Obviamente, demita-se!
António Costa parece ser o único que ainda não percebeu que a sua posição no PS se tornou absolutamente insustentável, depois da derrota de ontem. Efectivamente, numa noite em que, do PAF ao PAN, passando pelo BE e pela CDU, todos tiveram motivos para festejar, o PS foi o único derrotado da noite, tendo tido uma derrota colossal. António Costa deixou o partido totalmente estilhaçado e a claque que levou ao Altis para gritar "Costa! Costa!" não consegue iludir o estado calamitoso em que o PS se encontra no dia seguinte.
Tudo isto se deve à enorme irresponsabilidade de António Costa. Em primeiro lugar, António Costa nunca deveria ter derrubado António José Seguro, que estava a conseguir levar a água ao seu moinho, com duas sucessivas vitórias nas autárquicas e europeias. Só o fez porque Seguro não iria permitir a candidatura presidencial de José Sócrates, o que levou os socráticos a empurrar Costa para o derrubar. Era óbvio que estava tudo preparado para que Sócrates fosse ao congresso que aclamou Costa, onde seria entronizado candidato presidencial do PS.
Só que Sócrates foi preso na véspera, o que deixou António Costa sem candidato presidencial. António Costa não hesitou então em abandonar Sócrates à sua sorte e preferiu então apostar em Sampaio da Nóvoa como candidato, o que já demonstrava a radicalização do PS à esquerda, que sucessivas promessas de reverter todas as reformas do governo cada vez mais acentuavam. Com isto o eleitorado do centro, que tinha sido recuperado por Seguro, ia-se afastando sucessivamente do PS.
António Costa resolveu então guinar à direita, mas sem grande convicção. Para isso encomendou um programa a um grupo de economistas liberais, que pudesse funcionar como indicação do aval dos especialistas às propostas do PS. Só que foi ficando evidente em sucessivas entrevistas e debates, que António Costa nada percebia do programa, respondendo sempre com grande irritação às questões que sobre o mesmo lhe colocavam. Na entrevista a Vítor Gonçalves só faltou ameaçar espetar o programa na cara de quem duvidasse do que lá estava.
Como o eleitorado do centro manifestamente não aderia, António Costa voltou a guinar à esquerda. Proclamou o seu ódio eterno à "coligação de direita", ameaçando que não a deixaria governar, rejeitando o orçamento, ou formando mesmo um governo com os partidos da extrema esquerda. Obviamente estes agradeciam o favor, uma vez que, com a promessa desse governo, qualquer apelo ao voto útil da esquerda no PS deixava de fazer sentido. O eleitorado do centro é que cada vez se deslocava mais para a coligação, vendo com terror absoluto a hipótese de um governo chefiado por António Costa com Jerónimo de Sousa e Catarina Martins como vice-primeiros-ministros.
Perante este desastre, que todas as sondagens evidenciavam (e, diga-se de passagem, nem seria preciso nenhuma para o perceber) António Costa resolveu apelar à maioria absoluta (!!!) e ao voto útil, chegando o PS a proclamar que um voto na extrema-esquerda era um voto na coligação. Era difícil ter chegado mais longe no delírio político.
Na noite eleitoral, a extrema-esquerda cobrou a Costa as promessas da campanha, exigindo-lhe que os acompanhasse na votação de uma moção de rejeição ao programa do governo. Costa percebeu a armadilha em que se tinha deixado cair e deu o dito por não dito, dizendo agora que não alinhava em maiorias negativas e que o PS afinal era um partido responsável. Se tivesse dito isso na campanha, provavelmente não teria perdido tantos eleitores do centro e talvez tivesse conseguido algum voto útil à esquerda.
Depois deste absoluto desastre, António Costa aparece a proclamar: "Manifestamente não me demito!". Pois eu acho que o que no PS lhe deveriam dizer, parafraseando uma frase histórica era: "Obviamente, demita-se". Será que, tirando a claque que esteve ontem no Altis, alguém no PS duvida de que esta é a única solução aceitável?
