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Juror #2

Sábado, 21.12.24

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Há uns anos escrevi aqui que "Clint Eastwood é o último dos realizadores clássicos americanos, herdeiro de um tempo em que no cinema se contava uma história simples e cativante, com heróis que ficavam para sempre na nossa memória. Hoje o mainstream do cinema americano são os blockbusters, que entretêm, mas se esquecem ao fim de um minuto depois de sair da sala". Volta a demonstrá-lo aos 94 anos com outra obra-prima, este Juror #2 que infelizmente as inenarráveis opções dos distribuidores impediram que passasse nas salas em Portugal, atirando-o para o streaming. Felizmente que na Max ainda é possível assistir a este filme, embora naturalmente tivesse preferido vê-lo numa sala escura de um qualquer cinema de Lisboa.

Trata-se de um filme de tribunal, sobre as deliberações de um júri, a fazer lembrar o Doze Homens em Fúria de Sydney Lumet. É, no entanto, muito mais complexo do que este, levando a que Clint Eastwood ganhe em toda a linha o duelo que quis travar com Lumet. Quando alguns realizadores pretendiam imitar Hitchcock, dizia-se que não era impunemente que se desafiava um mestre, mas Clint Eastwood como realizador é um grande mestre e não receia medir-se com ninguém. E o filme é perfeito, quer no argumento, quer na direcção de actores, quer na realização. Espero que não seja o último filme de Eastwood, uma vez que ele já declarou querer imitar Manoel de Oliveira e continuar a filmar até aos cem anos. Mas, se o for, encerrou a sua carreira com chave de ouro.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 18:51

Três cartazes à beira da estrada.

Terça-feira, 23.01.18

É estranho que esteja a passar despercebido um dos melhores filmes que já vi nos últimos tempos: "Três cartazes à beira da estrada" (no original Three billboards ouside Ebbing, Missouri). O filme consta a história de uma mãe desesperada, perante a ausência de resposta da polícia local depois de uma brutal violação e assassínio da sua filha, e que resolve demonstrar o seu desespero, colocando uma simples mensagem publicitária numa estrada onde ninguém passa. A mensagem é simples, mas só o facto de ser colocada constitui um desafio à autoridade, que leva a que quase toda a gente em Ebbing, Missouri, passe a perseguir essa mãe, em lugar de perseguir os criminosos. Mas ela não desiste da sua obstinação, resistindo ao ódio da polícia, dos vizinhos e de todos os que lhe peçam que esqueça o assunto. Frances Mcdormand tem aqui a melhor interpretação da sua carreira, mostrando-nos uma mulher terna, mas ao mesmo com uma força extraordinária, que ninguém consegue submeter.

 

O filme poderia ser apenas mais um daqueles típicos filmes americanos, a apelar ao vigilantismo perante a ineficiência das autoridades. Mas é muito mais do que isso. É o retrato de uma América profunda onde ninguém é perfeito, nem sequer a heroína do filme, e onde se descobre que os membros de uma polícia violenta, racista e homofóbica são afinal apenas seres humanos, também com os seus dramas pessoais, e que são igualmente capazes de gestos sublimes. Mas também nos mostra como o drama de uma família, após um crime violento, é para o Estado burocrático apenas o dossier de um processo até aparecer um cartaz (neste caso três) que, só por fazer uma simples pergunta, vira toda uma comunidade do avesso. Neste ano em que em Portugal tivemos tantos mortos pelos incêndios, e também continuamos a ter tantos crimes de violência contra as mulheres, é bom que o nosso Estado saiba sempre dar às vítimas a adequada resposta.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 06:53

Dunkirk.

Domingo, 23.07.17

O novo filme de Christopher Nolan não é uma das suas melhores realizações, estando a milhas, por exemplo, de Batman, o Cavaleiro das Trevas. Mas não deixa de ser um objecto peculiar no quadro dos filmes de guerra. Normalmente os mesmos relatam vitórias épicas, como O Dia Mais Longo ou Inimigo às Portas, sendo raros os filmes que se debruçam sobre desastres militares, ainda que o desastre de Pearl Harbor tenha naturalmente inspirado Hollywood pelo impacto que teve na história americana. Mas Dunkirk relata uma situação completamente diferente, a fuga bem sucedida de um exército ao inimigo. É isso que o torna particularmente interessante.

