Ministros demitidos enquanto aprovavam orçamento.
Para mim, isto é demasiado baixo para constituir sequer falta de sentido de Estado. Representa pura e simplesmente deslealdade e grosseria para com pessoas que, bem ou mal, estavam a exercer com sacrifício um cargo público.
Adenda: Este se calhar aparece agora a dizer isto tão rapidamente porque tem medo de ser também demitido sem o saber.
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Homem ao mar!
Foi patético ver ontem as inúmeras reacções de júbilo ao não no referendo grego, com imensas pessoas a salientar que tinha sido uma vitória da democracia e da dignidade da Grécia. O meu primeiro pensamento foi logo: "Esperem pela pancada, que vai começar já às primeiras horas da manhã". Na verdade, o único político europeu que disse uma coisa acertada foi Martin Schulz, o líder do parlamento europeu que por acaso era o candidato dos socialistas a presidente da Comissão: "A Grécia vai precisar de ajuda humanitária". Efectivamente, o Syriza arrastou a Grécia para uma hecatombe cujas consequências vão começar a ver-se já de seguida.
Está à vista que a primeira vítima desta hecatombe foi o "clown" que o iluminado Tsipras resolveu escolher para seu Ministro das Finanças. Yanis Varoufakis, a estrela mediática, que ainda ontem se gabava de que, depois do não no referendo, poderia conseguir um novo acordo no eurogrupo em 24 horas, afinal nem mais um minuto teve para continuar no cargo. Pode agora regressar às suas aulas, que já conseguiu o seu lugar na história económica. Efectivamente, seguramente que daqui a muitos anos ainda se há de falar do desastre em que a sua teoria dos jogos fez cair o seu país. O que ele fez foi pôr a Grécia a jogar à roleta russa com uma metralhadora pesada.
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Obviamente demitam-nos.
O grande problema dos partidos políticos portugueses é a falta de controlo político sobre a sua liderança. Como existe muito pouco espírito crítico a nível interno, é possível permitir-se a um líder ir somando erros sobre erros, que levam o partido, e se estiver no governo também o País, ao desastre. E as poucas vozes críticas que surgem são normalmente silenciadas pelo coro da côrte de fiés, que habitualmente circula à volta do líder.
Foi assim que Santana Lopes fez embarcar o PSD num governo sem qualquer legitimidade política, que foi acumulando erros sobre erros, acabando o Governo ceifado por Sampaio, com o PSD a tentar evitar o evidente desastre eleitoral subsequente cantando em hino louvores ao "menino guerreiro". Sócrates, pouco tempo antes de atirar o país para a bancarrota, era reeleito pelo PS em Congresso com 91% dos votos, não tendo o seu partido naturalmente escapado ao desastre eleitoral subsequente.
O governo de Passos Coelho enfrenta neste momento a mesma crise de legitimidade do governo de Santana Lopes. Foi eleito com um programa completamente contrário ao que está agora a realizar e tem-se revelado de um enorme desprezo pelo sofrimento das pessoas, o que é chocante para a matriz humanista do PSD. Passos Coelho transformou-se num novo "menino guerreiro", querendo combater a todo o custo pela execução do programa de ajustamento, efectuando assim a maior engenharia social a que o país alguma vez foi sujeito. E os que circulam à sua volta minimizam os custos enormes disto para o país. Só a maior inépcia política pode levar Passos Coelhos a anunciar estas medidas a seco, sem qualquer palavra para os sacrificados, a que se segue este patético post no facebook, terminando com o ir assistir a um concerto logo a seguir. E que dizer desta inenarrável declaração de Aguiar-Branco, segundo o qual os funcionários públicos só estão a ser "um bocadinho prejudicados nas remunerações".
E, como já se sabia, estas medidas brutais não são suficientes, porque para quem tem esta insensibilidade social nada é suficiente.
Neste momento o PSD está confrontado com uma questão muito simples. Ou vai atrás deste segundo "menino guerreiro", deixa-o afundar o país, e afunda-se com ele, ou põe imediatamente termo a este Governo. Com a capacidade de sobrevivência que o PSD sempre teve, espero que tome a decisão que se impõe e que é a de parar imediatamente com isto. O governo de Santana Lopes pode ter cometidos muitos erros políticos, mas pelo menos não era cruel. Pelo contrário, este governo é de uma crueldade sem limites, com um profundo desprezo pela desgraça dos sacrificados e pelos limites constitucionais à sua actuação. E a crueldade deliberada, como diz a personagem de Blanche Dubois no Um Eléctrico chamado Desejo, é a única coisa que é insusceptível de ser perdoada. Os eleitores portugueses nunca perdoarão ao PSD o que este Governo lhes está a fazer.
Pessoalmente espero que Passos Coelho se tenha divertido imenso a assistir ao concerto de Paulo de Carvalho. E espero também que o cantor não se tenha esquecido de lhe dedicar esta música.