história do Ocidente retrata como uma vitória sua, quando deixou metade da Europa nas mãos de Estaline, figura que aliás nunca foi contestada pelos aliados. Churchill dizia que, quando se olhava para aquelas personagens de Dostoievsky, percebia-se que a Rússia só podia viver em ditadura. Hoje a Rússia tem eleições, mas para escolher um autocrata, o qual considera que a queda da União Soviética foi um desastre. E a maioria do povo russo concorda inteiramente, vendo com muito maus olhos a expansão da NATO para junto das fronteiras russas, que considera um desafio e uma ameaça. É assim que, enquanto Trump está entretido com a Coreia do Norte e a China, que nunca foi uma potência expansionista, se preocupa apenas em crescer economicamente, a Rússia já ganhou a guerra na Síria e está a rearmar-se com eficácia, tendo nos últimos dias avisado o que acontece aos seus espiões que se queiram passar para o Ocidente.

 

Montefiore refere igualmente que Putin é conhecido entre os seus colaboradores como "o Czar" e que uma vez lhes terá dito que os dois maiores traidores da história russa eram Nicolau II e Gorbatchov. Quando lhe perguntaram porquê, respondeu: "Porque abdicaram. Eu nunca abdicaria". E de facto o novo Czar vai continuar a dirigir os destinos da Rússia por muito tempo. Não se metam com ele.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 08:13


14 comentários

De Anónimo a 21.03.2018 às 14:04

E, com efeito, percebemos tanto do povo russo como do norte americano. Como diz o meu vizinho, quando lhe azucrinam os ouvidos com coisas que só a ele dizem respeito, se esses opinadores e fazedores de opinião fossem tomar conta do que têm em casa, é que faziam bem.

De Anónimo a 26.03.2018 às 21:50

O povo russo não sabe para que lado se virar. E no final acabam a receber lavagens cerebrais da igreja ortodoxa.
O povo americano esse é infinitamente burro. A ver se finalmente acordam com todas as "Trump"alhadas.

De Cesar a 21.03.2018 às 17:33

A Rússia e Moscovo em particular não são destinos turísticos (se excluirmos as inúmeras excursões de chineses que se amontoam na zona do Kremlin e da Praça Vermelha. Só muito recentemente, provavelmente por causa do campeonato do mundo de futebol e da copa das confederações do Verão passado, é que o metro passou a ter informações em inglês e os nomes das estações tiveram direito a uma tradução. Tirando isso continua a ser um país difícil de visitar (talvez com a excepção de São petersburgo que é claramente mais europeia) se não se souber russo já que a esmagadora maioria da população ou não sabe inglês ou evita utilizar essa língua (o sistema de ensino afinal não é tão exigente como se imagina no ocidente) e a população não prima pela sua simpatia.
Por isso não foi o episódio da Crimeia quem afectou o turismo.
O ocidente não esqueceu as façanhas militares do império russo nem da união soviética tal como não se esqueceu do célebre Pacto Molotov-Ribbentrop nem da invasão conjunta de nazis e soviéticos que aniquilaram a Polónia. E talvez não se tenham esquecido que o exército soviético foi financiado pelo ocidente. Mas mais importante do que tudo isso, convém não esquecer que a união soviética perdeu um número muito elevado de vidas para pura e simplesmente, aproveitado a destruição que a guerra causou na Europa, ocupar todos os países que definhava a este da Alemanha quer impondo a sua bandeira ou impondo a sua ideologia. No amor é na guerra até pode valer tudo mas é raro ver tamanho desrespeito pelos outros e pelos seus próprios cidadãos.
A Rússia precisa é sempre precisará de um ditador (eleições são só uma forma de culto de personalidade) porque nunca na sua história conseguiu viver sem ter o poder concentrado na mão de um líder absoluto. Aos czares segui-se a união soviética e a esta, após brevíssimo interregno, segui-se Putin.
Sem um ditador a Rússia que na realidade se denomina Federação Russa, desintegrar-se-ia. Um território demasiado vasto (na sua esmagadora maioria desabitado) com várias repúblicas com a sua cultura própria, com a sua religião, com os seus grupos étnicos, não resistiria a um sistema democrático. Putin é o garante dessa estabilidade e continuidade. Quanto ao resto pouco importa o que ele faz ou promete, se continua a ignorar os veteranos de guerra que morrem na pobreza enquanto se fazem paradas militares para americano ver, se os russos continuam a evitar ao máximo recorrer aos hospitais porque sabem que qualidade é coisa que se paga e muito caro, se a educação continua a estar longe de ser prioritária, se as pensões são miseráveis e os preços continuam a aumentar (yeah right para quem dizia que as sanções económicas não teriam efeito), se é melhor continuar a acreditar que o gás chega e sobra para sustentar a economia...
Por alguma razão cada vez mais russos se fixam noutros países (e não é por causa do clima). Mas para aqueles que nasceram e sempre viveram neste mundo no qual o que interessa é ter armas invisíveis para defender o país de um inimigo imaginário (que até tem como líder um fantoche lá colocado pela Rússia) então não se justifica nenhuma mudança.
Ninguém teme a Rússia porque já todos estão habituados ao seu papel de bully. Um país com tantos problemas sociais nunca arriscará pisar o risco porque havendo armamento nuclear dos dois lados, ninguém arriscaria atacar para depois também ele ser aniquilado.

