A habitual doutrina inglesa.
"We have no eternal allies, and we have no perpetual enemies. Our interests are eternal and perpetual, and those interests it is our duty to follow", Lord Palmerston, Primeiro-Ministro Inglês, discurso no Parlamento a 1 de Março de 1848. Passados 173 anos, a doutrina Palmerston permanece actual.
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O ignominioso tratado que reconheceu a independência de Portugal.
Depois das inacreditáveis declarações de António Costa ao ABC, a apoiar a vergonhosa acção de Espanha contra os independentistas catalães, vem o mesmo ABC poucos dias depois criticar a independência de Portugal, lamentando os 350 anos do "ignominioso tratado de paz que pôs fim à poderosa união de Espanha e Portugal". Mostra bem como António Costa deveria ter estado calado nesta matéria. Ao contrário do que muita gente julga, defender a autodeterminação dos povos de Espanha deveria ser uma política essencial ao Estado português, sob pena de Espanha também poder questionar o direito de Portugal à sua própria independência. É manifesto que para isso não lhe falta vontade. Afinal, como se escreve neste artigo, Portugal não se revoltou ao mesmo tempo que a Catalunha, só não tendo sido subjugado como esta, porque alguém em Espanha se lembrou de assinar um "ignominioso tratado de paz"? Bem diz o povo que de Espanha nem bom vento nem bom casamento. E a falta de solidariedade com que agora estamos a tratar os catalães pode um dia virar-se contra nós. Se alguém tem dúvidas que olhe para a imagem, também fornecida pelo ABC, com uma alegoria da conquista de Portugal, com o leão espanhol a subjugar o dragão português. É elucidativo da forma como os castelhanos acham que devem conviver com os outros povos da península ibérica.
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Portugal combate o Estado islâmico.
Há muito que acho que o combate ao Estado islâmico é para levar a sério. Tão a sério que nem preciso de acrescentar eufemisticamente o "autoproclamado", como se todos os Estados não fossem auproclamados até outro país os reconhecer. Trata-se de um Estado terrorista, que demonstra uma crueldade monstruosa contra os desgraçados que têm o azar de cair nas suas garras. Mas o mais grave é que tem um forte potencial para funcionar como elemento agregador do terrorismo islâmico a nível mundial, como se viu na Nigéria, onde o Boko Haram já lhes prestou vassalagem. O Ocidente deveria estar por isso a preparar uma coligação de ataque a esse novo Estado terrorista antes que ele se torne ainda mais forte do que já é.
Dito isto, parece-me absolutamente ridícula a iniciativa do Ministro da Defesa, que decidiu com pompa e circunstância mandar 30 militares para combater o referido Estado islâmico. Aliás, "combater" é outro eufemismo pois o que os militares vão fazer é apenas "dar formação e treino" aos militares iraquianos, os quais irão, esses sim, combater sozinhos os terroristas islâmicos. A eficácia da medida é aliás salientada pelo Ministro da Defesa que nos esclarece que "quando fazemos formação e treino estamos a reforçar a capacidade das forças". Só que o avião que deveria levar esses militares ao Iraque nem sequer chegou a partir por problemas técnicos. Espero bem que esses problemas técnicos não se repitam se por acaso o novo califado instituído pelo referido Estado islâmico decidisse invadir Portugal. Afinal não seria nada de diferente do que o califado islâmico original fez no séc. VII.
Em qualquer caso, esta iniciativa de combater o Estado islâmico com trinta militares, não em formação, mas a dar formação, só me fez lembrar Eça de Queiroz, que há mais de um século já muito bem definia o estilo português. Como bem dizia a personagem principal de O Mandarim, aquele Teodoro, bacharel e amanuense do Ministério do Reino, que queria substituir o mandarim Ti Chin-Fu, apesar de apenas saber dizer "chá" em chinês: "E todavia, general, no meu país, quando, a propósito de Macau, se fala do Império Celeste, os patriotas passam os dedos pela grenha, e dizem negligentemente: «Mandamos lá cinquenta homens, e varremos a China»".
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Regresso ao futuro.
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Da dignidade do Estado.
Há uma coisa que há muito se perdeu em Portugal que é o sentido da dignidade do Estado. Mesmo antes do memorando, quando Sócrates foi chamado a despacho a Berlim por Angela Merkel devido à subida dos juros da dívida portuguesa, fui de opinião que um primeiro-ministro de Portugal não se deveria sujeitar a esse tipo de tratamento. E muito menos me pareceu aceitável que quando Sócrates foi derrubado — a meu ver já tarde porque Passos Coelho insistia obstinadamente em mantê-lo no cargo — a chanceler alemã tivesse o descaramento de ir criticar a decisão do parlamento português no parlamento alemão. Estou por isso muito à vontade para achar inaceitável que, entre duas reuniões do Eurogrupo, a Ministra das Finanças vá prestar vassalagem a Berlim, aceitando que o país seja exibido carinhosamente por Schäuble como exemplo a seguir. O governo pode naturalmente tomar as decisões que entender nas reuniões do Eurogrupo, contra ou a favor da Grécia. Mas já não me parece que o Ministro das Finanças de um Estado soberano deva contribuir para uma clara operação de spin do Ministro das Finanças alemão, na altura em que ele é contestado no seu próprio governo, precisamente pela sua instransigência em relação à Grécia.
