Viagem à irrealidade quotidiana.
Cavaco Silva devia estar em Belém, preocupado em arranjar uma solução que acabasse com o penoso espectáculo que todos os dias este Governo exibe. Agora, depois do caos criado na justiça e na educação, o Governo resolveu chamar parvos a todos os portugueses, prometendo uma baixa de impostos, a ser realizada pelo governo seguinte. Por muito menos que isto Sampaio terminou com o governo de Santana Lopes, que não tinha feito um décimo dos disparates deste. Mas Cavaco não liga nenhuma ao que se passa com o governo, preferindo deslocações ao interior, onde mostra triunfante os poucos exemplares que por milagre ainda lá resistem, depois de o Estado ter desaparecido do seu território. Fazendo mais uma dessas suas viagens de pesquisa, desta vez a Vale de Cambra, Cavaco resolveu puxar as orelhas ao Primeiro-Ministro e à Ministra das Finanças por terem confessado que os contribuintes afinal iriam suportar prejuízos com o Novo Banco. Para Cavaco, trata-se de uma coisa completamente errada. Não faz sentido dizer-se que "que pela via da redução dos lucros da CGD, os contribuintes podem vir a suportar custos pela resolução do BES". Lucros, Senhor Presidente? Por acaso já olhou para os custos da intervenção no BES? Se a CGD, para poder absorver o BPN, teve que realizar um aumento de capital, que o Estado subscreveu integralmente, como é que, apenas com os seus lucros, pode pagar as dívidas ao Fundo de Resolução? É melhor parar com as viagens ao interior bucólico e pacífico e olhar um pouco mais para o que de facto se passa no centro do furacão que atingiu o sistema financeiro.