De pituína a 21.03.2018 às 18:30

Olhe... em relacao ao seu texto, até posso concordar com algumas passagens mas na sua maioria diria que foi escrito por uma pessoa que esteve na russia mas nao vio nada da REAL russia.
Um pais que aceita a fome e miseria de milhoes para que o seu governo trave lutas titanicas com os EUA e outros estados, uma nacao que parece venerar uma figura como o Putin mas quando um reporter pergunta a uma qq pessoa que acabou de sair de um comício do Putin porque lá foi e respondem que recebem cada um 300 rublos e assim já podem comprar um pouco de manteiga de qualidade, alguns ovos e um pouco de carne; uma nacao que continua a pensar que pode invadir paises soberanos e recuperar o que ja foi seu apenas porque sim, que arma e suporta 2/3 do planeta onde apenas se emquadram regimes totalitarios, despotas, autocratas, assassinos e cruéis, ... o que lhe direi mais...
O sr talvez tenha ficado tao cego com o reflexo das obras de arte do metro de Moscovo que nao conseguiu ver mais nada. Nao vio a taxa de criminalidade e homicídios russa, nao vio que a esmagadora maioria da populacao vive na miseria financeira e moral, que mais de 20% dos russos que sair para nunca voltar, que alguém que se opoe ao regime é morto imediatamente, etc.
Gostaria de ler uma resposta a estas palavras.

Boa noite.

De Anónimo a 21.03.2018 às 20:37

Como foi dito nas NU esta semana, o mundo e a humanidade corre grande perigo com este regresso do "opressor eterno e hiper kulunialista".

Putin, o maior bandido de todos os tempos, o dirigente de um país o mais rico de todos, quando era zero após o fim da URSA.

Não me esqueço do veto dos russos quando a União Indiana invadiu Goa, um território mais que Português, pela cultura, história e todo o tipo de argumento que se possa enumerar. 500 anos de história e um território ganho pela mestria e diplomacia Portuguesa, com todo o mérito e reconhecimento. A russia nem sequer 150 anos de história pode argumentar na Crimeia e outros territórios vergonhasamente ocupados, colonizados e esquecidos.

De Anónimo a 21.03.2018 às 20:38

É o veto russo, é o veto russo a lixar eternamente a paz no mundo, a atrasar a evolução do mundo. É o veto russo!!!

É uma questão de tempo até os russos serem suficientes para mandar fora os Algarvios, por exemplo, e colonizar o Algarve. Passará a ser o argumento histórico deles ... e quem se opôr será surpreendido com "semi-frio de polónio".

Este colunista deve ser mais um que faz parte daquelas empresas criadas para "pôr massa atrás das orelhas" dos totós.

De Anónimo a 21.03.2018 às 20:39

Toda a gente sabe como se criaram os estados modernos da ex-URSS, excepto os russos que se esqueceram dos tratados e acordos internacionais que assinaram, tratados e acordos reconhecidos pela comunidade internacional. Ao contrário da vergonha que se vê hoje e que ninguém tem tomates para se opôr e denunciar.

De Anónimo a 26.03.2018 às 21:49

A URSS foi dissolvida contra a vontade dos seus cidadãos. É verdade que algumas das repúblicas soviéticas (nomeadamente as do Báltico) resolveram separar-se da URSS mas em Março de 1991 houve um referendo sobre a preservação da URSS e em todas as repúblicas que não se tinham separado o povo votou a favor da preservação.
Gorbachev tentou democratizar a URSS.
Porque é que tanta gente ignora este facto histórico? E depois quando os catalães querem a independência já não deixam.
O capitalismo nunca se deu bem com a democracia pois se se desse bem com a democracia não teria financiado ditaduras em todo o mundo.

