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O hino de Sampaio da Nóvoa.

Sexta-feira, 15.01.16

 

Hoje no Público Francisco Assis pôs o dedo na ferida. É absolutamente inconcebível que António Costa tenha apoiado um candidato completamente vazio como Sampaio da Nóvoa, e deixado à sua sorte uma candidata que já foi presidente do PS, e tem muito maior currículo político, como Maria de Belém. Porque o que a campanha está a demonstrar é que a máquina do PS está colada em torno de Sampaio da Nóvoa, enquanto que Maria de Belém foi deixada sozinha. A afirmação de que o PS não tem posição na primeira volta parece ser assim claramente desmentida pelos factos: o PS de Costa apoia vigorosamente Sampaio da Nóvoa e tudo está a fazer para que ele fique pelo menos à frente de Maria de Belém.

 

Isto não vai servir absolutamente para nada, uma vez que estou absolutamente convencido de que Marcelo Rebelo de Sousa vai ganhar as eleições à primeira volta por uma margem esmagadora. E, mesmo que por milagre isso não acontecesse, também ganharia com a maior facilidade uma hipotética segunda volta. É assim evidente, para bem de todos nós, que o ex-reitor irá fazer os seus discursos messiânicos para outra freguesia, que não a de Belém.

 

O problema, no entanto, reside na forma como o PS vai ficar depois deste seu apoio a Sampaio da Nóvoa. É que, se o PS conseguiu chegar ao governo da forma como chegou, e já arranjou os sarilhos que se conhecem, adivinho como é que ficará depois de uma campanha com o hino que aparece acima. Não é apenas o ridículo da letra e da música, com o teor evangélico que já se conhecia. Chocou-me especialmente o facto de os figurantes colocarem uma caraça com a cara do candidato, assumindo-se assim claramente como seguidores do Messias, com quem se identificam: "Sampaio da Nóvoa somos nós". Tudo o resto é vazio: "palavras necessárias que saltam nas nossas mãos", "palavras solidárias no bater do coração", "palavras de aventura com gosto a sal". Parole parole parole. É isto um discurso político de um candidato presidencial? Basta, por exemplo, olhar para a campanha de Marisa Matias para se ver como se pode fazer uma campanha de esquerda com muito mais credibilidade e consistência.

 

Esta campanha presidencial está cheia de candidatos folclóricos. Quem faça uma análise serena do discurso político de Sampaio da Nóvoa, chegará à conclusão de que ele é precisamente o mais folclórico de todos. Apesar disso, está ter um apoio de peso do PS que, diga-se de passagem, faria mais sentido que tivesse sido dirigido, por exemplo, a Tino de Rans, cujas ligações ao PS são muito mais antigas. Confesso que há muito tempo que para mim é um mistério, o PS ter alinhado neste canto de sereia.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 11:04

O segundo debate Marcelo-Sampaio.

Sexta-feira, 08.01.16

Há 25 anos Marcelo Rebelo de Sousa envolveu-se de alma e coração numa candidatura à câmara de Lisboa, fazendo tudo para chamar a atenção de um eleitorado que não o conhecia, como conduzir um táxi pelas ruas da capital e mergulhar no Tejo. A sua campanha local apareceu com tanta força que ninguém do PS se dispunha a enfrentar Marcelo nessa corrida. Vítor Constâncio demitiu-se, perante as sucessivas recusas que foi recebendo, e o seu sucessor, Jorge Sampaio, foi obrigado, enquanto líder da oposição, a apresentar uma candidatura pessoal contra Marcelo. Já nessa altura coube a António Costa fazer as pontes para um acordo de esquerda contra Marcelo. Mas mesmo esse acordo não parecia ser suficiente, uma vez que Sampaio suscitava pouco entusiasmo perante a energia e o brilhantismo de Marcelo.

 

Isto foi assim até que se realizou um debate entre Sampaio e Marcelo. Nesse debate Marcelo decidiu adoptar uma pose mais serena por contraponto ao que até então tinha sido a sua intervenção. Esse erro foi-lhe fatal. Jorge Sampaio, com a experiência de advogado de barra, explorou as fragilidades do discurso de Marcelo e, ao contrário do que se esperava, Marcelo não foi capaz de lhe dar a réplica devida. Marcelo saiu do debate a dizer que se calhar tinha desiludido os seus apoiantes e de facto nesse dia perdeu as eleições.