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19 comentários
De Anónimo a 05.10.2015 às 10:39
O "namoro" ocasional com a esquerda mais ideológica fez com que o PS entrasse no espaço do BE, e obviamente que perdeu para o BE -- partido de protesto e não de governo, e a continuar a não aprender as suas lições arrisca-se a ser gradualmente substituído pelos outros mais à esquerda (que afinal fazem melhor o papel do PS "de protesto" de Costa).
De Edgar a 05.10.2015 às 11:24
De Anónimo a 05.10.2015 às 11:13
De Nicola Russell a 05.10.2015 às 13:35
Mas pelos vistos também há 68 % que rejeitam as da esquerda. Just saying.
Se contas são contas então façmos as contas a todos.
Pessoas que votaram PS: 32,38 pessoas que não votaram PS: 67,62 Pessoas que votaram BE: 10,22 Pessoas que não votaram BE: 89,78 Pessoas que votaram CDU: 8,27 Pessoas que não votaram CDU: 91,73 etc
De Anónimo a 05.10.2015 às 14:53
o que quer dizer que 61,4% dos portugueses votaram em partidos da esquerda.
De Nicola Russell a 05.10.2015 às 17:18
e que tem em comum a esquerda do PS a do Bloco e a do CDU ?
Aparentemente nada, uma vez que não se uniram em altura nenhuma... querem agora, depois das eleições terminadas ? Não percebo... mas se calhar não é pra perceber.
De Anónimo a 06.10.2015 às 15:45
Eu sou a favor de mais pragmatismo e menos ideologia, o que interessa é governar bem, agora se é um partido da esquerda ou da direita...
De luis santos a 05.10.2015 às 14:14
ALIÁS, O BE CRESCEU À CUSTA DE MUITOS DESERTORES DO P.S.
PROXIMO !?.....
De Sérgio Pinto a 05.10.2015 às 14:34
Em cada 10 votantes , 4 votaram no actual governo, os outros 6 não se conseguiram entender. Conclusão: não há nenhuma alternativa credível neste momento.
De carlos antunes a 05.10.2015 às 14:36
a forma depreciativa como fala do povo portugues, leva-me a pensar que vª excª é um irudito ao nivel daqueles que chupam a têta por lamberem as botas aos tais...
respeitinho porque se calhar na sua geração anterior nem meia sardinha tinham, batiam ao portao à espera de esmola.
redima-se à sua insignificancia de cobarde aziado...e não se esqueça de pagar a prestação do mercedes a tempo e horas........
De xxpo a 06.10.2015 às 13:26
De Ana Mateus a 05.10.2015 às 13:31
Os Portugueses não querem um governo de esquerda, mas não dão carta branca aos partidos da coligação. Governam mas têm de ouvir os outros. Quanto a Antonio Costa... Esta a pagar a sua extrema incompetência e a sua não demissão é a prova da sua birra. Enfim!
De Fersilva a 05.10.2015 às 13:51
Não esquecer, a esquerda tem a maioria.
De Pedro Andrade a 05.10.2015 às 15:34
De Nevermind a 05.10.2015 às 14:41
De Hybris a 05.10.2015 às 14:55
Um comediante de 5ª categoria referenciado para as salas de bingo no turno de almoço...
De Francisco a 05.10.2015 às 19:19
Em segunda lugar, até o Costa se apercebeu do erro descomunal que foi apelar à extrema esquerda. Será mesmo queremos mesmo ir pelo o caminho grego? Será que queremos mesmo entregar o governo deste país pequeno e economicamente débil ao radicalismo e experimentalismo político? O é que vamos alcançar com isso? O mesmo que os gregos alcançaram: uma mão cheia de nada e um futuro repleto de problemas.
Dito isto, o PS tem que admitir a derrota e ponto final.
De Gil Teixeira a 08.10.2015 às 01:46
Os eleitores estão-se nas tintas para os programas dos partidos, bem ou mal elaborados, e para os “fait-divers”.
Sócrates anunciou o aberrante casamento entre pessoas do mesmo sexo, num país quase dito todo católico e ganhou as eleições. Cavaco Silva, depois de ter governado durante 10 anos, oito dos quais com maioria absoluta, foi chumbado a primeira vez como presidente da república.
Penso que António Costa saberá ler os votos destas últimas eleições e não se vai demitir, mas tentar sair da política por uma porta que não seja muito pequena.