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Os apoios de Sampaio de Nóvoa.

Sexta-feira, 22.05.15

Há um sintoma preocupante que atinge os políticos portugueses de esquerda, principalmente a partir dos 75 anos de idade: uma tendência irresistível para o apoio a Sampaio da Nóvoa. Quem pode resistir afinal a um candidato que lhes recorda as suas maiores paixões da juventude, a luta intransigente pelos gloriosos amanhãs que cantam? Quem pode resistir a um candidato que participou na LUAR, nas comissões de moradores e de trabalhadores, e que fundou o glorioso movimento do TMUPA, Trabalhadores Moradores Unidos para as Autarquias, que arrasou tudo e todos nas eleições para a Assembleia de Freguesia da Parede em 1976? Quem pode resistir a um candidato que considera abominável o "arco da governação", porque logo à partida exclui 20% dos portugueses, que deveriam naturalmente ser a vanguarda da classe operária?  É por isso que, como Presidente, se propõe fazer consensos em torno de projectos, que é de todas as coisas a que faz melhor. Mas desde que não seja ao centro, que essa amálgama do centro é uma coisa muito irritante em Portugal. Nóvoa nem sequer está muito preocupado com a estabilidade governativa, admitindo dar posse a um governo minoritário (se calhar dos tais 20%…), já que para ele estabilidade não é ficar tudo na mesma. Por isso também não quer um governo de bloco central, já que o seu ponto de partida é a crítica às políticas de austeridade. Este discurso recorda-me Vasco Gonçalves, o saudoso companheiro Vasco, que após as eleições de Abril de 1975 garantiu que não podia permitir que fossem perdidas nas urnas as conquistas revolucionárias tão duramente obtidas pelo povo português.

 

Os apoios de Sampaio da Nóvoa são inteiramente justificados. Da mesma forma que o candidato considera aqueles momentos dos anos revolucionários os mais importantes da sua vida, quando tinha a sensação de que tudo era possível, os seus apoiantes aspiram também pelo regresso a esses tempos heróicos. Se calhar também já estou afectado pelos discursos de Sampaio da Nóvoa, pois só recordo a propósito uma citação do poema de Casimiro de Abreu, As Primaveras, de 1859: "Oh! que saudades que eu tenho/ Da aurora da minha vida/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais!/ Que amor, que sonhos, que flores/ Naquelas tardes fagueiras/ À sombra das bananeiras/ Debaixo dos laranjais!". Mas o problema é que Sampaio de Nóvoa também defende a não assinatura do Acordo de Parceria Transatlântica para o Comércio, um referendo aos tratados europeus e a renegociação da dívida até ao limite do possível. Parece-me por isso que ele e os seus apoiantes vão ter um duro choque com a realidade. Tão duro que provavelmente acabarão mas é a cantar o Que reste t'il de nos amours?, de Charles Trenet.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 14:57





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