 

Nestas eleições, passou-se o contrário. Marcelo optou por uma campanha completamente vazia, o que envolvia sérios riscos como aqui salientei. Mas, ao contrário do que se passou há 25 anos, não descurou o debate com Sampaio da Nóvoa. Pelo contrário, entrou completamente a matar, chamando a atenção para a total falta de currículo político do candidato, a sua ignorância absoluta da função presidencial, e o seu comprometimento ideológico com uma minoria dos eleitores. Nóvoa, perante o massacre que sofreu, só lhe faltou levantar os braços e invocar a convenção de Genebra. Lá foi dando uns apartes sobre o serviço nacional de saúde, que Marcelo facilmente desmontou, e fez referência aos antigos presidentes que o apoiam, o que Marcelo ridicularizou. No fim Marcelo deu-lhe uma estocada final decisiva quando chamou a atenção para a carrinha dos seis assessores que ele tinha trazido, criando no público a sensação de que sem assessores Nóvoa não existe.

 

Marcelo teve passados 25 anos a sua segunda oportunidade num debate político decisivo. Desta vez não a desperdiçou. No próximo dia 24 será entronizado presidente. E, diga-se de passagem, no actual quadro político é a melhor solução para o país.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:45

A folha viçosa.

Quinta-feira, 17.12.15

Vasco Pulido Valente tinha justamente escrito há uma semana o seguinte sobre a candidatura de Sampaio de Nóvoa: "O dr. Nóvoa apresenta como a sua maior credencial o facto de Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio lhe darem a sua bênção e o seu apoio. Mas nenhum dos três se explicou ainda a esse respeito e o país continua sem saber o que eles, com a sua suposta clarividência, viram naquela tristíssima personagem". 

 

Agora o Dr. Jorge Sampaio aceitou o repto e já nos esclareceu as razões desse apoio. Segundo ele, "o esforço que Nóvoa tem desenvolvido mostra abertura de espírito, uma correcta interpretação dos poderes presidenciais e os grandes ideais por que se bate são coisas fundamentais num Presidente da República". Se o critério é este, não entendo o que distingue Nóvoa de 99,99% da população portuguesa em idade de votar, que seguramente também tem "abertura de espírito", entende quais são os poderes presidenciais, e tem ideais. Quem não os tem?

 

Pareceria assim que Jorge Sampaio entende que apoia Nóvoa como podia apoiar um desconhecido qualquer para presidente. Isso só nos faria concluir pela absoluta irrelevância do cargo que em tempos ocupou. Mas não. Ele acha que "as eleições presidenciais são muito importantes, Abril já foi há muito tempo e as pessoas esquecem-se”. Parece assim que o objectivo da candidatura é permitir aos mais esquecidos que se recordem dos bons velhos tempos de Abril. Tal só demonstra que eu tive razão quando escrevi aqui que a razão destes apoios é o candidato lhes recordar as suas maiores paixões da juventude, a luta intransigente pelos gloriosos amanhãs que cantam, o que o torna irresistível para políticos com mais de 75 anos.

 

Vítor Bento disse uma vez com razão ser absolutamente intrigante que "uma parte importante da classe política considere, ao fim de 40 anos de regime, que a Presidência da República - que em caso de crise grave é o último fusível do regime - é o local ideal para se perder a virgindade política". Mas Jorge Sampaio explica que "um Presidente da República não é uma folha seca, é alguém que tem de ter princípios e valores que defende a Constituição e está recheado de vivências". Jorge Sampaio explica assim aos portugueses que apoia Nóvoa porque o considera uma folha viçosa. Isto só me faz lembrar quando o Dr. Jorge Sampaio anunciou que havia mais vida para além do orçamento. Se me permitirem o trocadilho, eu diria que nesta candidatura há muito viço e pouco siso.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 18:07

Atirados borda fora.

Sexta-feira, 09.10.15

António Costa tinha uma estratégia que sempre achei absolutamente suicidária para o PS, mas que tinha alguma lógica política. A lógica passava pela repetição da velha FRS, uma ideia de Soares de abrir o PS à esquerda como contraponto à AD, sem, no entanto, fazer acordos com o PCP. António Costa imaginou assim fazer o PS apresentar-se a eleições com um discurso mais à esquerda, que seria apoiado por outros partidos de esquerda, mais colaborantes do que o Bloco e o PCP. Essa fórmula visaria dar ao PS uma imagem frentista que permitisse roubar algum voto aos habituais irredutíveis partidos da esquerda parlamentar, tradicionalmente incapazes de qualquer concessão ideológica a troco de lugares de governo.

