A queda de uma Angela.
Quando escrevi uma crónica para o i que saiu hoje sobre este assunto, estava longe de imaginar que o resultado final de toda esta deriva na Europa sobre a questão das migrações seria uma derrota colossal de Angela Merkel às mãos do seu Ministro do Interior Horst Seehofer, líder da CSU. Desde Setembro de 2015 que Seehofer tem vindo a criticar a decisão de Merkel de abandonar unilateramente a regra de Dublin — que obriga os processos de asilo a serem tratados pelo país a que os refugiados chegam em primeiro lugar — em ordem a permitir o acolhimento desses refugiados pela Alemanha. Trata-se de uma decisão humanitária, mas com custos políticos sérios, uma vez que grande parte do povo alemão não a compreendia, tendo sido esse o principal factor que levou ao crescimento eleitoral da AfD. Merkel não se preocupou com esse crescimento, a partir do momento em que conseguiu reeditar a grande coligação com o SPD. Mas Seehofer vai ter eleições na Baviera no Outono e a AfD poderia ameaçar seriamente a sua CSU, se esta não tomasse uma posição firme na questão dos refugiados. Seehofer ameaçou com a sua demissão do governo, que poderia destruir a coligação, e agora ganhou em toda a linha. Merkel viu-se obrigada a abandonar a sua política de abertura aos refugiados e concordou inclusivamente com a criação de "centros de trânsito" para recambiar os refugiados de volta ao país da Europa onde entraram em primeiro lugar.
Fez-se uma cimeira europeia sobre a questão das migrações, com decisões patéticas, como "centros de acolhimento" na costa africana, que obviamente já foram rejeitados por todos os países africanos da zona. Mas pelos vistos essa cimeira europeia, destinada a ir em socorro de Merkel, não impediu que a mesma fosse politicamente trucidada por Seehofer. Merkel pode continuar como chanceler, mas é manifesto que já não dá as cartas na política alemã. Hoje assistiu-se à queda de uma Angela.
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Merkel de braços abertos.
A fazer lembrar a Música no Coração.
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Herzlichen dank mein lieber Freund.
Leio aqui que Angela Merkel vai homenagear Durão Barroso na próxima segunda-feira em Berlim. Trata-se de uma homenagem mais que merecida. À frente da Comissão Durão Barroso sempre esteve totalmente do lado das posições alemãs e contra os interesses dos países do Sul, incluindo daquele a que pertence. Como bem se escreve neste artigo: "Os dois líderes políticos estiveram juntos na pobreza e na austeridade, no desemprego e no crescimento da Europa, até que o fim do mandato de Durão, em outubro de 2014, os separou". Faz por isso todo o sentido que Merkel condecore Durão Barroso. Já que Cavaco Silva também o tenha feito, é mais difícil de explicar. O legado de Durão Barroso na Europa está à vista com o crescimento dos partidos radicais que ameaçam estilhaçar o projecto europeu. Aposto que, nas suas próprias imortais palavras, hoje vamos começar a ter o caldo entornado.
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Estratégia brilhante.

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O juramento de Angela Merkel.
Em Portugal havia uma série de gente, desde António José Seguro a Freitas do Amaral, que tinha grande esperança no resultado das eleições alemãs. Sempre achei, pelo conhecimento que tenho da Alemanha em frequentes viagens, que não valia a pena esperar nada dali. Os alemães defendem os seus próprios interesses e Angela Merkel tinha-o feito impecavelmente, pelo que era óbvio que seria reeleita. Mas, mesmo que o não fosse, não haveria nenhum Governo alemão que aceitasse a história de os alemães pagarem as dívidas alheias, que é no fundo o que significam os eurobonds. Não valia a pena, por isso, diabolizar Angela Merkel. Se há alguém que merece críticas é, pelo contrário, Durão Barroso, que foi eleito para defender os interesses gerais da União Europeia e só tem defendido as pretensões alemãs.
Se houvesse dúvidas sobre o que é suposto fazerem os chanceleres alemães, elas podem ser desfeitas com a simples audição do juramento de posse do cargo, que consta do vídeo acima: "Ich schwöre, dass ich meine Kraft dem Wohle des deutschen Volkes widmen, seinen Nutzen mehren, Schaden von ihm wenden, das Grundgesetz und die Gesetze des Bundes wahren und verteidigen, meine Pflichten gewissenhaft erfüllen und Gerechtigkeit gegen jedermann üben werde. Ich schwöre es, so wahr mir Gott helfe". Ou seja: "Juro que vou dedicar os meus esforços ao bem do povo alemão, aumentar os seus benefícios, protegê-lo de danos, respeitar e defender a Constituição e as leis da Federação, cumprir conscientemente os meus deveres, e fazer justiça a todos. Juro-o, assim Deus me ajude".
Em relação ao povo alemão, Angela Merkel tem sempre cumprido impecavelmente o seu juramento. A pergunta é apenas se não se deveria instituir um juramento semelhante para o Primeiro-Ministro português, naturalmente agora relativo a Portugal. Porque quanto à União Europeia, esqueçam. Neste momento, cada país está por sua conta.
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As eleições alemãs.