De Anónimo a 21.03.2018 às 20:40

Já todos sabem quem ganhou a II guerra mundial e que foi a Inglaterra por ter descoberto a encriptação secreta das mensagens dos alemães e depois, 200 pilotos da RAF bombardearam as fábricas de armamento dos mesmos, porque ficaram a saber onde se situavam. Todos sabem que os EUA ajudaram o Stalindo a se armar e a combater os nazis. Os russos foram os primeiros a entrar em Berlim só por acaso. E todos sabem que, mesmo assim, um blindado nazi chegava para anular muitos muitos blindados russos. E todos sabem que um russo que tivesse sido preso pelos nazis e fugisse e para junto dos concidadãos era abatido pelos próprios russos e todos sabem que os Stalindos e os Llelindos dizimaram mais de 20 milhões de russos seus concidadãos.

De Anónimo a 26.03.2018 às 21:29

Você é um fã acérrimo dos factos alternativos, não?

De Anónimo a 21.03.2018 às 20:41

Em vez de dizer "... expandiram o território ..." deveria ter escrito "... colonizaram o território ..." São assim, hoje, os maiores colonialistas do mundo.

O argumento histórico para colonizarem a Crimeia não foi aplicado ao caso Português, não servia aos interesses russos de "f...r" tudo e todos à sua passagem. E vetaram tudo até hoje contra tudo e todos e todo o tipo de bom senso, humanidade, tolerância e a história. Ainda esta semana vetaram, imagine-se, a discussão de um relatório sobre os direitos humanos violados por russos na Síria, devastada por outro bandido amigo do bandido, tais como Maduro, Al Hassad, Kadafi, Kim, Chavez ... tudo gente Stalinda, cujos povos estão devastados enfiados na miséria e violência, na ponta das kalachnikov, a arma mais mortal do mundo, distribuída por todo o canto do mundo onde é necessária a morte bem vinda para a rússia.

De Anónimo a 21.03.2018 às 20:41

Rússia, o maior colonialista do mundo, de todos os tempos.

No seu texto, onde está Rússia deveria estar, "Opressor Kulunialista".
Deveria ter escrito "... vive pacificamente com vodka e armas ... muitas armas e perigosas". Já estamos a ver o filme, armas perigosas nas mãos de ébrios racistas, intolerantes e mafiosos. Praticamente não existe outro motivo de vida para os russos senão as armas e lixar o vizinho, tudo e todos com elas.

Na Crimeia viviam Tatares Turcos e Ucranianos e os russos só lá chegaram muito depois de os portugueses terem estado em Kamachatka, imagine-se. Se os Portugueses fossem como os russos metade do mundo era Português e era a metade fértil.

90% Putin na Crimeia só seria possível se não houvesse lá mais ninguém senão russos. E foi isso mesmo que aconteceu, imagine-se. Os Ucranianos, que eram mais de metade da população, mais os Tartaros Turcos, fugiram da Crimeia ou foram mortos ou estão presos. Assim a democracia fica mais fácil. Portanto, a Crimeia é mais uma das colónias russas, juntamente com toda a Sibéria, até Kamchatka, onde os Portugueses estiveram muito antes dos russos lá chegarem por terra. Azar para os habitantes locais que desapareceram. O território russo original é um triângulo entre Minsk, Kiev e Moscovo. O resto é colonialismo puro e duro, sem piedade.

70% Putin só pode ser resultado de muito "semi-frio de polónio" e propaganda.

Em vez de dizer "... expandiram o território ..." deveria ter escrito "... colonizaram o território ..." São assim, hoje, os maiores colonialistas do mundo.

De Anónimo a 21.03.2018 às 20:51

Gostava muito de saber porque é que os refugiados e pobres de todo o mundo não fogem para a russia, china, coreia do norte, os seus "bem feitores", mas refugiam-se no Ocidente, UE e Américas ... esses "porcos capitalistas" que amam a liberdade.

De Anónimo a 26.03.2018 às 21:31

A Rússia e a China também são "porcos capitalistas". Você esteve em coma desde 1991 e acordou agora?
A Rússia tem 11 milhões de imigrantes no seu território, já agora.

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