 

É assim que surge o Livre de Rui Tavares, a partir de uma cisão do Bloco de Esquerda, que propugnava o apoio ao PS. O Livre chegou mesmo a ser convidado para os congressos do PS e, se tivesse eleito deputados, faria um grupo parlamentar totalmente alinhado com o PS, imitando a relação do PEV com o PCP.

 

Ao mesmo tempo, qual cereja em cima do bolo, o PS apoiaria um candidato presidencial que encabeçasse essa nova frente de esquerda. Sampaio da Nóvoa, com o seu discurso gongórico e o seu inexistente passado político, era a pessoa ideal para o efeito, podendo atrair as esquerdas desavindas e tapar o caminho a Marcelo. Foi assim que Sampaio da Nóvoa foi estimulado a avançar por António Costa, com o apoio de três anteriores presidentes da república e era convidado habitual em todas as sessões públicas organizadas pelo PS.

 

Esta estratégia era, no entanto, absolutamente assustadora para o eleitorado do centro, que nesse cenário iria obviamente apoiar a coligação, e nas presidenciais irá todo direitinho para Marcelo. E a verdade é que também foi ferozmente combatida pelos partidos à esquerda do PS. Catarina Martins encarregou-se de reduzir o LIvre a zero, e agora Jerónimo de Sousa, ao mesmo tempo que promete apoio a um governo PS, já apresentou um candidato presidencial próprio "para a primeira volta", o que reduz a nada as hipóteses de Sampaio da Nóvoa ser eleito. E o próprio PS mostrou que não se deixava arrastar desta maneira para o desastre, tendo surgido a candidatura de Maria de Belém, que obviamente tem muito mais hipóteses do que a de Nóvoa.

 

Perante isto António Costa esqueceu-se do apoio que deu ao Livre e a Sampaio da Nóvoa, avisando agora que vai dar liberdade de voto "na primeira volta", ao mesmo tempo que os próprios iniciais apoiantes de Nóvoa lhe dão indicações para desistir. Este, no entanto, parece que ainda não percebeu o que lhe aconteceu e deu ontem uma conferência de imprensa a avisar que não desiste, salientando que as eleições legislativas reforçaram a "urgência da candidatura" e apelando ao "compromisso histórico" com os partidos que ainda não tiveram oportunidade de formar governo, parecendo assim querer liderar uma coligação PS+PCP+BE. Só se estivesse tudo doido no PS é que os seus militantes alinhariam num disparate semelhante.

 

Neste momento António Costa só quer salvar a pele como líder do PS e já atirou pela borda fora Rui Tavares e Sampaio da Nóvoa. O Livre provavelmente irá acabar, estando hoje reduzido a fazer peditórios para pagar as despesas da campanha. Já Sampaio da Nóvoa está muito enganado se julga que vai a algum lado sem o apoio do PS. Alguém que lhe explique como é que vai acabar o filme em que deixou que o colocassem como actor principal. É que a história da sua candidatura arrisca-se a ser a triste demonstração de que a política é um campo minado, e que não vale a pena alguém que nada sabe de desminagem, nem sequer onde as minas estão, entrar nesse terreno. 

 

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publicado por Luís Menezes Leitão às 11:49

A implosão do PS.

Terça-feira, 18.08.15

Depois do Bloco de Esquerda, que literalmente implodiu em pequenos partidos, o que estamos a assistir agora é à implosão do PS. Efectivamente, o derrube de Seguro por António Costa causou imensas feridas, que se acentuaram com o disparatado posicionamento do PS à extrema esquerda, e ainda mais com o patético apoio a Sampaio da Nóvoa, que obviamente iria fracturar o partido em dois. Se alguém tem dúvidas sobre o posicionamento ideológico de António Costa, que veja a sua última declaração: é contra os contratos de trabalho a prazo. Só que o contrato de trabalho a prazo foi uma invenção de Mário Soares em 1976 para tornear a rigidez da legislação laboral. O que António Costa pretende é assim voltar a 1975, o que também constitui um tempo áureo para o seu candidato presidencial. Na verdade, o que se vê em Nóvoa, para além de uma absoluta ausência de currículo político, é uma ideologia muito marcada, o que naturalmente constitui um grave óbice para uma candidatura a Belém. E não são os seus passeios de bicicleta no Algarve, por baixo de um sol arrasador, que o transformarão num bom candidato.

