O segundo debate Marcelo-Sampaio.
Há 25 anos Marcelo Rebelo de Sousa envolveu-se de alma e coração numa candidatura à câmara de Lisboa, fazendo tudo para chamar a atenção de um eleitorado que não o conhecia, como conduzir um táxi pelas ruas da capital e mergulhar no Tejo. A sua campanha local apareceu com tanta força que ninguém do PS se dispunha a enfrentar Marcelo nessa corrida. Vítor Constâncio demitiu-se, perante as sucessivas recusas que foi recebendo, e o seu sucessor, Jorge Sampaio, foi obrigado, enquanto líder da oposição, a apresentar uma candidatura pessoal contra Marcelo. Já nessa altura coube a António Costa fazer as pontes para um acordo de esquerda contra Marcelo. Mas mesmo esse acordo não parecia ser suficiente, uma vez que Sampaio suscitava pouco entusiasmo perante a energia e o brilhantismo de Marcelo.
Isto foi assim até que se realizou um debate entre Sampaio e Marcelo. Nesse debate Marcelo decidiu adoptar uma pose mais serena por contraponto ao que até então tinha sido a sua intervenção. Esse erro foi-lhe fatal. Jorge Sampaio, com a experiência de advogado de barra, explorou as fragilidades do discurso de Marcelo e, ao contrário do que se esperava, Marcelo não foi capaz de lhe dar a réplica devida. Marcelo saiu do debate a dizer que se calhar tinha desiludido os seus apoiantes e de facto nesse dia perdeu as eleições.
Nestas eleições, passou-se o contrário. Marcelo optou por uma campanha completamente vazia, o que envolvia sérios riscos como aqui salientei. Mas, ao contrário do que se passou há 25 anos, não descurou o debate com Sampaio da Nóvoa. Pelo contrário, entrou completamente a matar, chamando a atenção para a total falta de currículo político do candidato, a sua ignorância absoluta da função presidencial, e o seu comprometimento ideológico com uma minoria dos eleitores. Nóvoa, perante o massacre que sofreu, só lhe faltou levantar os braços e invocar a convenção de Genebra. Lá foi dando uns apartes sobre o serviço nacional de saúde, que Marcelo facilmente desmontou, e fez referência aos antigos presidentes que o apoiam, o que Marcelo ridicularizou. No fim Marcelo deu-lhe uma estocada final decisiva quando chamou a atenção para a carrinha dos seis assessores que ele tinha trazido, criando no público a sensação de que sem assessores Nóvoa não existe.
Marcelo teve passados 25 anos a sua segunda oportunidade num debate político decisivo. Desta vez não a desperdiçou. No próximo dia 24 será entronizado presidente. E, diga-se de passagem, no actual quadro político é a melhor solução para o país.
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22 comentários
De António a 08.01.2016 às 12:09
De João a 08.01.2016 às 15:00
O Prof. Sampaio da Nóvoa é o candidato despojado daquilo que todos dizem estar fartos: Politicos! Força, Professor Sampaio da Nóvoa. (Nao, não sou assesor!)
De Ricardo a 08.01.2016 às 12:26
De Fersilva a 08.01.2016 às 13:58
O Marcelo é um mestre do marketing e daí não passa. Oxalá não engane mais os Portugueses.
De Makiavel a 08.01.2016 às 12:50
De Fernando Teixeira a 08.01.2016 às 13:10
De cristina a 08.01.2016 às 13:16
De Anónimo a 08.01.2016 às 13:35
- ERRADO - você vive no mundo da lua se acha que os portugueses dão importância ao currículo político, pois é exatamente o oposto: quanto menos passado político, menos nódoa.
E os factos estão contra Marcelo: temos como presidente o político (para além de Aberto João Jardim) com mais anos de experiência e vejam o bonito estado em que ficámos... está na hora de eleger cidadãos e de acabar com o "carreirismo" político !!!
Você acha que Marcelo "ganhou" porque acusou Sampaio da Nóvoa de ter "ignorância absoluta da função presidencial"
- ERRADO - só mesmo quem não leu o site do Nóvoa pode dizer tal coisa.