Por razões profissionais estive na semana passada na Alemanha e pude assistir à campanha eleitoral alemã. Da mesma pude concluir que a aspiração de tantos políticos portugueses de que alguma coisa possa mudar após essas eleições é perfeitamente ridícula. Angela Merkel está de pedra e cal na chancelaria, e não vai alterar um milímetro a política que desenhou para a Europa. Quanto a Peer Steinbrück, já tinha concluido que tinha tantas hipóteses de ser eleito chanceler como o Reichstag de dançar o samba. Mas depois desta entrevista bem pode ir já para casa. Merkel vai ser assim naturalmente reeleita e a única dúvida é se os seus parceiros de coligação, os liberais do FDP, conseguem ou não entrar no parlamento. Mas, com eles ou sem eles, não haverá solução de governo que não tenha Merkel na chancelaria.
Verifiquei ainda que o discurso radical contra os países do sul da Europa está a ter grande sucesso na Alemanha. Por todo o lado vi cartazes com frases como esta: "os gregos que paguem sozinhos as suas dívidas". Ou: "os resgates do euro põem em causa as nossas pensões". É espantoso que a opinião pública alemã não se aperceba do que o país já ganhou com a crise do euro. Mas como a política não é racional, é de prever que a prazo termine a paciência dos alemães para continuar a financiar estes resgates.
Neste enquadramento, não deixei de achar curioso que Wolfgang Münchau tenha vindo cá sugerir a Portugal que ameace com a saída do euro como estratégia negocial para obter melhores condições para nele permanecer. Acho que se Portugal adoptar essa estratégia o mais provável é do outro lado ouvir: "Excelente ideia! Estávamos mesmo a pensar propor-lhe isso".
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A Europa a seus pés.

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Isto começa a ser demais.

Depois de Angela Merkel se ter atrevido a opinar publicamente sobre os investimentos que uma região autónoma de Portugal deve fazer, agora surge o alemão Martin Schulz, Presidente do Parlamento Europeu, a criticar Portugal por receber investimentos de Angola, considerando que assim o país caminha para o declínio. Confesso que cada vez tenho menos paciência para aturar esta arrogância teutónica. Que se saiba, quando elegemos governantes cabe-lhes a eles decidir a política económica do país, pela qual respondem perante o seu povo e não perante governantes estrangeiros. Não admira que a Grécia já prefira o desastre a continuar a ceder às exigências do duo Merkozy. Parece evidente o colapso do euro e da própria União Europeia. Mas grande parte da responsabilidade cabe às instituições da União que se apagaram completamente em benefício de dois Estados-Membros que até conseguiram impor aos outros um tratado intergovernamental, à margem dos tratados da União. Durão Barroso tem sérias culpas no que se está a passar. A Comissão Europeia a que preside deveria ser a guardiã dos tratados e parece disposta a assistir impávida e serena à sua detruição.
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O Diktat da Senhora Merkel.
Segundo se refere aqui parece que a Senhora Merkel acha que os países endividados devem ser sujeitos a perdas de soberania de tal forma a que os que "não cumprem os critérios devem ser obrigados a cumprir", exigindo mais uma alteração aos tratados europeus para o efeito. Neste momento, parece que os tratados europeus de tratados já só têm o nome, sendo constantemente substituídos por um verdadeiro Diktat da Senhora Merkel, às vezes isoladamente, outras vezes em parceria com o Senhor Sarkozy. Gostava de saber que perda de soberania maior que aquela que já sofremos ainda nos pode vir a ser exigida. Custa-me assistir ao descalabro da União Europeia a benefício do seu maior Estado-Membro, a Alemanha. Há quem se resigne a isto, e diga que a nova Alemanha tem que mandar na Europa. Mas a Europa deve lembrar-se que não é à Alemanha que deve o seu nome. É à Grécia.
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O governo europeu da Senhora Merkel.
Para mal dos nossos pecados, a Senhora Merkel, que apenas os alemães elegeram para mandar no seu país e se preparam para rapidamente despedir, conseguiu por abstenção dos outros líderes europeus mandar em toda a Europa. O seu poder sobre os outros Estados é de tal ordem que até o Primeiro-Ministro Passos Coelho consegue numa visita a Berlim desdizer tudo o que Portugal até agora tinha dito sobre eurobonds, deixando até perplexo Felipe González.
A Senhora Merkel acaba, porém, de reconhecer que o euro começa a estar em risco e que a previsível saída da Grécia terá um efeito dominó perigoso. Efectivamente, depois da Grécia seguir-se-á Portugal, Irlanda, e provavelmente Espanha e Itália. A questão é que os tratados nem sequer prevêem a saída de nenhum país do euro, mas apenas a saída da própria União Europeia. É por isso manifesto que o descalabro do euro acarretará o desmoronar da União Europeia, pois não pode a liberdade de circulação de mercadorias continuar a existir se os vários países europeus começarem a competir entre si, desvalorizando as respectivas moedas. Os países do Norte criarão imediatamente barreiras alfandegárias à circulação das mercadorias oriundas dos países do Sul.
Aí está como o governo europeu da Senhora Merkel, a que foi conduzida como resultado da omissão dos órgãos da União Europeia, corre o risco de levar ao desmoronar da própria União Europeia. Helmut Kohl já avisou.