 

Maria de Belém pode não ser uma candidata muito forte, mas não assusta o eleitorado do centro, ao contrário do que Nóvoa e pelos vistos o próprio António Costa estão a querer fazer. Não admira por isso a multiplicação de apoios que está a ter no PS, a que se associa o ódio declarado dos apoiantes de Nóvoa. Durante a campanha para as legislativas, o que o PS discute acaloradamente são assim os seus candidatos presidenciais, o que demonstra um partido em implosão. E o único responsável por isso é António Costa. Mas em bom rigor, ele está a colher a tempestade dos ventos que semeou. Tivesse Seguro continuado no cargo, e o PS estaria calmamente a caminhar para a vitória. Com António Costa, passou a ficar tudo em causa.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 07:59

Costa tira o tapete a Nóvoa.

Sexta-feira, 03.07.15

Desde o início, logo que Costa empurrou Nóvoa para Belém, que tenho vindo a afirmar que com essa iniciativa Costa se suicidava politicamente, arrastando todo o PS com ele. É evidente que o apoio a um candidato radical de esquerda vai assustar o eleitorado de centro, que é onde se ganham as eleições. Que seria do PS se alguma vez tisse apoiado Otelo em 1976 ou Pintasilgo em 1986? Nessa altura, por muita simpatia que esses candidatos suscitassem na sua ala esquerda, os socialistas souberam ter juízo e não embarcar em cantos de sereia.

 

António Costa manifestamente não tem a mesma ponderação e mergulhou de cabeça no desastrado apoio a Nóvoa. Mas pelos vistos ainda há gente no PS com algum senso e já desafiaram Maria de Belém a avançar. Faz todo o sentido, pois dificilmente o PS poderia ter um nome mais adequado para o palácio de Belám. Já imagino os slogans: "Para Belém, Maria de Belém". 

 

E perante isto o que faz António Costa? Naturalmente tira o tapete a Nóvoa, dizendo que afinal o PS pode não apoiar nenhum candidato. Temos aqui claramente um padrão de comportamento político. Depois de ter tirado o tapete a Seguro, Costa tira o tapete a Nóvoa. Resta saber quantos mais tapetes vai tirar nesta campanha alegre.

 

Em consequência, Nóvoa vai ser lançado às feras, logo agora que ele tinha alcançado uma vitória retumbante no referendo do Livre, tendo alcançado nada menos que 87% de 867 votos! Como se pode compreender então que António Costa se queira ver Livre dele?

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publicado por Luís Menezes Leitão às 14:24

A grande ilusão.

Domingo, 21.06.15

 

António Costa acusa Passos Coelho de criar a ilusão de que o país está melhor. Trata-se de uma ilusão tão grande que até António Costa foi iludido. Afinal não foi ele que há quatro meses foi dizer à comunidade chinesa que Portugal está melhor hoje do que há quatro anos? Mas António Costa não é ilusionista e por isso não faz promessas que não pode cumprir, como a abolição ou redução das portagens na via do Infante. António Costa limitou-se a descobrir a solução para a crise. A solução não está nem "na saída do euro, nem na prossecução da austeridade". Está na "coesão e convergência das economias europeias". Acho que o Syriza fez mais ou menos a mesma promessa, de que iria abolir a austeridade sem sair do euro, apostando na coesão e convergência dos restantes países europeus. Os quais, diga-se de passagem, não lhe têm faltado com o seu apoio nesta fase crítica.