 

A história de Dunquerque é conhecida. Depois do avanço fulminante da Blitzkrieg os exércitos inglês e francês ficaram completamente cercados nessa praia, onde poderiam ser facilmente destruídos pelas tropas alemãs. Estas lançavam inclusivamente panfletos a apelar à rendição dos exércitos aliados, apanhados numa verdadeira ratoeira.

Churchill compreende que, se o seu exército fosse destruído ou capturado em Dunquerque, nada poderia impedir os alemães de ocuparem a Grã-Bretanha e decide lançar a operação Dínamo, mandando uma série de barcos, não só militares mas também civis, para recolher 45.000 homens, uma pequena percentagem dos 400.000 soldados que estavam em Dunquerque. Uma vez que a Lufwaffe não hesitou em bombardear os barcos e as tropas em retirada, foi necessário o apoio da RAF para proteger a evacuação das tropas. Mas essa evacuação foi um enorme sucesso, tendo sido retirados 300.000 soldados, o que foi talvez decisivo para Hitler não ter invadido a Grã-Bretanha.

É muito curioso examinar no filme a forma como os donos de barcos civis foram sem uma hesitação para Dunquerque retirar as tropas e a reacção do povo inglês ao regresso do seu exército. Os soldados sentiram-se envergonhados ao regressar naquelas condições, mas viram com espanto que a população estava eufórica com o seu salvamento. Mas não porque tivesse ignorado a dimensão do desastre. Churchill reconheceu que o tinha sido e no seu discurso no Parlamento Britânico preparou a Nação para derrotas ainda maiores: "Defenderemos a nossa Ilha, seja qual for o custo, combateremos nas praias, combateremos nos locais de desembarque, combateremos nos campos e nas ruas, combateremos nas colinas, nunca nos renderemos, e se, o que eu não acredito nem por um momento, esta ilha, ou uma grande parte dela vier a ser subjugada e passar fome, então o nosso Império de além-mar, armado e guardado pela Frota Britânica, prosseguiria com a luta, até que, na boa hora de Deus, o Novo Mundo, com toda a sua força e poder, daria um passo em frente para o resgate e libertação do Velho".

 

Este discurso é brilhante, não só pelo estímulo à perseverança e ao combate, mas também pelo seu realismo. Churchill nada esconde dos seus cidadãos e avisa-os de que pode vir a passar-se uma invasão e até a ocupação total da Grã-Bretanha pelos nazis. No Portugal de hoje, em que as vítimas das tragédias são escondidas sob a capa de critérios burocráticos, e os cidadãos se permitem viver numa realidade alternativa, as pessoas deveriam prestar especial atenção a Dunkirk.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 17:08

Viva a liberdade!

Quarta-feira, 03.12.14

 

Fui recentemente ver o filme Viva a Liberdade, que demonstra perfeitamente o estado que a esquerda actualmente atravessa na Europa. O filme relata a história do líder do partido de esquerda em Itália, que se vê absolutamente incapaz de fazer oposição ao governo de direita, começando a ser altamente contestado no seu partido. Em consequência, decide fugir para Paris, deixando o partido sem líder.

 

Os seus assessores resolvem, porém, ocultar a sua fuga, indo buscar o seu irmão gémeo para fingir que ele ainda estava no cargo. Só que o irmão gémeo é completamente louco, tendo acabado de sair do manicómio. Pois precisamente por ser louco, ele põe-se a fazer discursos de esquerda como alternativa para a crise, chegando ao ponto de citar Brecht perante uma multidão. O partido fica deslumbrado, o Presidente da República fascinado, as sondagens sobem em catadupa e o louco corre o risco de ser eleito chefe do Governo.

 

Moral a retirar deste filme: só um louco nesta época de crise é que se lembraria de fazer discursos de esquerda. E de facto quando pensamos na agenda para a década de António Costa, no discurso gongórico de Sampaio da Nóvoa, ou na liderança hexacéfala do Bloco de Esquerda, achamos que estamos no domínio da irracionalidade política. Mas como dizia Fernando Pessoa, sem a loucura o que é o homem? Mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?

 

Os tempos estão propícios para um canto de sereia.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 09:27





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