Você acha que Marcelo "ganhou" porque disse que Sampaio da Nóvoa tem "comprometimento ideológico com uma minoria dos eleitores."
- ERRADO - é Marcelo quem tem uma candidatura partidário de uma minoria (PSD + CDS) e Nóvoa não está comprometido com ninguém pois a sua candidatura é pessoal. A ter algum posicionamento ideológico, ele é tal que coincide com a atual MAIORIA ABSOLUTA dos portugueses: toda a esquerda, do extremo ao centro, daí o Livre ter decidido apoiar esta candidatura.
Você acha que Marcelo "ganhou" porque Sampaio da Nóvoa deu "uns apartes sobre o serviço nacional de saúde, que Marcelo facilmente desmontou"
- ERRADO - Marcelo apoia os partidos (e o apoio é recíproco, por mais que tentem disfarçar) que são contra o SNS e que tudo fizeram para o destruir (inclusive má gestão propositada).
Você acha que Marcelo "ganhou" porque Sampaio da Nóvoa referiu "antigos presidentes que o apoiam, o que Marcelo ridicularizou"
- ERRADO - Sampaio da Nóvoa é apoiado por 3 presidentes que ganharam com maiorias absolutas e os seus eleitores terão isso em consideração. Pelo contrário, o único "modelo" de Marcelo é Cavaco Silva, isso sim, algo cujo ridículo só é ultrapassado pela tentativa de Marcelo de mostrar distância da sua "família" e de se fazer de "independente".
Você acha que Marcelo "ganhou" porque "deu-lhe uma estocada final decisiva quando chamou a atenção para a carrinha dos seis assessores que (Sampaio da Nóvoa) tinha trazido"
- ERRADO - Marcelo mostrou que Nóvoa é alguém que ouve os outros enquanto Marcelo será uma cópia de Cavaco no sentido em que não ouve ninguém e gosta de se ouvir apenas a si dizer asneiras consecutivas (exatamente por não ouvir mais ninguém).
Finalmente, sabemos que Sampaio da Nóvoa pretende respeitar e fazer respeitar a lei fundamental do nosso estado de direito, enquanto Marcelo é o candidato que apoiou o governo que durante 4 anos governou à margem da lei.
Elejam aguém com este cadastro e depois passem 5 anos a dizer "ai".
Por fim, as sondagens. Marcelo muito à frente e Nóvoa a lutar pelo 2º lugar bem mais atrás. É normal, o bom senso do eleitorado é coisa rara numa sociedade desinformada... e portanto votam na cara que viram durante 10 anos na TV. Calhou o Marcelo, mas podia ser o apresentador do Preço Certo... ou a apresentadora da Casa dos Segredos... É esse o nosso eleitorado maioritário. Será essa a vitória de Marcelo e será essa a derrota da cidadania portuguesa.
De Isabel a 08.01.2016 às 13:58
De António Cortes a 08.01.2016 às 14:16
Desde sempre, Marcelo falha quando tem que enfrentar o contraditório!
Foi o que se viu...se calhar Sampaio da Nóvoa ainda vai a tempo!
De José a 08.01.2016 às 14:23
Em relação à falta de presença política de Sampaio da Nóvoa, acho que o antigo reitor foi muito brando com o Marcelo. Devia ter-lhe respondido que ele raramente punha os pés nas aulas que era pago para dar na Faculdade de Direito.
Ainda só uma coisa, sobre essa de ele ser a melhor solução. Lembra-se do "presidente de todos os portugueses", ou seja, o imbecil (ofendi a pessoa, não o cargo, para que conste) que agora ocupa o Palácio de Belém? O Marcelo fez-me lembrar dele com aquela do presidente acima dos conflitos. Sinceramente também me fez lembrar do regime fascista: o que interessa é a paz social, a cooperação entre todos os setores da sociedade (mesmo que um deles morra de fome com a austeridade, hoje como nas décadas de 40 e 50). Mas leia-se, ele até é um afilhado de Marcelo Caetano, só honra o padrinho fascista (que diga-se, era muito mais intelectualmente honesto que este Marcelo do século XXI).
De Makiavel a 08.01.2016 às 14:44
Parece que há quem tenha visto o debate tal como ele decorreu.