 

Mas António Costa tem todas as garantias para conseguir ter sucesso nas suas promessas eleitorais. Para isso conta com o seu candidato presidencial que já avisou que, se for eleito (longe vá o agoiro), vai exigir que as promessas eleitorais sejam cumpridas. Isto porque, como bem salienta o candidato, "um Presidente da República pode exigir que as promessas sejam cumpridas. Pode exigir e vigiar e se entender que as promessas não estão a ser cumpridas, deve usar todos os meios ao seu dispor para encetar uma renovação política". Ficamos assim a saber que Sampaio de Nóvoa admite demitir o governo e dissolver a assembleia, se chegar à conclusão que as promessas feitas na campanha não estão a ser cumpridas. Se calhar alguém já lhe chamou a atenção de que a assembleia pode nesse caso renovar a confiança no governo, ou o país reeleger novamente o mesmo partido, caso em que ao presidente só resta renunciar ao cargo. Mas isso não preocupa nada o candidato. "Serei um Presidente da República despojado porque não tenho nenhuma carreira política ou outra qualquer pela frente. Não hesitarei nunca em tomar as decisões que eu ache que devem ser tomadas”. Teríamos assim um Presidente cheio de iniciativa. Como o próprio assume: "Todos os dias acordarei a pensar e a mobilizar os portugueses para as grandes causas”.

 

Estes dois precisam rapidamente de um profundo mergulho na realidade.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 11:06

Uma campanha alegre.

Terça-feira, 02.06.15

Não consigo resistir ao bom humor que provoca a pré-campanha de Sampaio da Nóvoa. Agora teve uma intervenção no Comedy Lisboa, que de facto pelas notícias mais parecia uma stand up comedy do que uma sessão política.

 

O candidato apresentou três ideias, qual delas a mais absurda. A primeira ideia é aproveitar "os movimentos de renovação artística" para inspirar uma mudança profunda. Segundo o candidato, “andamos o tempo todo a ouvir os mesmos, a falar com os mesmos". Por isso, o debate público faz-se com as “ideias de sempre, um bocadinho gastas” o que deixa os portugueses “prisioneiros de um pensamento que vem de trás”. Por isso, Nóvoa defende que “é preciso chamar pessoas improváveis e grupos improváveis”. Já sabemos assim que se for eleito Presidente, Nóvoa formará um governo de improváveis. Resta saber como é que esse governo passa na Assembleia...

 

A segunda ideia resume-se numa frase: “Portugal tem tudo para ser um país diferente”. Isto de ideia não tem nada, mas é capaz de ser bem verdade. Se Nóvoa fosse eleito, Portugal seria de facto um país muito diferente, gerido pelos tais improváveis. Arrisca-se a não fica pedra sobre pedra.

 

E para demonstrar que Nóvoa nada aprendeu com a quase-bancarrota nacional, defende "investimentos estratégicos continuados, sustentados”, criticou os “últimos quatro anos” em tudo parece ter parado. “Se eu num determinado momento da minha vida venho para a política é por não aceitar esse corte na escola, na educação, nas artes, na segurança social”.

 

Aqui até os apoiantes de Nóvoa vacilaram. Uma apoiante achou que ele seria melhor candidato a primeiro-ministro. Outro apoiante, Elísio Summavielle, que fora responsável pela cultura nos tempos de Sócrates, e portanto um dos autores dos cortes que Nóvoa tanto critica, achou que ele tinha que se deixar de conversas e passar à campanha, designadamente aos outdoors. Sugeriu até que ele fosse como Soares à Marinha Grande sujeitar-se a "duas bofetadas". Imaginar Nóvoa a ser atacado na Marinha Grande, ele que é de uma esquerda ainda mais radical que os operários que lá andam, é de facto o non sense político absoluto.

 

Mas o candidato rejeita manobras eleiçoeiras deste género e até diz: "Eu não quero a minha cara nos outdoors". Mais vale tirá-la também dos boletins de voto.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 08:12

Será o Benedito?

Terça-feira, 26.05.15

Da apresentação da declaração de princípios de Sampaio de Nóvoa retive que o mesmo se compromete a dar continuidade ao legado de Eanes, Soares e Sampaio, deixando naturalmente Cavaco de fora, talvez pela singela razão de que este não o apoiou. Na verdade, trata-se de mandatos presidenciais absolutamente contraditórios, que vão desde o total intervencionismo (Eanes) à omissão absoluta (Sampaio), pelo que obviamente não resulta dali qualquer legado comum. Nóvoa bem podia por isso ter acrescentado o legado dos Reis de Portugal, desde D. Afonso Henriques a D. Manuel II, que o resultado prático seria o mesmo. É por isso que Nóvoa já acrescentou mais uma frase memorável ao rol com que nos costuma presentear ao dizer que "o Presidente da República não deve agir nem contra nem a favor dos governos ou das oposições".