Portugal segue com absoluto fanatismo uma estratégia que está completamente errada e que só pode trazer o desastre. O Syriza é um partido radical de esquerda, que em caso algum deveria estar à frente de um governo europeu. Se o está, é precisamente devido às constantes humilhações a que foram sujeitos os gregos pela troika, humilhações igualmente praticadas em Portugal, como agora Juncker veio reconhecer, para desgosto dos fanáticos que acham que ainda nos submetemos o suficiente. E nesse aspecto, se esta deriva não for invertida, a situação só pode ficar muito pior. As pessoas que hoje festejam a "hollandização" de Tsipras, devem pensar que a seguir a Hollande virá inevitavelmente Marine Le Pen, assim como um falhanço do Syriza na Grécia atirará o país para as mãos do Aurora Dourada. Numa altura em que a Rússia adopta uma nova atitude expansionista, que ameaça redesenhar o mapa da Europa, continuo a achar que os dirigentes europeus estão a brincar com o fogo.
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Portugal não é a Grécia.
Desta vez não tenho quaisquer dúvidas sobre o rigor absoluto desta frase. Enquanto Portugal se assumiu sempre como um protectorado, a Grécia afirma preto no branco que não é um protectorado e que têm de saber com quem se estão a meter.
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Contas.

Já Vasco Pulido Valente tinha aqui referido que "qualquer indivíduo com mais de seis neurónios pode ver que a aventura da selecção portuguesa duplica em miniatura a aventura do défice e da dívida. Primeiro, o silêncio, até cairmos sem remédio no fundo do poço. A seguir, o espanto fingido ou a corajosa afirmação de irresponsabilidade. E, no fim, acusações sobre acusações, para disfarçar o facto de que toda a gente colaborara no desastre. Nós, como Ronaldo, somos manifestamente os “melhores do mundo”. Só que, de quando em quando, nos cai a Alemanha na cabeça ou uma dívida inexplicável, que levará a pagar 30 e tal anos". Eu acrescento algo mais. Depois do desastre, começamos a fazer contas, julgando poder obter o impossível, seja ele a qualificação para os oitavos-de-final ou o pagamento da dívida. Da mesma forma que os partidos do arco da governação, com Cavaco Silva à cabeça, acham que conseguimos reduzir a dívida para 60% do PIB em 2035, bastando para isso, imagine-se obter um saldo primário do PIB de 3% em todos esses anos, na selecção anda-se agora a fazer contas para o apuramento para a fase seguinte.
Essas contas em ambos os casos não passam, porém, de um sonho de uma noite de Verão. No caso da selecção, era preciso que uma equipa de aleijados, cujos jogadores ficam lesionados aos primeiros minutos em campo, fosse golear por 5-0 uma das equipas mais fortes fisicamente deste campeonato. Mas depois ainda era necessário que a Alemanha ganhasse aos EUA, sabendo-se que a tendência natural dessas duas equipas, que ainda por cima têm dois treinadores alemães, vai ser jogar para o empate, que as apura a ambas, e as poupa para a fase seguinte. Dizer que neste caso o apuramento é possível é tão absurdo como dizer que Portugal vai pagar a dívida, sabendo-se que para isso precisa de um saldo primário que nunca foi obtido e que é apenas 10 vezes o esperado para este ano de 2014. Como dizem os brasileiros, caiam na real.
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Próximo swap.
Mercados não acreditam que Portugal evite um segundo resgate, diz o The Economist.
Nada que um swap de boa qualidade não resolva.
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Um país de pessimistas.
Neste artigo Camilo Lourenço insurge-se contra a falta de optimismo dos portugueses, que já lhe teria sido criticada por jornalistas estrangeiros.
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O simbolismo de uma tragédia.
Esta notícia do suicício de um pensionista grego de 77 anos em plena Praça Syntagma reveste-se de um enorme simbolismo. Trata-se de um cidadão que tinha um contrato com o Estado, pelo qual ele asseguraria a sua reforma em virtude dos descontos que fez durante uma vida inteira. Para satisfazer os credores estrangeiros, o Estado quebrou esse contrato, cortando-lhe essa pensão, deixando o cidadão na miséria. Provavelmente o cidadão achou que o seu Parlamento o defenderia e que a Grécia tinha uma constituição que o protegeria. Quando viu que o país tinha passado a ser governado pelos credores estrangeiros, pôs termo à sua vida precisamente na praça da Constituição onde se encontra o parlamento grego. Ora, um país em que os cidadãos se matam em frente ao seu Parlamento é um país que já morreu.
Por cá, infelizmente as coisas não vão muito melhor. O tribunal constitucional também aceitou cortar salários e pensões, desde que o corte fosse temporário. A argumentação é ridícula, uma vez que enquanto dura o corte de salários as pessoas podem entrar em insolvência e ficar na miséria. No entanto, já veio a Comissão Europeia pedir que o corte se torne definitivo e o Primeiro-Ministro imediatamente referiu que o dinheiro confiscado só será devolvido a partir de 2015 e às pinguinhas. Um Estado que prefere proteger os credores estrangeiros em lugar dos seus funcionários e pensionistas é um Estado que não se respeita a si próprio. Para defender o Estado português, exige-se aos governantes algo mais do que pôr a bandeira de Portugal na lapela do casaco: exige-se que protejam os cidadãos portugueses.