 

Uma vez que Nóvoa tanto gosta de citações talvez pudesse recordar a inspiração dessa frase numa célebre boutade do político brasileiro Benedito Valadares, que dizia: "Eu não sou contra nem a favor, muito pelo contrário!". Na verdade, tudo em Nóvoa lembra a história de Benedito Valadares. Da mesma forma que António Costa não tinha candidato presidencial, Getúlio Vargas não tinha candidato a governador de Minas Gerais, tendo tomado a decisão de escolher Benedito Valadares por um motivo singelo: "Todos tinham candidato e queriam apenas que eu adoptasse as preferências alheias. Só eu não podia ter candidato, e pensei que deveria tê-lo. Escolhi esse rapaz tranquilo e modesto, que me procurou antes, sem nunca pensar que seu nome pudesse ser apontado como interventor". A decisão causou de tal forma surpresa na população que surgiu em todo o Brasil uma célebre frase: "Será o Benedito?". A reacção geral em Portugal à escolha de Sampaio da Nóvoa por António Costa será seguramente de teor semelhante. Quanto ao candidato promete-nos "ser um Presidente presente, próximo das pessoas, capaz de ouvir, de cuidar, de proteger". Acredito que também acabe a dizer como Benedito Valadares: "Estou rouco de tanto ouvir!".

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publicado por Luís Menezes Leitão às 06:39

Os apoios de Sampaio de Nóvoa.

Sexta-feira, 22.05.15

Há um sintoma preocupante que atinge os políticos portugueses de esquerda, principalmente a partir dos 75 anos de idade: uma tendência irresistível para o apoio a Sampaio da Nóvoa. Quem pode resistir afinal a um candidato que lhes recorda as suas maiores paixões da juventude, a luta intransigente pelos gloriosos amanhãs que cantam? Quem pode resistir a um candidato que participou na LUAR, nas comissões de moradores e de trabalhadores, e que fundou o glorioso movimento do TMUPA, Trabalhadores Moradores Unidos para as Autarquias, que arrasou tudo e todos nas eleições para a Assembleia de Freguesia da Parede em 1976? Quem pode resistir a um candidato que considera abominável o "arco da governação", porque logo à partida exclui 20% dos portugueses, que deveriam naturalmente ser a vanguarda da classe operária?  É por isso que, como Presidente, se propõe fazer consensos em torno de projectos, que é de todas as coisas a que faz melhor. Mas desde que não seja ao centro, que essa amálgama do centro é uma coisa muito irritante em Portugal. Nóvoa nem sequer está muito preocupado com a estabilidade governativa, admitindo dar posse a um governo minoritário (se calhar dos tais 20%…), já que para ele estabilidade não é ficar tudo na mesma. Por isso também não quer um governo de bloco central, já que o seu ponto de partida é a crítica às políticas de austeridade. Este discurso recorda-me Vasco Gonçalves, o saudoso companheiro Vasco, que após as eleições de Abril de 1975 garantiu que não podia permitir que fossem perdidas nas urnas as conquistas revolucionárias tão duramente obtidas pelo povo português.

 

Os apoios de Sampaio da Nóvoa são inteiramente justificados. Da mesma forma que o candidato considera aqueles momentos dos anos revolucionários os mais importantes da sua vida, quando tinha a sensação de que tudo era possível, os seus apoiantes aspiram também pelo regresso a esses tempos heróicos. Se calhar também já estou afectado pelos discursos de Sampaio da Nóvoa, pois só recordo a propósito uma citação do poema de Casimiro de Abreu, As Primaveras, de 1859: "Oh! que saudades que eu tenho/ Da aurora da minha vida/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais!/ Que amor, que sonhos, que flores/ Naquelas tardes fagueiras/ À sombra das bananeiras/ Debaixo dos laranjais!". Mas o problema é que Sampaio de Nóvoa também defende a não assinatura do Acordo de Parceria Transatlântica para o Comércio, um referendo aos tratados europeus e a renegociação da dívida até ao limite do possível. Parece-me por isso que ele e os seus apoiantes vão ter um duro choque com a realidade. Tão duro que provavelmente acabarão mas é a cantar o Que reste t'il de nos amours?, de Charles Trenet.

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publicado por Luís Menezes Leitão às 14:57





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